O 1º Congresso de Línguas Indígenas de Mato Grosso e a 2ª Jornada dos Povos do Brasil reuniu, entre os dias 28 a 30 de julho, mais de 500 estudantes da Faculdade Intercultural Indígena, pesquisadores da temática indígena oriundos de diferentes universidades do país e docentes da rede pública, em três dias de atividades científicas, acadêmicas e culturais.
“Não podemos perder nossos costumes, nossa dança, nossa música, nossa língua. Se nós esquecermos nossa língua, não somos nada. Não seremos brancos, nem índios. Muito importante continuar ensinando nossa língua, conhecimento nosso, tradicional”, assim o Cacique Megaron Txucarramãe, representante dos povos indígenas e comunidades tradicionais, resumiu a importância dos eventos realizados na Unemat em Barra do Bugres.
Em Mato Grosso estão distribuídos cerca de 38 povos indígenas, falando em torno de 34 línguas não aparentadas geneticamente e há indícios de outras nove etnias não contatadas. Os eventos realizados na Unemat abriram espaço de diálogo, discussão e reflexão sobre a situação sociolinguística desses indígenas do estado.
“Grande parte desses povos, com suas línguas ancestrais, estão constantemente ameaçados, sem contar a carência de políticas públicas mais coerentes com suas necessidades. De modo urgente, é preciso discutir as condições das línguas indígenas em Mato Grosso, propor e colocar em prática políticas linguísticas que garantam a sua sobrevivência e fortalecimento” afirmou a coordenadora do curso de licenciatura Intercultural Indígena, Mônica Cruz.
Nesse sentido, o diretor da Faculdade Intercultural Indígena, professor Adaílton Alves, explicou a importância acadêmica e, sobretudo, política desse encontro. “Política no sentido de dar voz a essa manifestação e diferença do estado de Mato Grosso, que a gente muitas vezes não percebe a própria força quando está na academia”, disse.
São mais de 120 trabalhos inscritos, dos quais 80 são de egressos ou alunos da Faculdade Indígena Intercultural. “Em todas as mesas do evento, há palestrantes indígenas, doutores ou mestres egressos da Faculdade Indígena. Temos essa perspectiva de valorizar também a formação que eles tiveram”, falou Adaílton.
O Congresso propõe três grandes eixos temáticos de discussão: descrição e documentação de línguas indígenas, alfabetização em línguas indígenas e políticas linguísticas. O objetivo é favorecer a formação de grupos de pesquisa, implementar políticas linguísticas para a valorização e fortalecimento das línguas nativas e demonstrar a pluralidade linguística de Mato Grosso.
Pioneirismo
A reitora Ana Di Renzo falou do desafio de pensar um programa intercultural. “Temos que levar para vocês o conhecimento do homem branco, mas pensar como vocês, que têm o conhecimento de tantas línguas, podem nos ajudar a compreender toda uma série de conceitos que nós não acessamos. Contem comigo, no que eu puder fazer para fortalecer uma politica linguística do estado de Mato Grosso, que compreenda o tamanho do patrimônio imaterial que nós temos”.
Representando a Secretaria de Estado de Educação, Sebastião Ferreira, lembrou que as disposições legais também garantem que as escolas indígenas trabalhem, a princípio, a alfabetização na língua materna, tema de grande complexidade. “Sabemos que temos pesquisas de muita qualidade sendo produzidas, mas que precisam ser publicadas, divulgadas, principalmente com as instituições formadoras. Elas precisam conhecer o importante trabalho que é feito em relação à questão indígena do estado de Mato Grosso. Nós entendemos a importância da Unemat nesse quesito”.
A Unemat é pioneira na América Latina na oferta de cursos específicos e diferenciados para indígenas, sendo exemplo para a criação de diversos cursos em que as características dos povos indígenas são respeitadas. Além da Faculdade Indígena, a Unemat destina 5% das vagas de todos os cursos regulares aos povos indígenas de Mato Grosso.