terça-feira, 12 de novembro de 2013

Educação integral: Jovens relatam como retomaram a motivação de continuar na escola

“A agente estuda porque gosta”, diz André Techemeyer, 15 anos. “Os professores mostram que somos capazes”, relata Rosilene Xavier, da mesma idade. “O Trajetórias Criativas cria jovens que correm atrás de sonhos”, salienta Samuel Carvalho, 16. A novidade nas afirmações é que, depois de repetir uma ou duas vezes alguma série do ensino fundamental, esses jovens estão na véspera de ingressar no ensino médio. O caminho que encontraram foi a experiência Trajetórias Criativas, desenvolvida em 12 escolas públicas em Alvorada e em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Nas duas cidades, 1.265 alunos participam do projeto.

Rosilene, Samuel e André participam, em Brasília, do seminário Política de Adequação Idade–Ano Escolar para Jovens de 15 a 17 anos Retidos no Ensino Fundamental no Âmbito do Programa Mais Educação. Eles e outros 30 estudantes de sete estados vieram à capital federal contar como currículos criativos podem modificar a vida daqueles que estavam desistindo da escola. Além de falar, os alunos documentam o evento.

São essas experiências que o Ministério da Educação quer mostrar às redes de ensino que participam do programa Mais Educação. Segundo dados do Censo Escolar do ano passado, 3,1 milhões de jovens de 15 a 17 anos estão retidos no ensino fundamental por sucessivas repetências. Outros 1,6 milhão na mesma faixa etária estão fora da escola, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostragem em Domicílio (Pnad) de 2011.

O seminário, promovido pelo MEC, reúne coordenadores do programa Mais Educação dos 26 estados e suas capitais e do Distrito Federal, universidades públicas, professores e estudantes do ensino fundamental com idade de 15 a 17 anos.

Caminhada — O estudante André, de Alvorada, contou no seminário que entrou na escola aos oito anos de idade, repetiu o terceiro ano e, aos 10 anos, achava chato estudar. Esse desânimo inicial contrasta com o entusiasmo de hoje na experiência Trajetórias Criativas.  “Em vez de provas, temos trabalhos em grupo, e as pesquisas científicas são motivadoras”, garantiu, a uma plateia de 200 educadores e colegas que participam de outros tipos de projetos em escolas de sete estados. “Eu me transformei numa pessoa crítica.”

Rosilene, que estuda em Porto Alegre, revela que se considerava pouco inteligente. “Eu me sentia ‘burra’ e comecei a rodar (repetir a série)”, afirmou. “Eu dizia para mim: ‘Não posso, não sei’.”

Ao chegar ao projeto Trajetórias Criativas, a estudante encontrou um ambiente motivador. “Lá, os professores têm paciência. É o mesmo que viver numa família. As aulas são diferentes, não precisa copiar do quadro”, concluiu, aplaudida pelos educadores.

Samuel entrou na experiência a convite de um colega, depois de repetir o sexto e o sétimo anos. “Eu tinha dificuldades; ia pra escola por brincadeira”, afirmou. Hoje, ele diz ter a grande oportunidade de seguir estudando. “Espero um acolhimento no ensino médio, no próximo ano, igual ao que tenho hoje.”

Em 2014, a experiência Trajetórias Criativas será ampliada. De 12 escolas em duas cidades, passará a 30 em dez municípios. O projeto compreende várias etapas, mas o forte é o planejamento — semanal, quinzenal e mensal — feito em conjunto pelos professores. Todas as disciplinas têm a mesma carga horária, a iniciação científica faz parte da rotina das turmas, a alfabetização digital e audiovisual e as oficinas estão no núcleo de estudos. Além disso, saídas pedagógicas são planejadas para ampliar a visão de mundo dos estudantes.

A professora de matemática Aline Formentin, de Alvorada, diz que a missão dos educadores que estão na escola e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), parceira da iniciativa, é resgatar os jovens, os professores e a família para um ensino motivador, que valorize a pessoa humana. “Em 11 anos de profissão, nunca tive a família dos alunos tão perto”, diz Aline.

seminário segue até quarta-feira, 12, na sede do Conselho Nacional de Educação (CNE), em Brasília. Serão apresentados projetos desenvolvidos em Campo Grande, Natal, Salvador, Maceió, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Ionice Lorenzoni

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http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=19238

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