Há aprendizagens que não se apagam.
Aprendi a amar Manoel de Barros.
Sou feliz por isso.
Gilberto Fraga
......
Alguns trechos de sua sabedoria:
por bobagens.
Quando eu crescer eu vou ficar criança.
...
Uma rã se achava importante
Porque o rio passava nas suas margens.
...
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a vez de fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.
...
Poesia é voar fora da asa.
...
Eu queria crescer pra passarinho...
...
Com pedacinhos de mim eu monto um ser atônito.
...
Não é por me gavar
mas eu não tenho esplendor.
Sou referente pra ferrugem
mais do que pra fulgor.
Trabalho arduamente para fazer o que é desnecessário.
O que presta não tem confirmação,
o que não presta, tem.
Não serei mais um pobre-diabo que sofre de nobrezas.
Só as coisas rasteiras me celestam.
Eu tenho cacoete pra vadio.
As violetas me imensam.
...
Trechos de várias obras
In Manoel de Barros
Poesia Completa
Sp: Leya, 2010
...
Uma rã se achava importante
Porque o rio passava nas suas margens.
...
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a vez de fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.
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Poesia é voar fora da asa.
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Eu queria crescer pra passarinho...
...
Com pedacinhos de mim eu monto um ser atônito.
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Não é por me gavar
mas eu não tenho esplendor.
Sou referente pra ferrugem
mais do que pra fulgor.
Trabalho arduamente para fazer o que é desnecessário.
O que presta não tem confirmação,
o que não presta, tem.
Não serei mais um pobre-diabo que sofre de nobrezas.
Só as coisas rasteiras me celestam.
Eu tenho cacoete pra vadio.
As violetas me imensam.
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Trechos de várias obras
In Manoel de Barros
Poesia Completa
Sp: Leya, 2010