Henrique Lopes - Presidente do SINTEP - MT |
Marcela Machado
Reportagem Especial
Para atuar como professor da rede pública de ensino infantil e médio é estabelecido por lei que o profissional tenha licenciatura plena. “Mas infelizmente, por causa da carência de professores habilitados, na educação de Mato Grosso cabe de tudo. Na ausência, vale qualquer profissão”, afirma Henrique Lopes do Nascimento, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de MT (Sintep).
Ele exemplifica que um médico pode ser professor, mas um professor não pode ser um médico. Pondera que o Estado se vê obrigado a contratar de tudo, porque não pode desperdiçar mão de obra. “Essa é a realidade nua e crua”.
A Seduc, por sua vez, pontua que há programas de capacitação. Há dez diretrizes estabelecidas para o setor. A primeira delas é fortalecer e ampliar os Centros de Formação e Atualização dos Profissionais de Educação Básica de Mato Grosso (Cefapros). Conforme relatório apresentado pela pasta, em 2013, foram capacitados cerca de 12.201 profissionais, divididos no sistema voltado à educação indígena, quilombola, básica, prisional e ambiental (ver quadro).
A secretaria pondera ainda que deseja reconhecer a formação prévia dos professores e criar alternativas inovadoras na relação entre conhecimento das universidades e conhecimento das redes públicas. Nesse sentido, destaca que faz capacitação de forma permanente com ajuda do Cefapros, focando em todas as áreas, de ciências à convivência democrática e valores éticos.
Apesar disso, Henrique Lopes diz que 80% dos professores que conhece se capacitaram por conta própria porque não podem ficar dependendo do governo.
O presidente do Sintep comenta que, na verdade, os programas de capacitação existentes são os do governo federal em parceria com a Seduc, sendo o maior deles o Programa Nacional de Formação de Professores (Parfor). Em regime de colaboração com instituições de ensino superior, nele os profissionais conseguem até mesmo fazer uma segunda graduação. Há opção de estudo comum, com vestibular e diariamente vivenciar a faculdade, ou de estudo nos períodos de férias escolares.
Henrique Lopes acredita que isso é muito bom, mas que a discussão deve ir além: Se os profissionais que já estão na rede precisam de uma segunda graduação para cobrir áreas nas quais não há professores, isso significa que a profissão não é atrativa para os jovens, que se interessam cada vez menos pelo ramo. O sindicalista enfatiza que não há valorização, que os ambientes públicos estão depredados e que não há condições adequadas e nem acompanhamento. “Todos os professores têm jornada dupla para conseguirem pagar as contas, o que acarreta na queda da qualidade do ensino devido a cansaço e a problemas de saúde”, explica.
Força sindical
Em 2013 aconteceu a maior greve da história dos professores da rede pública. Os profissionais ficaram 67 dias sem trabalhar, numa das manifestações de maior adesão já vistas. A categoria aceitou a proposta do governo, que foi reformulada algumas vezes em outubro, um dia depois do Ministério Público intermediar reunião entre a Seduc e Sintep.
As reivindicações eram que o poder de compra da categoria fosse dobrado em sete anos, o pagamento da hora-atividade dos professores contratados de forma temporária, melhorias nas escolas e repasse de 35% do orçamento do Estado para a Educação. O Estado propôs aumento de 100% do salário em 10 anos, com início em maio deste ano e pagamento da hora-atividade em três anos, que o sindicato recusou três vezes. Depois te tentar parar a greve ameaçando cortar pontos e com outras medidas judiciais, o governo cedeu e prometeu que o aumento deve começar a ser pago em março. A hora-atividade, no entanto, vai ser paga em três vezes, mas com percentuais diferentes dos que foram apresentados anteriormente.
http://www.rdnews.com.br/materias-especiais/raio-x-da-educacao/programas-de-mt-nao-sao-suficientes-e-professores-se-capacitam-sozinhos/52367
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