sábado, 22 de fevereiro de 2014

Enchente de 74: 6 bairros destruídos, 5 mil desabrigados e 40 anos de história

Em 1974, o nível do principal curso d’água que banha a capital chegou a 10,80 m, cerca de 20 cm a mais do que a enchente de 1942

NELSON SEVERINO 




Em março próximo completa 40 anos que a mais devastadora das enchentes já causadas pelo Rio Cuiabá na área metropolitana da capital dizimou vários bairros no trecho entre o atual Camelódromo e a Unic – o Terceiro, o Terceiro de Dentro e o Terceiro de Fora, Várzea Ana Poupino e Barcelos – e causou também estragos nas partes mais baixas de Morro do Tambor e do bairro Lagoa, que ficava do outro lado da Avenida 15 de Novembro, aonde as águas chegaram até a Igreja São Gonçalo.

Antes da inundação de 1974 foram registradas outras duas grandes enchentes causadas pelo Rio Cuiabá que afetaram a capital: as de 1942 e 1959. Mas nenhuma causou tantos problemas à população cuiabana como a de 1974, quando o nível do principal curso d’água que banha a capital chegou a 10,80 m, 20 cm a mais do que a de 1942.


Aníbal Alencastro
Enchente de 1974; Cuiabá ficou coberta por água
A consequência das cheias, agravadas pelo refluxo das águas de três riachos, hoje encobertos, que corriam a céu aberto no trecho inundado, incluindo o maior deles, o Boca do Valo, e que desaguavam no Rio Cuiabá, foi desastrosa: muitas casas, principalmente de adobe e pau a pique, foram destruídas, deixando cerca de cinco mil pessoas desabrigadas.

Lembra o radialista, professor universitário e administrador de empresas, já aposentado, e historiador William Gomes – que tinha familiares no Terceiro – que a enchente daquele ano teve dois aspectos dramáticos: primeiro foi o alojamento das vítimas na casa de parentes, escolas, igrejas, clubes, barracões, Estádio Presidente Dutra, instituições públicas, etc.; segundo, a demolição dos bairros, feita na força bruta, com a utilização da maquinaria pesada do extinto Departamento de Estrada de Rodagem de Mato Grosso – Dermat e aparato policial.

Nem bem as águas do Cuiabá baixaram e os moradores dos bairros começaram a tentar voltar aos seus lotes para limpar suas casas e reconstruir ou reformar o que havia restado delas, quando, dia 19 de março, foram pegos de surpresa pela ordem de despejo do Governo do Estado, sob o comando de José Maria Fontanillas Fragelli, que havia desapropriado em caráter de emergência a grande área abrangida pelos bairros afetados pelas cheias e que haviam surgido de invasões, algumas delas incentivadas por políticos.

Aníbal Alencastro
Em 1974, o nível do principal curso d’água que banha a capital chegou a 10,80 m, 20 cm a mais do que a de 1942.
Quem já estava dentro de casa e relutava em sair por bem, antes que as máquinas do Dermat iniciassem a demolição, era retirado à força. Até o Exército foi mobilizado para participar do cerco a área para impedir o retorno da família aos seus imóveis.Surpreendido pela decisão de Fragelli e preocupado com o problema social que a transferência de tantas famílias para outros locais fatalmente iria gerar, o então prefeito José Vilanova Torres, já falecido, tentou contornar a situação, mas não teve jeito: o governo não reconsiderou a decisão.

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