quarta-feira, 6 de março de 2019

Aluno de Escola Estadual de Nova Monte Verde entra para curso de Direito da USP em primeiro lugar

Jovem que costumava estudar debaixo de um pé de manga, no quintal de casa, também alcançou vaga nas renomadas Fuvest, Unesp e Unicamp.
Adilson Rosa Seduc MT 
Rafael saiu de Nova Monte Verde para ser o primeiro colocado em Direito na USP - Foto por: Arquivo Pessoal


A perspectiva de muitos jovens em chegar a uma universidade pública é sempre balizada pela força de vontade, determinação e principalmente esforço. Entrar para a Universidade de São Paulo (USP) e ainda em primeiro lugar para o curso de Direito é o sonho de muitos, mas realidade de poucos.  O estudante Rafael Pinheiro de Matos Cardoso, 18 anos, entra nessa seleta lista e com um detalhe que valoriza o seu empenho - concluiu o ensino médio numa escola pública em Nova Monte Verde (a 968 quilômetros ao norte de Cuiabá).
Na semana passada, quando iniciaram as aulas na universidade, o adolescente se fixou no Largo do São Francisco, no centro de São Paulo, onde está localizada a USP, para começar uma nova e importante etapa na sua vida. “Se conquistei alguma coisa, foi graças a minha fé em Deus e meu esforço pessoal, que teve um papel fundamental. Porque de nada adianta se você tem ótimos professores e uma escola com excelente estrutura, mas não se dedica”, destaca Rafael.
Rafael ressalta que nunca frequentou cursinho pré-vestibular. Para se tornar um craque nos estudos, ele disse ter facilidade em aprender sozinho. Ele explica que se dedicou muito aos estudos, aproveitando domingos e feriados para estudar. “Não tinha tempo para outras atividades. A dedicação e esforço pessoal é contínua e tem um papel importante, mas não são os únicos fatores do sucesso”, observa.
Ele lembra que cresceu numa família que o motivou a estudar, o que teve um papel primário. Os pais sempre o incentivaram no hábito da leitura. “A leitura é tudo. Se você não tem o hábito de ler, terá dificuldade em tudo”, conta o rapaz, lembrando que costumava estudar embaixo de uma mangueira, no quintal de sua casa em Nova Monte Verde.
Para Rafael, o apoio da família o ajudou muito, assim como dos professores que sempre se dispuseram em tirar dúvidas. “Sempre ficava na escola no contraturno e aproveitava para tirar dúvidas com os professores”.
Planejamento
No período do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Rafael se planejava para estudar montando um cronograma. Para isso, fazia um estudo sistemático. Com isso, conseguia dominar o conteúdo. “Se você fizer as coisas só na hora que tiver vontade, não vai ter sucesso. É preciso ter disciplina”.
A vida universitária de Rafael começou em 2017, quando passou para o curso de Física na própria USP. Ele explica que pelo Enem conquistou vagas também para cursos na Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), para Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Ele explica que cursar Direito na USP, considerada na melhor universidade pública do país e a segunda melhor da América Latina, não foi exatamente um sonho, mas surgiu como uma possibilidade que depois se concretizou. “Foi uma grande surpresa meu nome aparecer no topo da lista. Sabia que teria uma nota boa, mas não imaginava que sairia tão bem”.
Escola Pública
Rafael estudou desde o 9º ano, na Escola Estadual Neide Enara Sima, em Nova Monte Verde. Para o pai de Rafael, o professor Joaquim Cardoso, além do esforço e dedicação do filho, outro ingrediente importante é o fato dele ter estudado o ensino fundamental e médio numa escola pública.  “Isso comprova que a escola pública tem muita coisa boa”, comemora. 
http://www2.seduc.mt.gov.br/

Cuiabá adota método de alfabetização usado com sucesso no Ceará

Estado nordestino é destaque nacional no Ideb e seu material didático começa ser usado na rede municipal da Capital


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Laura Nabuco
lauranbranco@gmail.com
Foto: Jorge Pinho
Parte do método de alfabetização que colocou 77 escolas públicas do Ceará entre as 100 melhores do país – segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2016 – começou a ser implantado em Cuiabá. E a expectativa da Secretaria Municipal de Educação (SME) é grande: ver o resultado ainda neste ano, mais ou menos em outubro, quando a Prova Brasil deve ser aplicada, segundo previsão do Ministério da Educação (MEC).
O foco é a alfabetização e, se o método funcionar como funcionou no Estado nordestino, os alunos da rede municipal devem sair do 2º ano da educação básica, aproximadamente aos 7 anos de idade, sabendo ler e escrever perfeitamente.
Hoje, de acordo com um levantamento contratado pela própria Prefeitura de Cuiabá, só 30% dos alunos chegam ao 2º ano sabendo tudo o que se espera que eles saibam.
“O aluno do 1º ano já deveria saber escrever seu nome completo, mas sabia escrever só o primeiro nome. Então, se ele tem três nomes, estava com uma defasagem de dois terços de aprendizagem. Isso é uma catástrofe”, diz o técnico da Diretoria de Ensino da SME, Gilberto Fraga de Melo.
Segundo ele, das 44 escolas municipais de Cuiabá que participaram da última Prova Brasil, 20 conseguiram a nota mínima (200 pontos) que, conforme os critérios do MEC, indica que os alunos estão alfabetizados. A média atingida pela Capital em 2017 foi de 206 pontos, um resultado melhor do que em 2015, quando conseguiu 199.
O professor Gilberto destaca, no entanto, que essa média só chegou a esse patamar porque Cuiabá vive extremos. A primeira colocada atingiu 260 pontos, enquanto a última obteve 173 pontos como nota no ensino do português.
“Uma escola que está com 260 pontos está contribuindo, significativamente, para tirar algumas das que não atingiram a nota mínima, quando fazemos uma média”, destaca Gilberto, segundo quem o objetivo da Secretaria é atingir um equilíbrio entre as escolas mantidas pela prefeitura.
Boa parte do método que começou a ser aplicado em Cuiabá consiste em um material didático específico. É o mesmo que foi usado em Sobral, município cearense que primeiro e mais se destacou quando o Estado começou sua evolução no quesito educação.
Secretária-adjunta de Educação: Edilene Machado diz que trabalho começou em 2018, com avaliação do nível em que estavam as crianças (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)
Mas, mais do que um material para os alunos, trata-se de uma capacitação para os professores. É o que afirma a secretária-adjunta Edilene Machado, segundo quem a base da proposta é fazer com que os profissionais da educação consigam organizar a rotina e o tempo dos alunos em sala de aula.
“É como se fosse uma aula, realmente, para o professor”, ela diz, completando que todos os efetivos da rede municipal de educação básica já passaram pela primeira etapa da capacitação. Os próximos serão os contratados. Depois disso, todos devem seguir juntos novas fases, que vão se estender até o final no ano.
A proposta é que, com disciplina – principalmente, por parte do professor, já que ela acaba se estendendo ao aluno – haja mais efetividade no tempo de ensino das crianças. Segundo o professor Gilberto, das 4h diárias que um aluno passa em uma sala de aula em Cuiabá, hoje, só 2h30 são de efetiva transmissão de conhecimento.
“O material impede o desvio e desperdício de tempo, porque o professor recebe um material semi-estruturado e tem que seguir aquilo. Ele inicia a aula sabendo que tem que trabalhar aquele conteúdo naquele dia, porque aquilo antecede o que precisa ser trabalhado no dia seguinte”, detalha Gilberto.

Português para entender matemática

Edilene Machado afirma que, embora a base do método que começou a ser implantado em Cuiabá seja o material didático criado em Sobral, o Programa de Alfabetização Cuiabana (Proac) é uma criação da própria Secretaria Municipal de Educação.
E se o foco nesse primeiro ano é alfabetizar mais de 12 mil alunos, espalhados por 74 escolas, a expectativa é bem maior é que apenas isso. A SME espera que o trabalho surta reflexos também nas notas da avaliação de matemática da Prova Brasil, ainda que não de imediato.
Segundo o professor Gilberto Fraga de Melo, “uma vez alfabetizado, o aluno tem garantia de aprendizado nos próximos anos” (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)
O professor Gilberto afirma que a relação de uma disciplina com a outra é óbvia: se o aluno não sabe ler e interpretar o problema matemático, não vai conseguir solucioná-lo. Ainda assim, segundo ele, há uma previsão de que material didático específico para essa disciplina também seja adquirido a partir do ano que vem.
“Isso tem a ver com o resultado que vamos obter agora e com uma disponibilidade financeira”, pontua, lembrando que o valor investido pelo município nesse novo sistema tem potencial para valer mais a pena do que o montante que é gasto quando um aluno fica retido no 3º ano porque não aprendeu tudo que era necessário.

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Declaração para um novo ano

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