Foram desmatadas quase 34 mil árvores apenas para a aplicação da Provinha Brasil
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Você acha que é só gente grande e poderosa que pode discutir o futuro do planeta? Pois a Mostratec Júnior prova justamente o contrário. Em sua quarta edição, o evento, que ocorre em paralelo à Mostratec – maior feira de ciência jovem da América Latina –, reúne diversos trabalhos científicos produzidos por estudantes do Ensino Fundamental (de 6 a 14 anos). E não é exagero dizer que, dentre os 113 projetos finalistas da Mostratec Júnior, grande parte trata de temas ligados ao futuro das cidades e do meio ambiente.
Localizada em Novo Hamburgo, a praça Ottomar Winck foi estudada por Adam, Luiz Felipe e João Gabriel, que estão no 6º ano da EMEF Ana Néri. Os alunos queriam debater a importância desses espaços públicos e entender quais equipamentos elas precisam fornecer para atrair os habitantes da região.
“Nossa cidade precisa de espaços de lazer, onde as crianças possam brincar, os adultos passear e os idosos descansar”, afirma Luiz Felipe. A pesquisa indica que vandalismo e falta de cuidado são os maiores desafios para a manutenção desses locais.
Já na zona rural de Novo Hamburgo, conhecer o bairro de Lomba Grande era o objetivo de Nayane, Élen e Eduarda, estudantes da 7ª série da EMEF Castro Alves. Elas produziram uma maquete da região e mapearam pontos como escolas, igrejas e casas de colegas. “Queremos que as pessoas conheçam o seu próprio bairro”, explicam.
As garotas pretendem buscar recursos para produzir um aplicativo no qual os moradores de Lomba Grande possam se conectar e, com isso, buscar melhorias para a comunidade. “Eu quero conhecer o mundo inteiro. Mas como, se eu não conheço nem o meu próprio bairro?”, questiona Élen.
A cidade de Esteio, localizada na região metropolitana de Porto Alegre, completa 60 anos no próximo dia 15 de dezembro. Entre a cidade que têm e a cidade que querem, Rafael, Julia, Gustavo e Melissa encontraram na mobilidade urbana do município um bom ponto de partida para delinear os próximos anos.
“Pensamos em um futuro com mais BRTs (Bus Rapid Transit) e ciclovias”, opina Rafael, ressaltando que, em 2002, a quantidade de automóveis em Esteio era de 25.436 – em 2012, esse número atingiu 40.219. “Praticamente dobrou. Por isso, também acreditamos que a criação de hidrovias pode melhorar a vida dos habitantes”, sugere Melissa. Os estudantes da CMEB Maria Lygia Andrade Haack defendem que o transporte público de Esteio seja “acessível, ecológico, democrático, rápido, barato e confortável”.
Meio ambiente: uma agenda urgente
“O nosso objetivo é sensibilizar as pessoas para cuidarem da água. Afinal,já estamos vendo ela acabar em várias cidades do Brasil” A frase, que poderia ter saído da boca de autoridades paulistas, é de Maria Eduarda, que com apenas 12 anos, desenvolve ao lado da colega Maysa o trabalho “Águas da minha cidade”.
Nele, as jovens estudaram os caminhos dos rios e as bacias hidrográficas da cidade de Campo Bom, vizinha à Novo Hamburgo (onde acontece a Mostratec). O sucesso foi tanto que as alunas daEMEF 25 de Julhoextrapolaram os muros da sala de aula e passaram a apresentar o projeto em outras escolas da região.
Em parceria com lideranças da comunidade onde a EMEF está inserida, as meninas promoveram a plantação de mudas nas margens do Rio dos Sinos. Além disso, criaram um jogo sobre o meio ambiente na plataforma livre Scratch e compartilharam com os amigos.
“As pessoas não estão se dando conta dos estragos que o ser humano está fazendo no meio ambiente”, analisa Maysa.
Desmatamento e agrotóxicos
Segundo os cálculos de Rafaela, que cursa o 3º ano na EMEF Dr. Rui Cirne Lima de Canoas (RS), em 2013, foram desmatadas quase 34 mil árvores apenas para a aplicação da Provinha Brasil. A avaliação, responsável por investigar as habilidades desenvolvidas em Português e Matemática por crianças matriculadas no 2º ano do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras, ainda teve um custo de R$ 51 milhões.
Por isso, a sugestão de Rafaela é que a prova deixe de ser presencial e se torne virtual. “Assim não precisamos de papel e, por consequência, teremos menos desmatamento. Ainda por cima, o teste pode ser feito de uma maneira que inclua deficientes visuais e auditivos”, defende.
Já a utilização de pesticidas na agricultura foi tratada por três garotas do 8º ano do Colégio Luterano Arthur Konrarth de Estância Velha (RS). As pesquisas de Jéssica, Julia e Poliana, constataram 200 tipos de agrotóxicos que não só modificam os alimentos, como causam problemas no coração, cérebro, fígado e nos sistemas cardiovascular e respiratório.
“Sabemos como é difícil combater o agrotóxico. Queremos promover uma consciência maior das pessoas quanto à sua presença”, afirma Julia, lembrando que 90% dos entrevistados na pesquisa não sabem quantos litros de agrotóxico ingerem por ano (a média no Brasil é de 4,5 litros per capita).