Resumo
Magda Becker Soares é uma das maiores autoridades no Brasil na área de alfabetização e letramento. Professora titular emérita aposentada da Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Magda tem diversos livros publicados, sendo referência obrigatória para docentes e pesquisadores que trabalham com o tema do ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. Em uma conversa descontraída, Magda aborda as motivações para a produção do livro, seu processo de escrita e pesquisa, suas experiências como consultora da rede municipal de educação do município de Lagoa Santa (MG), em que atua na formação de professores, sua visão sobre temas polêmicos relacionados à alfabetização e à história da alfabetização no Brasil, além de compartilhar um pouco de sua história de vida.
CADERNOS CENPEC – Magda, e sobre essas polêmicas todas no Brasil hoje
em relação aos gestores, particularmente aos gestores que se encantam com
soluções mágicas que chegam para eles – o que você diria sobre isso? O
que se poderia dizer às pessoas que formulam políticas para alfabetização
e acreditam firmemente que um método vai resolver todos os problemas da
alfabetização? O que você diria para que não pensem que o que você escreveu
é um método?
MAGDA SOARES – Eu já não sei o que a gente tem de fazer neste país, viu?
Adotam-se projetos e métodos por critérios outros que não o critério da
fundamentação teórica. Nas situações em que eu aceitei falar para gestores,
não abordei teorias. Sempre achei que o caminho era falar sobre o projeto de Lagoa Santa. E, com base no projeto, mostrar o que é alfabetizar por
meio da comprovação pelos resultados. Então mostro como é o processo de
aprendizagem da língua escrita e como agir para chegar ao sucesso, como
trabalhamos e o que trabalhamos em cada situação. Mas confesso que ando
muito decepcionada com os gestores neste país. Prefeitos, secretários de
educação, MEC, que propõem a cada mandato projetos que não consideram
o passado, que não consideram fundamentos em que o proposto se baseie.
Intervenções, uma depois de outra, sem que se veja real avanço na qualidade
do ensino e da aprendizagem. Não sei qual seria a solução. Estou convicta de
que o caminho, embora longo, seja atuar sobre a formação inicial dos futuros
alfabetizadores. O que se tem proposto como formação continuada tenta
continuar uma formação que não existiu antes... continuar o quê? Mas isso
significa mudar o currículo dos cursos de Pedagogia, o que se tem tentado
ao longo de anos sem sucesso, ou então, quem sabe, ser criado um curso
específico para formação de alfabetizadores.