O Brasil vem melhorando no campo da educação, mas numa velocidade aquém do desejável. A avaliação é do diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. Em artigo exclusivo publicado no jornal Correio Braziliense, Ramos cita os principais destaques do relatório recentemente divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), chamado “Education on a Glance”, que trouxe alguns dados sobre a realidade da educação brasileira.
O diretor menciona, por exemplo, que o gasto público total do País em educação avançou entre 2000 e 2011. Foi a nação cujo gasto mais cresceu entre todos os pesquisados, saltando de 3,5% para 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Por outro lado, ele cita que, ao olhar os números com base no custo por aluno, a situação se inverte. Segundo o texto, o Brasil gasta US$ 2.985, bem abaixo do que fazem os países da OCDE, que aplicam U$ 8.952 por aluno por ano.
“Isso decorre, em grande parte, da baixa eficiência do sistema educacional; a reprovação, o abandono escolar e a distorção idade-série são muito elevados quando comparados com os dos países da OCDE”, avalia o diretor.
Confira o artigo na íntegra:
Educação: mais eficiência e mais foco
O recente relatório Education at a Glance 2014: OECD Indicators traz informações relevantes sobre a estrutura, o financiamento e o desempenho de vários sistemas educacionais ao redor do mundo, incluindo o Brasil.
Chama a atenção, no caso do Brasil, o crescimento do gasto público total em educação entre 2000 e 2011. Foi o país cujo gasto mais cresceu entre todos os pesquisados, saltando de 3,5% para 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso equivale a 19% do total de gasto público, bem acima da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que foi de 13%. Por seu lado, olhando os números com base no custo por aluno, a situação se inverte.
O Brasil gasta US$ 2.985, bem abaixo do que fazem os países da OCDE, que aplicam U$ 8.952 por aluno por ano. Com base na referência custo por aluno, o Brasil é o segundo que menos investe. Isso decorre, em grande parte, da baixa eficiência do sistema educacional; a reprovação, o abandono escolar e a distorção idade-série são muito elevados quando comparados com os dos países da OCDE. Não se pode também esquecer o baixo desempenho escolar dos alunos brasileiros quando comparado com o dos estudantes dos países da OCDE, levando-se em conta os resultados do Pisa.
Fato que também chama a atenção é a redução gradual da diferença de investimento no aluno do ensino superior quando comparado com o do ensino fundamental. Hoje, o gasto por aluno do ensino superior é quatro vezes maior do que o praticado no ensino fundamental, mas a diferença já foi bem maior. Em 2000, a proporção era de 11 vezes!
No que se refere às taxas de matrícula, o Brasil vem em parte fazendo o dever de casa, em particular na pré-escola, que inclui crianças de 4 e 5 anos de idade. De 2005 para 2012, a taxa das crianças de 4 anos cresceu de 37% para 61%, e a de 5 anos saltou de 63% para 83%. O problema é que, de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil deve universalizar, até 2016, a oferta de matrículas na pré-escola. E, apesar do crescimento verificado, será muito difícil o país alcançar a universalização daqui a dois anos. A taxa de matrícula na pré-escola, em 2012, agregando as duas idades, é de 82,2%. Isso significa que, mal o PNE foi aprovado, o país já vai precisar rever a primeira das 20 metas do plano.
Outra informação que nos chama a atenção é o grande impacto do fator educação no rendimento salarial dos trabalhadores quando comparado ao que ocorre nos países da OCDE. Por exemplo, os adultos com educação de nível superior ganham 2,5 vezes mais do que os que cursaram o nível médio; na OCDE, esse fator é de apenas 1,6.
Ainda nesse contexto, o rendimento salarial dos brasileiros sem educação de nível médio é 42% menor que o dos que têm o diploma desse nível. Comparando os rendimentos salariais relativos a cada gênero no Brasil, as mulheres ganham, em média, 63% menos do que os homens de mesmo nível educacional. Na OCDE, o percentual é de 73%.
Fica também evidente, no relatório da OCDE, quanto o país precisa avançar na internacionalização do ensino. O Brasil tem o menor percentual de alunos estrangeiros cursando suas universidades: menos de 0,5% do total de matrículas do ensino superior. E mais: desse pequeno contingente de estudantes estrangeiros, 27% vêm de países de língua portuguesa. Isso é resultado da baixíssima oferta, por parte das nossas universidades, de disciplinas e cursos em língua estrangeira, em especial a inglesa.
Em resumo, o relatório mostra que, de fato, o Brasil vem melhorando no campo da educação, mas numa velocidade aquém do desejável. É preciso que os novos recursos aplicados nesse campo cheguem à escola, ou seja, sejam gastos com mais eficiência e mais foco.
http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna/home/noticias_interna.asp?cod_Noticia=728