domingo, 22 de fevereiro de 2015

Aos 24 anos, indígena Umutina é o 1º a ingressar em mestrado na UFSCar

Lennon Ferreira Corezomaé busca ajudar sua aldeia por meio dos estudos.
Ele foi o 1º indígena a concluir o curso de Educação Física na universidade.


Orlando Duarte NetoDo G1 São Carlos e Araraquara
Lennon Corezomaé será o primeiro indígena a cursar mestrado na UFSCar (Foto: Lidiane Volpi/UFSCar)

Aos 24 anos, o estudante Lennon Ferreira Corezomaé será o primeiro estudante indígena a cursar um mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ele também foi o primeiro indígena a concluir o curso de Licenciatura em Educação Física na universidade, sendo aprovado logo em seguida para uma pós-graduação em Educação. De origem humilde, o rapaz busca ajudar a questão indígena, sem perder suas raízes por conta de sua vivência nos centros urbanos. Sua pesquisa, intitulada ‘Escola Indígena: compreendendo os processos educativos relacionados à afirmação da identidade Umutina’ tem como objetivo entender, a partir do olhar de seu povo, a valorização da identidade transmitida pelas aulas.

Da etnia Umutina Bala Tiponé, o jovem é filho mestiço de pai indígena e mãe não-indígena e nasceu em uma aldeia na região centro-oeste do Mato Grosso, a 180 quilômetros de Cuiabá (MT). “Minha mãe não é indígena, mas está muito ligada às aldeias. Ela é professora e por isso acabei indo morar em lugares muito distintos. Quando ela deu aulas no Maranhão, em outra aldeia indígena, acompanhei ainda pequeno. Em seguida, fomos para uma aldeia no Mato Grosso e ficamos lá por algum tempo. Depois, morei em Rondonópolis e estudei em uma escola pública municipal até voltar para a minha aldeia e terminar os estudos em casa”, relatou.
Estudante de São Carlos pretende levar conhecimento para sua aldeia (Foto: Orlando Duarte Neto/G1)Estudante pretende levar conhecimento para sua
aldeia (Foto: Orlando Duarte Neto/G1)
Lennon explicou que, a partir de sua trajetória, passou a compreender melhor a importância da identidade Umutina e como a escola indígena a constrói. “Há uma forte relação da escola com a identidade e por meio do meu projeto de mestrado vou estudar esse elo. A nossa escola, a Escola Indígena Jula Paré, é uma das poucas que possui um projeto político e pedagógico. Minha intenção agora é a de descobrir o que é importante para a formação dessa identidade e, a partir disso, pensar em projetos para outras escolas indígenas, quem sabe”, disse.

Indígenas
O estudante relatou que sua maior vontade é a de ajudar a questão indígena e, acima de tudo, levar inspiração para quem deseja seguir o mesmo caminho trilhado por ele. “Se meu projeto der certo, posso acabar influenciando em algo que ajude a nossa causa ou até abra algum caminho. Minha ideia é pegar o conhecimento e levá-lo de volta para a tribo. Além de organizar outras escolas indígenas, também podemos aprender sobre o que somos capazes de melhorar na nossa. Pretendo incentivar, pois também fui incentivado. Todos nossos professores da aldeia são indígenas e passaram por uma formação", contou.
"A maioria dos nossos docentes teve formação com projetos de magistério para indígenas e sempre nos incentivaram a fazer uma graduação. Tenho dois tios que são professores e me contaram sobre as dificuldades de ser um indígena em cursos assim. Mesmo assim, afirmaram que para eles foi muito gratificante, pois puderam levar conhecimento para a aldeia, o que mudou totalmente nossa rotina”, pontuou.
“Temos que saber levar, não é chegar levando o conhecimento do não-indígena e querer mudar tudo. Por isso, acho importante mantermos o contato com a aldeia. O nosso pensamento aqui pode não ser o mesmo pensamento de lá, pois tivemos contato com outra realidade e pensamos de forma diferente. Temos que observar e ouvir o que querem de nós para melhorarmos nossa vida. Não tenho essa intenção de mudar as coisas, pois a partir desse conhecimento que adquirimos, conseguimos nos manter de uma forma melhor. Por exemplo, no caso de uma lei nova, podemos interpretá-la nós mesmos, e não depender de terceiros”, avaliou.

Conquista e dificuldades
Sobre o ingresso no curso de mestrado, o indígena afirma que ficou muito feliz, pois a vitória também pertence a outras pessoas. “Eu sabia que era possível, tive receio, mas muitas pessoas me apoiaram durante a graduação e pude aprender muito. Quando vi meu nome como aprovado, pensei nisso como uma conquista de muita gente, desde meu povo até os amigos e professores daqui que me ajudaram nesse caminho. As pessoas que trilharam essa história antes de nós também incentivam. Esse talvez seja o meu maior legado, pois as pessoas podem ter um impulso ao conhecerem minha trajetória. Mesmo que eu não faça nada, apenas o fato de eu ter passado para o mestrado pode impulsionar alguém”, ponderou.
Jovem indígena relatou sua trajetória na UFSCar em São Carlos (Foto: Orlando Duarte Neto/G1)Jovem indígena relatou sua trajetória na UFSCar
(Foto: Orlando Duarte Neto/G1)
De acordo com o jovem, no entanto, dificuldades também surgiram durante a mudança da aldeia para cidade. “Sair de casa já é difícil. O pessoal da aldeia acha distante e não sabe o que a gente vem fazer aqui e o que pode sair disso. Os mais velhos não entendem o conhecimento que podemos levar, então é difícil virmos para cá. Viemos, mas a saudade no começo é muito forte. O tempo de vida é muito diferente, pois aqui é muito acelerado, as pessoas fazem as coisas rápido. Até na questão de conversas, as pessoas já respondem com rapidez. Na aldeia temos um tempo nosso, diferente. No começo também houve a questão da leitura e da escrita, mas uma professora ajudou bastante com um curso voltado para indígenas. Alguns de nós tem problemas com moradia, alimento, mas para mim foram apenas essas as dificuldades”, completou.

De acordo com Lennon, sua conquista deixa evidente a importância das políticas de ações afirmativas no Ensino Superior, que ajudam que indígenas e não-indígenas aprendam entre si e troquem conhecimentos. “Quando as pessoas olham para nós, indígenas, existem vários tipos de olhares. Tem o olhar de interesse, o de curiosidade, o de espantamento e o de estranheza também. Cada um reage de uma maneira, mas posso dizer que nunca fui vítima de preconceito durante o tempo em que estive na universidade. Se fizeram algo, foi muito implícito. Outros indígenas vieram da minha aldeia, mas no caso deles não posso afirmar que tenha sido da mesma maneira”, falou.
Mesmo que queira ser outra pessoa, sou um indígena e tenho orgulho disso"
Lennon Ferreira Corezomaé
Cultura
Por estar inserido em outra cultura, o jovem e seus companheiros de aldeia fazem o máximo para não se esquecerem das tradições e, principalmente, da cultura de seu povo. “Entre nós, tentamos falar o idioma próprio da aldeia para não perdermos a prática, além de cantarmos músicas e fazermos outras atividades ligadas à nossa cultura. Isso tudo acontece apenas quando estamos com outros indígenas. Já na questão da pintura e os adornos, sempre tentamos manter alguma coisa. Eu acho bonito, mas podemos ser discriminados também, pois muita gente acha estranho. Em qualquer etnia, os adornos são utilizados para festas e comemorações, mas alguns podem ser utilizados no dia a dia. A formatura para mim foi uma situação de festa e de batalha, por isso usei acessórios indígenas ao invés da beca tradicional”, comentou o estudante.

A respeito do distanciamento da mentalidade adquirida nos últimos anos em relação ao modo de funcionamento da aldeia, Lennon afirma que não será influenciado. “Não tenho medo de perder as tradições, pois nunca me distanciei de lá. Sempre visito no meio e no fim do ano, para não perder o modo de pensar e o contato. Nunca vou deixar de ser um Umutina. Talvez não nos pintemos mais e não usemos os adornos como sempre, mas sabemos fazer e sabemos o significado de tudo isso. Uma pessoa olha para mim e sabe que sou um índio. Mesmo que queira ser outra pessoa, sou um indígena e tenho orgulho disso”, comentou.
Lennon, a mulher Tainara e o filho em São Carlos (Foto: Orlando Duarte Neto/G1)Lennon, a mulher Tainara e o filho em São Carlos
(Foto: Orlando Duarte Neto/G1)
Família
Casado, Lennon explica que ele e a mulher vieram juntos da aldeia e desde então dividem uma casa na cidade de São Carlos. Ambos estão certos de que vão voltar para casa assim que concluírem os estudos. “Em dois anos vamos terminar de estudar e voltamos para casa. Ela vai concluir o curso de biblioteconomia e eu vou ter terminado meu mestrado. Vamos sair juntos, pois viemos juntos. Ela foi minha companheira durante toda a trajetória”, comentou.

Do casamento, veio o primeiro filho do casal, hoje com três meses. O estudante explica que já tem planos para o filho, mas apenas o amadurecimento da criança é que fará com que se concretizem. “Minha vontade é que ele cresça na aldeia, mas quando crescer só ele pode decidir os passos dele. Quero que ele estude, faça o ensino médio e, se quiser, faça a graduação. Se ele preferir defender a cultura fortemente, ser uma liderança indígena, tudo bem. O que ele desejar e quiser fazer de coração, vamos aceitar”, finalizou.

http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2015/02/aos-24-anos-indigena-umutina-e-o-1-ingressar-em-mestrado-na-ufscar.html

MPE investiga falta de bibliotecas

JOANICE DE DEUS
Da Reportagem

O Ministério Público do Estado (MPE) abriu inquérito para apurar suposta ausência de bibliotecas e de profissionais habilitados na área nas escolas da rede municipal de Cuiabá. Procedimentos semelhantes também já foram ou serão adotados em relação às unidades do Estado, da rede privada e universidades.

No inquérito, o promotor de Justiça Sérgio Silva da Costa justifica que todas as instituições de ensino públicas e privadas devem contar com bibliotecas, que obrigatoriamente devem possuir acervo de livros de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado, além de profissionais formados em Biblioteconomia para administrar, organizar e executar os serviços de documentação, classificação e catalogação dos livros.

Conforme Sérgio da Costa, a falta do espaço e do bibliotecário ferem normas, como a Lei federal 12.244/2010, que prevê a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país, e a 4.084/1962, que dispõe sobre a profissão de bibliotecário e regula seu exercício.

No inquérito, o promotor destaca que o artigo 3º da Lei 12.244 diz que “os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços para que a universalização das bibliotecas escolares seja efetivada num prazo máximo de 10 anos, respeitada a profissão de bibliotecário”.

De acordo com Costa, a abertura do inquérito teve como referência um diagnóstico feito pelo MPE, a partir de uma consulta feita à Secretaria Municipal de Educação (SME), mostrando a necessidade das unidades possuírem espaços apropriados para discentes e docentes.

“A qualidade da educação pressupõe a oferta de ambientes adequados em sala de aula, mas também para as atividades extracurriculares, especialmente, as bibliotecas com acervo de livros disponíveis para que o aluno e o professor possam aprofundar os seus conhecimentos”, comentou.

Nesse contexto, Sérgio da Costa lembrou que também foram propostas investigações referentes ao Estado e às universidades, que vêm fazendo os ajustes necessários. O mesmo deve ocorrer em relação às unidades particulares, que ofertam os ensinos fundamental e médio.

Além de cobrar da SME um planejamento para resolução das irregularidades e oferta das bibliotecas, consequentemente, do acervo e da presença do profissional formado na área, o promotor solicitou diligências nas escolas para apurar “os prejuízos de suas ausências ao desenvolvimento pedagógico dos alunos”.

O MPE ainda aguarda para o fim deste mês ou início de março uma posição do órgão municipal de Educação.

Em nota, a Secretaria de Educação informou que a rede municipal possui 89 escolas de ensino fundamental e que, desse total, 21 possuem “bibliotecas totalmente equipadas conforme determina a lei, ou seja, um livro para cada aluno”. Pelo menos 44 unidades possuem acervo.

Ainda conforme a SME, a rede municipal tem 50 bibliotecários.

“Além das bibliotecas nas escolas, a rede municipal possui seis bibliotecas com um acervo de 75 mil exemplares. Essas unidades funcionam nas quatro regiões de Cuiabá e está disponível para atendimento da população”, diz a nota, que reforça ainda que há um prazo para que todas as escolas tenham biblioteca, que é o ano de 2020. 


http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=466875

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