Foto: Jorge Pinho |
Parte do método de alfabetização que colocou 77 escolas públicas do Ceará entre as 100 melhores do país – segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2016 – começou a ser implantado em Cuiabá. E a expectativa da Secretaria Municipal de Educação (SME) é grande: ver o resultado ainda neste ano, mais ou menos em outubro, quando a Prova Brasil deve ser aplicada, segundo previsão do Ministério da Educação (MEC).
O foco é a alfabetização e, se o método funcionar como funcionou no Estado nordestino, os alunos da rede municipal devem sair do 2º ano da educação básica, aproximadamente aos 7 anos de idade, sabendo ler e escrever perfeitamente.
Hoje, de acordo com um levantamento contratado pela própria Prefeitura de Cuiabá, só 30% dos alunos chegam ao 2º ano sabendo tudo o que se espera que eles saibam.
“O aluno do 1º ano já deveria saber escrever seu nome completo, mas sabia escrever só o primeiro nome. Então, se ele tem três nomes, estava com uma defasagem de dois terços de aprendizagem. Isso é uma catástrofe”, diz o técnico da Diretoria de Ensino da SME, Gilberto Fraga de Melo.
Segundo ele, das 44 escolas municipais de Cuiabá que participaram da última Prova Brasil, 20 conseguiram a nota mínima (200 pontos) que, conforme os critérios do MEC, indica que os alunos estão alfabetizados. A média atingida pela Capital em 2017 foi de 206 pontos, um resultado melhor do que em 2015, quando conseguiu 199.
O professor Gilberto destaca, no entanto, que essa média só chegou a esse patamar porque Cuiabá vive extremos. A primeira colocada atingiu 260 pontos, enquanto a última obteve 173 pontos como nota no ensino do português.
“Uma escola que está com 260 pontos está contribuindo, significativamente, para tirar algumas das que não atingiram a nota mínima, quando fazemos uma média”, destaca Gilberto, segundo quem o objetivo da Secretaria é atingir um equilíbrio entre as escolas mantidas pela prefeitura.
Boa parte do método que começou a ser aplicado em Cuiabá consiste em um material didático específico. É o mesmo que foi usado em Sobral, município cearense que primeiro e mais se destacou quando o Estado começou sua evolução no quesito educação.
Secretária-adjunta de Educação: Edilene Machado diz que trabalho começou em 2018, com avaliação do nível em que estavam as crianças (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre) |
Mas, mais do que um material para os alunos, trata-se de uma capacitação para os professores. É o que afirma a secretária-adjunta Edilene Machado, segundo quem a base da proposta é fazer com que os profissionais da educação consigam organizar a rotina e o tempo dos alunos em sala de aula.
“É como se fosse uma aula, realmente, para o professor”, ela diz, completando que todos os efetivos da rede municipal de educação básica já passaram pela primeira etapa da capacitação. Os próximos serão os contratados. Depois disso, todos devem seguir juntos novas fases, que vão se estender até o final no ano.
A proposta é que, com disciplina – principalmente, por parte do professor, já que ela acaba se estendendo ao aluno – haja mais efetividade no tempo de ensino das crianças. Segundo o professor Gilberto, das 4h diárias que um aluno passa em uma sala de aula em Cuiabá, hoje, só 2h30 são de efetiva transmissão de conhecimento.
“O material impede o desvio e desperdício de tempo, porque o professor recebe um material semi-estruturado e tem que seguir aquilo. Ele inicia a aula sabendo que tem que trabalhar aquele conteúdo naquele dia, porque aquilo antecede o que precisa ser trabalhado no dia seguinte”, detalha Gilberto.
Português para entender matemática
Edilene Machado afirma que, embora a base do método que começou a ser implantado em Cuiabá seja o material didático criado em Sobral, o Programa de Alfabetização Cuiabana (Proac) é uma criação da própria Secretaria Municipal de Educação.
E se o foco nesse primeiro ano é alfabetizar mais de 12 mil alunos, espalhados por 74 escolas, a expectativa é bem maior é que apenas isso. A SME espera que o trabalho surta reflexos também nas notas da avaliação de matemática da Prova Brasil, ainda que não de imediato.
Segundo o professor Gilberto Fraga de Melo, “uma vez alfabetizado, o aluno tem garantia de aprendizado nos próximos anos” (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre) |
O professor Gilberto afirma que a relação de uma disciplina com a outra é óbvia: se o aluno não sabe ler e interpretar o problema matemático, não vai conseguir solucioná-lo. Ainda assim, segundo ele, há uma previsão de que material didático específico para essa disciplina também seja adquirido a partir do ano que vem.
“Isso tem a ver com o resultado que vamos obter agora e com uma disponibilidade financeira”, pontua, lembrando que o valor investido pelo município nesse novo sistema tem potencial para valer mais a pena do que o montante que é gasto quando um aluno fica retido no 3º ano porque não aprendeu tudo que era necessário.
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