sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Escolas em áreas vulneráveis atraem professores menos experientes, aponta estudo



Do Todos Pela Educação
Escolas públicas localizadas em regiões centrais e cujos alunos possuem maiores recursos culturais costumam receber professores com mais experiência e mais qualificados academicamente. Em contrapartida, as unidades de territórios mais vulneráveis tendem a atrair profissionais em início de carreira e, portanto, menos experientes. A conclusão é da pesquisa “Educação em Territórios de Alta Vulnerabilidade – Concorrência de professores por escolas”, realizada pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
A apresentação da pesquisa aconteceu durante o seminário "Desigualdades socioespaciais e escolares nas grandes cidades", organizado pelo centro no início de novembro, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. O objetivo do evento era discutir, a partir dos dados apresentados, políticas públicas que enfrentem o desafio da desigualdade na Educação.
A pesquisa analisou o processo de concorrência de professores por escolas municipais de São Paulo para entender o impacto que as desigualdades do território e a composição sociocultural do alunado têm na escolha de um professor na hora de selecionar as escolas onde pretende lecionar. Os dados de remoção de docentes efetivados foram coletados do Diário Oficial da capital paulista, uma vez que as informações oficiais não estão disponíveis. Foram analisados os dados de 23 escolas de Ensino Fundamental I de São Miguel paulista, zona leste, juntamente ao Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) do entorno das escolas e ao chamado Índice de Heterogeneidade (IH) das unidades, construído pelos pesquisadores com base nos recursos culturais homogêneos dos alunos.
 Os dados revelam que a Subprefeitura de São Miguel Paulista perde professores que acumularam maior capital profissional e ganha aqueles com menor capital. Além disso, os docentes com as piores classificações no concurso de entrada da rede ingressam, em sua grande maioria, em escolas de áreas mais vulneráveis e que concentram alunos com baixos recursos culturais. Na análise da pesquisa, a região perdeu 228 professores e ganhou 157 – um saldo negativo de -72, quase três professores por escola.
A análise de remoções de escolas agrupadas em três categorias de acordo com IPVS e IH revela que a maioria dos professores que atuam em áreas mais vulneráveis se transfere para áreas menos vulneráveis.
“Isso estimula a contratação precária e a vinda de novo professores, não tão experientes assim”, explica Luciana Alves, uma das autoras da pesquisa. “A não reposição não marca a região como um todo: ela é mais alta nas áreas de vulnerabilidade alta e média”
Uma das motivações para a realização do estudo é que pesquisas prévias indicam que a rotatividade docente tem impacto na qualidade de ensino e, consequentemente, na aprendizagem dos alunos dessas escolas.
“A pesquisa mostrou que há relação entre a concorrência entre professores por escolas e as desigualdades socioespaciais. As regiões mais vulneráveis têm mais dificuldades para atrair e manter professores”, afirma Luciana Alves, uma das autoras do estudo. “Quanto maior for a rotatividade e menor for a reposição de docentes, piores são os resultados dos alunos.”
Para a pesquisadora, os dados mostram que é preciso pensar em políticas públicas que garantiriam a atração e manutenção de professores nas áreas vulneráveis.
Histórico
O Cenpec vem realizando pesquisas educacionais em territórios vulneráveis desde 2009, quando deu início ao estudo “Educação em territórios de alta vulnerabilidade social na metrópole”.
A pesquisa foi realizada pelo centro em parceria com a Fundação Tide Setubal e com o apoio da Fundação Itaú Social, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Foram analisadas informações sobre todas as 61 escolas públicas da subprefeitura de São Miguel Paulista, na zona leste da cidade de São Paulo que, juntas, somam 88 mil matrículas.
Os resultados revelaram que quanto mais vulnerável é o território, menor é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de suas escolas – ou seja, a qualidade de ensino e a aprendizagem dos alunos são menores.
Para ler esse estudo, clique aqui.
Para ter acesso ao estudo “Família, Escola, Território Vulnerável”, de Antônio Batista e Hamilton Harley de Carvalho-Silva, clique aqui.
Para ver vídeos sobre a apresentação das pesquisas, clique aqui.

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