DECRETO N.º 5.541 DE 29 DE JULHO DE 2014
DISPÕE SOBRE A REVISÃO GERAL ANUAL RELACIONADA AOS SERVIDORES DA
EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CUIABÁ E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
O Prefeito Municipal de Cuiabá, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso VI, do art. 41, da Lei Orgânica do Município, e
CONSIDERANDO o disposto no artigo 37, inciso X, da Constituição Federal, que assegura a revisão anual da remuneração e subsídios dos servidores públicos; e,
CONSIDERANDO os termos do §3º do art. 1º da Lei Complementar n.º 220, de 22 de dezembro de 2010,
CONSIDERANDO que a inflação registrada no País sofreu variação nos últimos 12 (doze) meses,
DECRETA:
Art.1º A remuneração legal dos servidores da Educação do Município de Cuiabá, que estão na ativa, fica reajustada em 6,06 % (seis vírgula zero seis por cento), correspondente à inflação registrada no País, no período de julho de 2013 a junho de 2014, de acordo com o INPC/IBGE.
Art. 2º A revisão prevista no artigo anterior é concedida a título de revisão geral anual, assegurada pela Constituição Federal de 1988 e pela legislação municipal, e vigorará a partir de 01 de julho de 2014, respeitado o equilíbrio orçamentário, de acordo com a tabela salarial prevista no Anexo I.
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.
Praça Alencastro, em Cuiabá-MT, 29 de julho de 2014.
MAURO MENDES FERREIRA
Prefeito Municipal
VEJA: Tabela Salarial SME - Julho 2014
quinta-feira, 31 de julho de 2014
As habilidades não cognitivas
Jornalista Paul Tough |
Escrito por Tania Pescarini
O jornalista Paul Tough, do New York Times, construiu sua carreira escrevendo sobre educação e políticas públicas de combate à pobreza em escolas de grandes cidades dos Estados Unidos. Seu primeiro livro, Whatever it takes: Geoffrey Canada's quest to change Harlem (sem tradução no Brasil), mostra a intervenção do governo, por meio da educação, para melhorar as perspectivas de vida de jovens crescidos em Harlem, bairro de Nova Iorque atingido pela pobreza e pela violência. Em seu segundo livro, Uma questão de caráter (Ed. Intrinseca), traduzido no Brasil, Paul debruça-se sobre o trabalho do economista James Heckman e a relevância de habilidades não cognitivas para o aprendizado e o sucesso acadêmico de crianças e adolescentes. Em um mundo dominado por avaliações padronizadas e exames de admissão em que uma minoria recebe o selo de aprovação, enquanto milhares de alunos são deixados para trás, Tough propõe uma escola que prepare para a vida e promova habilidades ao alcance de todos. Para o escritor, perseverança, otimismo e autocontrole são qualidades positivas que os jovens podem desenvolver já na adolescência e que trazem consigo o potencial de transformar vidas. A Gestão Educacional conversou com o jornalista americano em sua visita ao Brasil, em março, quando participou do Fórum Internacional de Políticas Públicas Educar para as competências do século 21. Confira a seguir as ideias de Paul Tough a respeito de uma das áreas mais novas e promissoras da educação: o estudo de habilidades não cognitivas.
Gestão Educacional: O que é uma educação de melhor qualidade? O que queremos atingir quando buscamos uma educação melhor?
Paul Tough: Acho que [para uma educação de qualidade] um dos principais objetivos é fazer com que os jovens permaneçam mais tempo na escola, concluam mais níveis educacionais. Outro objetivo é fazer com que crianças e adolescentes adquiram as ferramentas de que necessitam para uma vida de sucesso. E isso significa conquistar um emprego que lhes traga satisfação, que os integre de maneira produtiva à sociedade. E, principalmente, queremos que o jovem torne-se um adulto feliz, com boas relações familiares e integrado à sua comunidade. Esses são os objetivos em longo prazo. O que considero novo na abordagem que escolhi para meu trabalho é a definição de quais são essas ferramentas. A escola sempre tentou dar ao estudante as ferramentas necessárias ao sucesso, mas o que minha pesquisa mostra é que a escola tem uma noção um tanto limitada de quais são essas habilidades: grosso modo, o sistema educacional pensa que só o que importa é dominar a escrita e a matemática. Descobrimos que, para atingir os objetivos da educação, os jovens lançam mão de diversas habilidades, muitas delas não cognitivas.
Gestão Educacional: Quais são essas habilidades não cognitivas?
Tough: Podem ser definidas de várias maneiras, mas incluem traços como perseverança, determinação, autocontrole, conscienciosidade, otimismo. São traços de personalidade.
Gestão Educacional: Por que qualidades como curiosidade e determinação são tão, ou mais importantes, que o conhecimento das disciplinas para o sucesso na escola e na vida?
Tough: Descobrimos a importância das habilidades não cognitivas por meio de pesquisas e experimentos feitos por psicólogos e economistas ao longo dos anos (principalmente nos Estados Unidos). Essas pesquisas identificaram o desenvolvimento de qualidades como autocontrole e conscienciosidade em crianças, para depois acompanhá-las na vida adulta. Descobriu-se o enorme impacto das habilidades não cognitivas na vida das pessoas. Por quê? Devemos lembrar que habilidades cognitivas e não cognitivas estão interligadas, pois certos traços de personalidade ajudam no desenvolvimento de habilidades cognitivas. Têm grande impacto no desempenho do aluno conseguir comportar-se e prestar atenção à aula, terminar a lição de casa, comunicar-se com o professor, dar-se bem com os outros alunos, animar-se com novas ideias etc. Fora da sala de aula, pessoas conscienciosas, por exemplo, têm menos chances de contrair dívidas ou passar por divórcios, além de apresentarem menores índices de criminalidade. Ou seja, comprovamos que controlar os impulsos ajuda tanto crianças como adultos a evitar problemas.
Gestão Educacional: Em sua opinião, sucesso não pode ser medido exclusivamente por êxito financeiro?
Touch: Isso mesmo. Trabalhei basicamente com duas áreas de pesquisa: a psicologia e a economia. Os economistas particularmente tendem a ater-se a dados facilmente mensuráveis, como salários, índice de criminalidade, entre outros. Acho que são aspectos importantes, que podem ser indicativos de satisfação e felicidade. Por outro lado, psicólogos podem ir mais a fundo na análise dos resultados dos testes aplicados (testes que analisam habilidades não cognitivas). Resumindo, os marcadores econômicos são indicativos de sucesso, mas não monopolizam o real significado da palavra. Quando converso com educadores, ouço que eles querem para seus alunos uma vida produtiva e repleta de significado. Esse seria o objetivo mais nobre da educação, tanto para os pais quanto para os professores.
Gestão Educacional: Essas habilidades socioemocionais podem ser desenvolvidas somente no período pré-escolar (como a pesquisa citada em seu livro) ou podem ser desenvolvidas mais tarde, nos jovens, nos ensinos fundamental e médio?
Tough: Com certeza. Há algumas razões do porquê a maioria das pesquisas envolver crianças na fase pré-escolar. Uma delas é a maior disponibilidade de dados. O professor Heckman [James Joseph Heckman, ganhador do prêmio Nobel de Economia] estuda o programa pré-escolar sobre o qual eu escrevo, e muitas pessoas vêm prestando atenção a esse estudo, motivadas pela grande quantidade de dados, muito bem coletados. Nesse caso, as crianças foram acompanhadas durante quarenta anos após concluírem o jardim da infância, o que expande ainda mais as possibilidades de pesquisa. Outra razão é que a idade pré-escolar é uma [idade] em que o estímulo do ambiente exerce enorme influência sobre as crianças, que mudam muito rápido. Assim, esforços extras na educação trazem grandes recompensas, em termos de desenvolvimento dos alunos. Mas isso não significa que mudanças não possam ocorrer em uma idade mais avançada. Na adolescência, nos ensinos médio e fundamental II, os jovens novamente se tornam suscetíveis a um processo que os psicólogos chamam de metacognição, que é refletir sobre seu modo de pensar. É nessa fase que podem mudar seus hábitos e padrões de comportamento de maneira que uma criança de oito anos não pode. As histórias de Kewana, Monisha e Anita [citadas no livro] mostram como essas jovens, com idades entre 16 e 18 anos e vidas bastante difíceis, chegam a um momento em que desejam para si outra vida e decidem trilhar um novo caminho.
Gestão Educacional: Habilidades não cognitivas não são facilmente mensuráveis e, por isso, podem apresentar dificuldades para quem formula políticas públicas na área de educação. Como formular ações que incluam o estímulo ao desenvolvimento dessas habilidades? E como treinar os professores para isso?
Tough: Há maneiras de mensurar algumas dessas habilidades, mas elas exigem certa flexibilidade. A mensagem que passamos aos professores é a de que habilidades socioemocionais não são tão facilmente mensuradas como capacidade de leitura, por exemplo. Uma das razões porque habilidades como interpretação de textos e matemática são atraentes para quem formula políticas públicas é que são facilmente acessadas por testes e mensuráveis em larga escala. Além disso, a partir dos resultados sabe-se exatamente o que fazer: ensinar matemática, ensinar leitura. Isso não se pode dizer das habilidades não cognitivas, as quais podemos nunca conseguir mensurar em larga escala. Índices de abandono, notas e comportamento são alguns dos indicadores que podem estar relacionados a habilidades não cognitivas. Os professores podem, com intuição, compreender tais traços de personalidade. Precisamos parar para pensar se não nos apegamos demais às avaliações padronizadas e prestar atenção a coisas como frequência com que os alunos comparecem às aulas, comportamento, lição de casa. São bons indicativos de que estão desenvolvendo habilidades não cognitivas, além de preconizar seu desempenho futuro, na faculdade e na vida. Tais dados podem mensurar, em alguma medida, habilidades não cognitivas.
Gestão Educacional: Quais atividades o professor pode desenvolver em sala de aula para estimular o desenvolvimento de habilidades não cognitivas?
Tough: No início do livro, falo sobre o programa Tools of the mind, para o jardim da infância, bastante focado no autocontrole. O interessante do programa é que ele usa um tipo de brincadeira inspirada no teatro (o que chamam mature dramatic play), com sessões mais longas. Parte do princípio de que jogos cujo enredo dura mais tempo – e em que há personagens definidos – ajudam uma criança de quatro anos a seguir regras. É como em uma peça de teatro: há um papel para cada ator e cada aluno deve desempenhar uma tarefa no jogo. Outra atividade interessante com a qual me deparei foi o xadrez. Nessas aulas, a professora Elizabeth Spiegel trabalhava a capacidade de os alunos superarem as frustrações e a derrota e de aprenderem com seus erros. O que ela os ensinava era força de vontade e a capacidade de reconhecer os próprios erros.
Gestão Educacional: Como o professor deve agir para melhorar as habilidades socioemocionais dos alunos em sala de aula?
Tough: É diferente para cada fase da vida. O que funciona no maternal pode não dar certo no fundamental II. Mas há algumas regras gerais importantes. Uma é que o professor deve estar ciente das dificuldades que seus alunos venham a enfrentar fora da escola, em suas casas. Entrevistei um número de pesquisadores cujos estudos relacionam o estresse sofrido por crianças e jovens e a dificuldade que eles têm em lidar com situações de confronto, aceitar críticas ou mesmo comportar-se em sala de aula. Quando o professor entende as dificuldades pelas quais passam os alunos, aproxima-se deles e lida melhor com o mau comportamento dos jovens, sem com isso ser indulgente. Algo que considero particularmente importante, para o professor, é saber estimular o aluno a aprender com seus erros. Isso é válido para todas as idades: saber lidar com o fracasso. Esse esforço nem sempre é parte do trabalho do professor, mas estudos sugerem que aceitar a frustração não só rende melhores notas, como ajuda a desenvolver novas habilidades não cognitivas.
Gestão Educacional: E como as habilidades não cognitivas devem ser introduzidas no currículo da escola?
Tough: Acho a abordagem do Tools of the mind, que tenta desenvolver o autocontrole por meio da brincadeira, uma boa ideia. Mas não acho que devamos reservar, por exemplo, uma hora por dia para trabalhar traços como perseverança e força de vontade. Acho que é preciso desenvolver essas habilidades por meio da leitura, do jogo, da matemática etc. Na minha opinião, um bom professor pode ajudar os alunos a desenvolver habilidades não cognitivas de acordo com o currículo tradicional da escola.
Gestão Educacional: Os estudos em educação na área das habilidades não cognitivas e o reconhecimento de sua importância nas escolas podem contribuir para a redução das desigualdades?
Tough: Espero que sim, em mais de uma maneira. Um trabalho forte com o [lado] socioemocional em escolas de bairros desfavorecidos pode melhorar as perspectivas de vida dos alunos de baixa renda. Além disso, há a expectativa de que ajudem a aliviar preconceitos. Aqui (nos Estados Unidos), se pudermos reduzir o enorme lapso que há entre o desempenho acadêmico dos alunos desfavorecidos – negros, latinos e de baixa renda – em relação a outras parcelas da população, diminuiremos a percepção de que os jovens carentes são menos inteligentes que os mais abastados. Há ainda um impacto na autoestima dos alunos. Quanto mais abrirmos nossos olhos para um leque mais variado de talentos e habilidades que se pode aprender ao longo de toda a vida, menor a segregação.
Gestão Educacional: Aqui no Brasil enfrentamos o problema da violência nas escolas. Em muitas comunidades carentes, os professores são obrigados a lidar com um ambiente violento e situações para as quais não sempre se sentem preparados. Em seu livro, você relata uma situação de violência em uma escola do ensino médio. Como trabalhar as habilidades não cognitivas pode ajudar a aliviar as tensões?
Tough: Na escola sobre a qual escrevo, Fenger Academy High School, os adolescentes cresciam em um ambiente extremamente violento (um jovem chegou a ser morto por espancamento nos arredores da escola, em 2009) e em meio à pobreza. Poucos contavam com o apoio de uma família estável. A diretora que assumiu depois do desastre fez um bom trabalho, pacificando os corredores e as salas de aula. Muito disso se deve à presença de seguranças no prédio, mas também houve um esforço de compreensão, por parte dela, das dificuldades enfrentadas pelos alunos. Não se pode esperar que adolescentes criados no caos da exclusão social comportem-se, na escola, como se nada de errado ocorresse em suas vidas. As pesquisas indicam claramente que crianças e jovens reagem de maneira negativa ao estresse e à violência. Se a escola quer que esses alunos prestem atenção às aulas e progridam no aprendizado, terá que oferecer apoio extra, conectar-se a eles. Toda criança precisa de um adulto que lhe dê carinho, apoio e atenção. Quando esse apoio falta em casa, a demanda recai sobre o professor, o tutor ou qualquer outra pessoa capaz de estabelecer uma ligação íntima e pessoal com ela. O poder transformador dessa conexão pode ser enorme.
Gestão Educacional: Uma situação socioeconômica desfavorável pode afetar o desenvolvimento socioemocional da criança e do adolescente?
Tough: Obviamente afeta muito. Pesquisas demonstram que crianças que crescem em lares instáveis, violentos e hostis podem sofrer alterações bioquímicas no cérebro. É um grande desafio, para jovens carentes, crescer bombardeados pelo estresse. Eles tendem a perder o controle diante de qualquer provocação, sentem dificuldade em organizar suas ideias e prestam menos atenção. Todos esses são sintomas de alterações bioquímicas provocadas pelo estresse na infância.
Gestão Educacional: Hoje se fala muito em desenvolver a habilidade de aprender ao longo de toda a vida. O aprendizado contínuo é visto como fator-chave para o sucesso em algumas áreas. Como as habilidades socioemocionais influenciam o aprendizado contínuo?
Tough: Um dos mais importantes aprendizados para o aluno na escola é aprender a aprender. Para isso, empolgar-se com uma nova disciplina ou novo campo de estudos é fundamental. Está tudo interligado. Seagal, a professora de xadrez sobre quem escrevo, relata que aprendeu a jogar ainda bem nova e cedo se tornou autodidata no jogo. Isso é empolgante porque não só a emancipou do professor de xadrez, como mostrou que ela podia aprender qualquer coisa, desde que se dedicasse. Se posso fazer no xadrez, posso na leitura, na matemática. Tem um potencial transformador na vida das crianças.
Gestão Educacional: Como ajudar os alunos a buscar conhecimento?
Tough: Acho que quando as aulas se atêm a um programa em que a matéria é dada segmentada, no velho esquema aula expositiva-lição de casa-provas, os alunos tendem a adotar uma postura mais passiva. Quando o professor pede um trabalho mais aberto, que envolva pesquisa ampla, há possibilidade de ensinar ao jovem o processo de aprendizado, e não somente o produto deste. Isso pode ser feito de várias maneiras e a todo momento. Lembro-me de que, quando estava na escola, os professores que me davam projetos abertos e me guiavam no processo de descoberta foram os que mais me ensinaram nesse sentido.
Gestão Educacional: Como surgiu, para você, a vontade de pesquisar as habilidades não cognitivas na educação?
Tough: Uma questão de caráter é, na verdade, meu segundo livro. Meu primeiro livro, infelizmente não publicado no Brasil, cujo título é Wathever it takes, trabalha muito com a hipótese cognitiva. Entrevisto especialistas em testes, avaliações acadêmicas e desempenho dos alunos em disciplinas do currículo tradicional. Após concluir esse trabalho, comecei a refletir sobre as outras dimensões em que se apresentava o universo da educação. Conversei com pediatras e educadores. Quando comecei a escrever Uma questão de caráter, não sabia que seria um livro sobre habilidades não cognitivas. Comecei indagando que tipo de intervenção ajuda o progresso dos alunos na escola e, quanto mais pesquisava, mais me aproximava das habilidades não cognitivas.
Gestão Educacional: A questão socioemocional na educação é relativamente nova. Como foi recebido o livro?
Tough: Foi bem recebido. Recebi elogios de educadores que trabalham com crianças ricas e também daqueles que ensinam as mais pobres. Pais, professores, burocratas, diversos setores da sociedade demonstram interesse pelo assunto. Ainda há uma frustração em relação às perspectivas práticas; os professores me perguntam o que fazer a respeito [das habilidades não cognitivas]. Os educadores sabem que querem dar a seus alunos mais que uma boa nota nas avaliações unificadas, porque a educação é mais profunda que isso. E o fato de darmos um nome a essa outra faceta do ensino, que são as habilidades não cognitivas, já anima muitos professores.
+PARA LER
Uma questão de caráter
Paul Tough
Editora Intrínseca, 2014
272 páginas
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Escolas devem incluir dados no sistema da Provinha Brasil
Desde 14/07, diretores e professores de escolas públicas devem fazer o lançamento on-line dos dados da primeira aplicação da Provinha Brasil deste ano.
O prazo para envio das informações termina em 30 de setembro.
O sistema funciona como ferramenta para visualização do desempenho dos alunos e também para a produção de relatórios de desempenho por estudante, turma e escola. Em setembro, os interlocutores estaduais e municipais terão acesso aos relatórios consolidados das respectivas redes de ensino.
O Blog disponibiliza links para acessar o Sistema Provinha Brasil, o Manual do Diretor e o Manual do Professor.
Basta clicar na figura respectiva do lado direito no Blog.
Espaço para o ensino
Com poucos recursos e problemas de gestão, escolas brasileiras sofrem com infraestrutura ruim; piores condições estão nas redes municipais
Svendla Chaves
Menos de 15% das escolas brasileiras têm um nível considerado adequado de infraestrutura e apenas 0,6% alcançam o padrão avançado. As deficiências primárias como falta de acesso a água e energia estão sendo resolvidas – cerca de 95% das instituições públicas contam com esses recursos –, mas o Brasil ainda está longe de oferecer espaços adequados de ensino para a maior parte de seus alunos.
As desigualdades do país se refletem também na condição das escolas e as unidades rurais e de áreas mais pobres, principalmente do Norte e Nordeste do país, são as que apresentam as piores condições. Escolas sem paredes, em que os alunos precisam trocar de lugar conforme o movimento do sol; mobiliário inadequado, comido por cupins e apodrecido pela umidade; goteiras, pisos de terra e latrinas também fazem, ainda, parte da realidade escolar brasileira.
A falta de recursos das prefeituras reacende o debate sobre o financiamento da educação e a necessidade de aumentar os repasses para os municípios. Por outro lado, o desconhecimento dos programas federais e as dificuldades para acessá-los impedem muitas secretarias de Educação de receber as verbas disponíveis.
“Mesmo bons professores, com formação adequada, ficam sem condições de prover o melhor para os seus alunos em razão da falta de infraestrutura adequada”, explica a pesquisadora Girlene Ribeiro de Jesus, docente da Universidade de Brasília (UnB). A professora é uma das autoras do estudo “Uma escala para medir a infraestrutura escolar”, realizado por pesquisadores da UnB e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo a pesquisa, 44,5% das escolas de Educação Básica – responsáveis por mais de 7 milhões de matrículas – apresentam apenas condições elementares para o funcionamento, sem recursos para proporcionar a aprendizagem.
Baseado no Censo Escolar 2011, o estudo incluiu dados de 194.932 escolas públicas e privadas, rurais e urbanas, criando parâmetros que permitem comparar a situação em diferentes regiões e dependências administrativas. Os índices mais graves estão nas redes municipais e nas regiões Norte e Nordeste, onde menos de 8% das escolas chegam a um nível adequado ou avançado de infraestrutura. Girlene aponta aspectos práticos dessas deficiências: “o ensino de ciências se torna mais significativo quando o aluno tem acesso a um laboratório. O hábito de leitura é facilitado e viabilizado quando a escola dispõe de uma biblioteca”.
O Maranhão é o estado com pior desempenho em infraestrutura: 80,7% das escolas estão no nível elementar e apenas 3,1% conseguem chegar a um patamar adequado ou avançado. Conforme dados do Censo Escolar/Inep 2013, compilados pelo QEdu – parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann –, apenas uma em cada dez escolas públicas do estado possui biblioteca; 6% têm quadras de esporte e só 2,3% contam com laboratórios de ciências.
Desigualdades
Para compreender os números, é preciso estar atento às realidades locais. As instituições que estão na base da escala, no nível elementar, embora representem quase metade das escolas, atendem a menos de 15% dos alunos brasileiros. Isso porque há um grande número de estruturas de pequeno porte no país – e são elas que apresentam as maiores dificuldades para dispor de recursos adequados.
“Muitas vezes os números de um município impressionam, mas se referem a escolas bem pequenas”, explica o professor da UnB Luiz Araújo. O estudo também mostra isso: 57% das escolas públicas do país têm até 200 alunos matriculados, contando com no máximo dez turmas; dessas, 92,5% são municipais e 73% são rurais. Entre as escolas pequenas, 80,5% delas apresentam apenas nível elementar de infraestrutura.
Resumindo, a maior parte das escolas deficitárias é pequena, está longe dos centros urbanos, faz parte de redes municipais das regiões Norte e Nordeste e apresenta desempenho inferior à média na Prova Brasil. Também possui, em relação ao total de escolas públicas, uma proporção maior de matrículas de beneficiários do Programa Bolsa Família. Mais do que apenas retratar a situação das escolas, os dados revelam um quadro de desigualdade e a formação de um círculo vicioso de carência.
“Há um efeito de seletividade e composição nas redes de ensino. As crianças já são ‘pré-selecionadas’ para um determinado tipo de escola, a depender de onde moram e do seu nível socioeconômico”, explica Girlene. A situação é agravada pela geografia, já que o Brasil tem municípios com territórios imensos e baixa densidade populacional, em geral localizados em áreas mais pobres.
Algumas prefeituras, no entanto, vêm fugindo do padrão determinista que recai sobre as pequenas escolas da metade norte do país. Em Paragominas, município de 100 mil habitantes que está a 300 quilômetros de Belém, no Pará, o investimento em educação levou a algumas conquistas significativas. Todas as 98 escolas da rede são construídas em alvenaria, mesmo as localizadas em áreas rurais e indígenas. As escolas polo têm laboratório de informática e grande parte possui também laboratórios multifuncionais. Todas as urbanas têm biblioteca, salas pedagógicas, horta e quadra.
“Nosso município tem uma extensão territorial enorme, são dois mil quilômetros de estradas vicinais, 40 comunidades na área rural, 11 aldeias indígenas”, conta o ex-prefeito Adnan Demachki, que administrou Paragominas entre 2005 e 2012 e hoje é secretário de Proteção e Desenvolvimento Social do Pará. Para ele, o principal desafio foi o transporte dos estudantes e dos materiais para as obras. “Temos localidades que, para chegar, é preciso fazer uma longa viagem pela estrada e mais cinco ou seis horas de barco.” Demachki cita como efeito complicador o clima amazônico, com cinco meses de chuvas por ano, que deixam as estradas em condições ruins.
Financiamento
Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), afirma que a disparidade entre as escolas rurais e urbanas está diretamente ligada ao financiamento da educação.
“As escolas do campo têm um número menor de alunos, e as receitas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério (Fundeb) estão relacionadas com a quantidade de estudantes.” Por outro lado, a necessidade de investimento dessas unidades é maior por causa das grandes distâncias para o transporte de alunos, professores e materiais. Segundo ela, os valores destinados para alimentação e transporte nessas áreas dificilmente atingem 30% dos valores investidos pelos municípios.
“A Constituição de 1988 determinou responsabilidades aos entes federados para a oferta da Educação Básica. Acontece que, de lá para cá, o volume de recursos na esfera municipal tem diminuído. Em contrapartida, as responsabilidades aumentaram muito rapidamente, como o desafio de oferecer pré-escola para todas as crianças com 4 e 5 anos de idade”, explica Cleuza, que também é dirigente municipal de Educação de São Bernardo do Campo (SP).
Para Araújo, é preciso um aporte maior de recursos do governo federal para a educação nos municípios e estados. Em estudo defendido na USP, Araújo avaliou os custos para a implantação de um padrão mínimo nacional de qualidade: o país precisaria investir R$ 54 bilhões a mais em educação, segundo os dados de 2011. Para ele, o governo federal tem a obrigação constitucional de colaborar com o financiamento, e esse papel é ainda mais significativo nos estados e municípios com menos recursos. Como a sistemática de financiamento da educação está atrelada à capacidade de arrecadação, onde há menor receita o potencial de investimento se reduz.
Segundo Cleuza, a maior parte das prefeituras tem pouca arrecadação própria e sobrevive de transferências, sendo cerca de 80% do custeio oriundo do Fundeb na maior parte dos municípios. “Isso porque de cada R$100 arrecadados, R$ 58 ficam com o governo federal.”
Em Palmas (TO), grande parte dos recursos utilizados na educação é municipal. “É necessária uma boa política de arrecadação, sem isso, não é possível suportar os custos”, diz a secretária Berenice de Fátima Barbosa.
A capital do Tocantins conta com estruturas escolares que são referência nacional. Em 2007, criou sua primeira escola de tempo integral no modelo padrão, totalmente financiada com recursos municipais.
Projetada para atender 1.200 alunos, a unidade tem laboratórios, piscina, bloco esportivo completo, quadras e campo de futebol gramado. E o MEC assumiu o financiamento das novas unidades no município. “É um modelo de escola muito completo, que se torna viável por não ter um custo tão alto para a prefeitura”, diz a secretária. Das 14 escolas de tempo integral em funcionamento em Palmas, três são no modelo padrão; três devem ser inauguradas ainda este ano e mais três estão em licitação. Hoje, o maior desafio da rede é o aumento de vagas na educação infantil. “Estamos ampliando e criando novos espaços, mas ainda temos três mil crianças de 0 a 3 anos na fila de espera”, conta.
Ela ainda ressalta que todos os 24 Centros municipais de educação infantil (Cmeis) têm climatização, sala de descanso e mobiliário adequado. Palmas tem hoje 32.700 alunos, sendo quase nove mil deles na educação infantil.
Desafios
Em pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada pela Undime, 24,1% dos 3.410 secretários municipais entrevistados apontaram as insuficiências de infraestrutura, juntamente com dificuldades de conservação dos prédios, como os principais problemas de suas redes municipais. Essa era também a prioridade para 46,2% deles.
Mozart Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), acredita que as escolas hoje têm mais recursos que no passado, mas ainda encontram dificuldades para acessá-los. “Muitas vezes as verbas não são captadas por dificuldades na elaboração de projetos.”
Para receber auxílio financeiro do Plano de Ações Articuladas (PAR), os municípios precisam fazer o Levantamento da Situação Escolar (LSE) – diagnóstico e planejamento em sistema informatizado que engloba as necessidades de todas as escolas e é requisito para obtenção de recursos. “Muitos municípios não têm quadro técnico habilitado, com engenheiros, por exemplo, para fazer o levantamento e análise dos problemas existentes. Isso se torna um entrave para captar recursos pelo PAR”, explica.
“Em outros casos o dinheiro chega, mas as prefeituras ficam reféns das construtoras para a execução das obras”, diz. Ramos, que já foi secretário de Educação de Pernambuco, lembra de uma situação em que precisou passar por quatro empresas para concluir a construção de uma escola. “O ambiente aquecido no setor construtivo reduz o número de empresas dispostas a assumir esses projetos.”
Já as escolas indígenas e quilombolas localizadas em terrenos que não têm cadastro em cartório não podem utilizar recursos do MEC, que pede a legalização do local. Se o prédio escolar for alugado, também não pode receber verba federal para reforma. Os municípios mais pobres, que apresentam situação financeira com irregularidades, têm ainda maior dificuldade de acesso a financiamento. “É como pedir empréstimo ao banco: quanto mais inadimplente o município está, menos recursos ele consegue”, diz Luiz Araújo.
Padrão mínimo
Para normatizar os investimentos em educação, a discussão passa pela criação de um padrão mínimo de qualidade que estabeleça insumos e recursos para seu custeio, bem como as responsabilidades de cada esfera administrativa.
Com o objetivo de sustentar esse debate, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, articulada por um conjunto de organizações da sociedade civil, promoveu a construção coletiva do Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi), metodologia que se propõe a estabelecer um patamar de qualidade para o ensino básico. O CAQi foi balizado pela Conferência Nacional da Educação de 2010 e definido por parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) como a melhor referência para o estabelecimento de padrões mínimos de qualidade na educação pública. A deliberação do CNE, no entanto, não foi até hoje homologada pelo MEC. A proposta agora faz parte das estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita no Congresso.
“O MEC não aprovou o parecer porque ele obrigaria a transferência direta de recursos pelo governo federal”, acredita Daniel Cara, coordenador geral da Campanha. Para Cara, o CAQi oferece condições necessárias, mas não suficientes, para um ensino de qualidade, pois também é preciso considerar os processos pedagógicos que garantem o direito à educação Luiz Araújo, que elaborou seu estudo a partir do CAQi, diz que hoje não existe um padrão mínimo para a educação: “o parâmetro é de cada estado ou município, quando existe. Mas os mínimos oficiais também podem não ser o mínimo aceitável.” Para o pesquisador, o CAQi vai oferecer as condições necessárias para o controle social de execução do padrão mínimo.
O CAQi também inclui em seus cálculos investimentos no pagamento e valorização dos profissionais da educação. “A qualidade da educação só irá melhorar se o PNE for aprovado com a complementação do governo federal. Se isso não acontecer, infelizmente, o Brasil não vai possibilitar a melhoria da qualidade e o acesso à educação”, diz Cleuza Repulho.
As desigualdades do país se refletem também na condição das escolas e as unidades rurais e de áreas mais pobres, principalmente do Norte e Nordeste do país, são as que apresentam as piores condições. Escolas sem paredes, em que os alunos precisam trocar de lugar conforme o movimento do sol; mobiliário inadequado, comido por cupins e apodrecido pela umidade; goteiras, pisos de terra e latrinas também fazem, ainda, parte da realidade escolar brasileira.
A falta de recursos das prefeituras reacende o debate sobre o financiamento da educação e a necessidade de aumentar os repasses para os municípios. Por outro lado, o desconhecimento dos programas federais e as dificuldades para acessá-los impedem muitas secretarias de Educação de receber as verbas disponíveis.
“Mesmo bons professores, com formação adequada, ficam sem condições de prover o melhor para os seus alunos em razão da falta de infraestrutura adequada”, explica a pesquisadora Girlene Ribeiro de Jesus, docente da Universidade de Brasília (UnB). A professora é uma das autoras do estudo “Uma escala para medir a infraestrutura escolar”, realizado por pesquisadores da UnB e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo a pesquisa, 44,5% das escolas de Educação Básica – responsáveis por mais de 7 milhões de matrículas – apresentam apenas condições elementares para o funcionamento, sem recursos para proporcionar a aprendizagem.
Baseado no Censo Escolar 2011, o estudo incluiu dados de 194.932 escolas públicas e privadas, rurais e urbanas, criando parâmetros que permitem comparar a situação em diferentes regiões e dependências administrativas. Os índices mais graves estão nas redes municipais e nas regiões Norte e Nordeste, onde menos de 8% das escolas chegam a um nível adequado ou avançado de infraestrutura. Girlene aponta aspectos práticos dessas deficiências: “o ensino de ciências se torna mais significativo quando o aluno tem acesso a um laboratório. O hábito de leitura é facilitado e viabilizado quando a escola dispõe de uma biblioteca”.
O Maranhão é o estado com pior desempenho em infraestrutura: 80,7% das escolas estão no nível elementar e apenas 3,1% conseguem chegar a um patamar adequado ou avançado. Conforme dados do Censo Escolar/Inep 2013, compilados pelo QEdu – parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann –, apenas uma em cada dez escolas públicas do estado possui biblioteca; 6% têm quadras de esporte e só 2,3% contam com laboratórios de ciências.
Desigualdades
Para compreender os números, é preciso estar atento às realidades locais. As instituições que estão na base da escala, no nível elementar, embora representem quase metade das escolas, atendem a menos de 15% dos alunos brasileiros. Isso porque há um grande número de estruturas de pequeno porte no país – e são elas que apresentam as maiores dificuldades para dispor de recursos adequados.
“Muitas vezes os números de um município impressionam, mas se referem a escolas bem pequenas”, explica o professor da UnB Luiz Araújo. O estudo também mostra isso: 57% das escolas públicas do país têm até 200 alunos matriculados, contando com no máximo dez turmas; dessas, 92,5% são municipais e 73% são rurais. Entre as escolas pequenas, 80,5% delas apresentam apenas nível elementar de infraestrutura.
Resumindo, a maior parte das escolas deficitárias é pequena, está longe dos centros urbanos, faz parte de redes municipais das regiões Norte e Nordeste e apresenta desempenho inferior à média na Prova Brasil. Também possui, em relação ao total de escolas públicas, uma proporção maior de matrículas de beneficiários do Programa Bolsa Família. Mais do que apenas retratar a situação das escolas, os dados revelam um quadro de desigualdade e a formação de um círculo vicioso de carência.
“Há um efeito de seletividade e composição nas redes de ensino. As crianças já são ‘pré-selecionadas’ para um determinado tipo de escola, a depender de onde moram e do seu nível socioeconômico”, explica Girlene. A situação é agravada pela geografia, já que o Brasil tem municípios com territórios imensos e baixa densidade populacional, em geral localizados em áreas mais pobres.
Algumas prefeituras, no entanto, vêm fugindo do padrão determinista que recai sobre as pequenas escolas da metade norte do país. Em Paragominas, município de 100 mil habitantes que está a 300 quilômetros de Belém, no Pará, o investimento em educação levou a algumas conquistas significativas. Todas as 98 escolas da rede são construídas em alvenaria, mesmo as localizadas em áreas rurais e indígenas. As escolas polo têm laboratório de informática e grande parte possui também laboratórios multifuncionais. Todas as urbanas têm biblioteca, salas pedagógicas, horta e quadra.
“Nosso município tem uma extensão territorial enorme, são dois mil quilômetros de estradas vicinais, 40 comunidades na área rural, 11 aldeias indígenas”, conta o ex-prefeito Adnan Demachki, que administrou Paragominas entre 2005 e 2012 e hoje é secretário de Proteção e Desenvolvimento Social do Pará. Para ele, o principal desafio foi o transporte dos estudantes e dos materiais para as obras. “Temos localidades que, para chegar, é preciso fazer uma longa viagem pela estrada e mais cinco ou seis horas de barco.” Demachki cita como efeito complicador o clima amazônico, com cinco meses de chuvas por ano, que deixam as estradas em condições ruins.
Financiamento
Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), afirma que a disparidade entre as escolas rurais e urbanas está diretamente ligada ao financiamento da educação.
“As escolas do campo têm um número menor de alunos, e as receitas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério (Fundeb) estão relacionadas com a quantidade de estudantes.” Por outro lado, a necessidade de investimento dessas unidades é maior por causa das grandes distâncias para o transporte de alunos, professores e materiais. Segundo ela, os valores destinados para alimentação e transporte nessas áreas dificilmente atingem 30% dos valores investidos pelos municípios.
“A Constituição de 1988 determinou responsabilidades aos entes federados para a oferta da Educação Básica. Acontece que, de lá para cá, o volume de recursos na esfera municipal tem diminuído. Em contrapartida, as responsabilidades aumentaram muito rapidamente, como o desafio de oferecer pré-escola para todas as crianças com 4 e 5 anos de idade”, explica Cleuza, que também é dirigente municipal de Educação de São Bernardo do Campo (SP).
Para Araújo, é preciso um aporte maior de recursos do governo federal para a educação nos municípios e estados. Em estudo defendido na USP, Araújo avaliou os custos para a implantação de um padrão mínimo nacional de qualidade: o país precisaria investir R$ 54 bilhões a mais em educação, segundo os dados de 2011. Para ele, o governo federal tem a obrigação constitucional de colaborar com o financiamento, e esse papel é ainda mais significativo nos estados e municípios com menos recursos. Como a sistemática de financiamento da educação está atrelada à capacidade de arrecadação, onde há menor receita o potencial de investimento se reduz.
Segundo Cleuza, a maior parte das prefeituras tem pouca arrecadação própria e sobrevive de transferências, sendo cerca de 80% do custeio oriundo do Fundeb na maior parte dos municípios. “Isso porque de cada R$100 arrecadados, R$ 58 ficam com o governo federal.”
Em Palmas (TO), grande parte dos recursos utilizados na educação é municipal. “É necessária uma boa política de arrecadação, sem isso, não é possível suportar os custos”, diz a secretária Berenice de Fátima Barbosa.
A capital do Tocantins conta com estruturas escolares que são referência nacional. Em 2007, criou sua primeira escola de tempo integral no modelo padrão, totalmente financiada com recursos municipais.
Projetada para atender 1.200 alunos, a unidade tem laboratórios, piscina, bloco esportivo completo, quadras e campo de futebol gramado. E o MEC assumiu o financiamento das novas unidades no município. “É um modelo de escola muito completo, que se torna viável por não ter um custo tão alto para a prefeitura”, diz a secretária. Das 14 escolas de tempo integral em funcionamento em Palmas, três são no modelo padrão; três devem ser inauguradas ainda este ano e mais três estão em licitação. Hoje, o maior desafio da rede é o aumento de vagas na educação infantil. “Estamos ampliando e criando novos espaços, mas ainda temos três mil crianças de 0 a 3 anos na fila de espera”, conta.
Ela ainda ressalta que todos os 24 Centros municipais de educação infantil (Cmeis) têm climatização, sala de descanso e mobiliário adequado. Palmas tem hoje 32.700 alunos, sendo quase nove mil deles na educação infantil.
Desafios
Em pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada pela Undime, 24,1% dos 3.410 secretários municipais entrevistados apontaram as insuficiências de infraestrutura, juntamente com dificuldades de conservação dos prédios, como os principais problemas de suas redes municipais. Essa era também a prioridade para 46,2% deles.
Mozart Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), acredita que as escolas hoje têm mais recursos que no passado, mas ainda encontram dificuldades para acessá-los. “Muitas vezes as verbas não são captadas por dificuldades na elaboração de projetos.”
Para receber auxílio financeiro do Plano de Ações Articuladas (PAR), os municípios precisam fazer o Levantamento da Situação Escolar (LSE) – diagnóstico e planejamento em sistema informatizado que engloba as necessidades de todas as escolas e é requisito para obtenção de recursos. “Muitos municípios não têm quadro técnico habilitado, com engenheiros, por exemplo, para fazer o levantamento e análise dos problemas existentes. Isso se torna um entrave para captar recursos pelo PAR”, explica.
“Em outros casos o dinheiro chega, mas as prefeituras ficam reféns das construtoras para a execução das obras”, diz. Ramos, que já foi secretário de Educação de Pernambuco, lembra de uma situação em que precisou passar por quatro empresas para concluir a construção de uma escola. “O ambiente aquecido no setor construtivo reduz o número de empresas dispostas a assumir esses projetos.”
Já as escolas indígenas e quilombolas localizadas em terrenos que não têm cadastro em cartório não podem utilizar recursos do MEC, que pede a legalização do local. Se o prédio escolar for alugado, também não pode receber verba federal para reforma. Os municípios mais pobres, que apresentam situação financeira com irregularidades, têm ainda maior dificuldade de acesso a financiamento. “É como pedir empréstimo ao banco: quanto mais inadimplente o município está, menos recursos ele consegue”, diz Luiz Araújo.
Padrão mínimo
Para normatizar os investimentos em educação, a discussão passa pela criação de um padrão mínimo de qualidade que estabeleça insumos e recursos para seu custeio, bem como as responsabilidades de cada esfera administrativa.
Com o objetivo de sustentar esse debate, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, articulada por um conjunto de organizações da sociedade civil, promoveu a construção coletiva do Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi), metodologia que se propõe a estabelecer um patamar de qualidade para o ensino básico. O CAQi foi balizado pela Conferência Nacional da Educação de 2010 e definido por parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) como a melhor referência para o estabelecimento de padrões mínimos de qualidade na educação pública. A deliberação do CNE, no entanto, não foi até hoje homologada pelo MEC. A proposta agora faz parte das estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita no Congresso.
“O MEC não aprovou o parecer porque ele obrigaria a transferência direta de recursos pelo governo federal”, acredita Daniel Cara, coordenador geral da Campanha. Para Cara, o CAQi oferece condições necessárias, mas não suficientes, para um ensino de qualidade, pois também é preciso considerar os processos pedagógicos que garantem o direito à educação Luiz Araújo, que elaborou seu estudo a partir do CAQi, diz que hoje não existe um padrão mínimo para a educação: “o parâmetro é de cada estado ou município, quando existe. Mas os mínimos oficiais também podem não ser o mínimo aceitável.” Para o pesquisador, o CAQi vai oferecer as condições necessárias para o controle social de execução do padrão mínimo.
O CAQi também inclui em seus cálculos investimentos no pagamento e valorização dos profissionais da educação. “A qualidade da educação só irá melhorar se o PNE for aprovado com a complementação do governo federal. Se isso não acontecer, infelizmente, o Brasil não vai possibilitar a melhoria da qualidade e o acesso à educação”, diz Cleuza Repulho.
http://revistaescolapublica.uol.com.br/textos/39/artigo319357-1.asp
Entrevista com António Nóvoa
Escrito por Analice Bonatto
Outro professor e outra escola são necessários para atender às demandas do século 21, afirma o pesquisador e professor português António Nóvoa, um dos maiores especialistas em formação de professores. Ele esteve em São Paulo para o I Congresso Internacional e o III Congresso Nacional de Dificuldades de Ensino e Aprendizagem – Diversidade no Ensinar e Aprender: Educação, Saúde e Sociedade, promovidos pela Associação Nacional de Dificuldades de Ensino e Aprendizagem (Andea) e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em agosto de 2013, e defendeu a necessidade de diálogo aberto com os colegas e a importância dos espaços para trocas de experiências. Antes do evento, Nóvoa concedeu uma entrevista exclusiva à Gestão Educacional. O ex-reitor da Universidade de Lisboa destacou que não se aprende por meio de um ensino transmissivo, mas a partir de pequenas redes e pequenos grupos, os quais não dependem apenas da proximidade física. Para ele, o desafio da aprendizagem não é mais a aquisição do conhecimento, mas fazer com que o aluno seja capaz de dar sentido às coisas, compreendê-las e contextualizá-las. Acompanhe a entrevista a seguir.
Gestão Educacional: Por que é necessário repensar o papel do educador na contemporaneidade?
António Nóvoa: Porque hoje as tarefas do professor são muito diferentes do que eram no passado. E os professores e as escolas vivem ainda em um mundo que em grande parte já não existe. Às vezes, nossas escolas se parecem com o brilho daquelas estrelas de que ainda vemos a luz, mas já estão mortas, extintas. Eu creio que precisamos de outro professor e de outra escola no século 21.
Gestão Educacional: Qual é o maior desafio no que se refere ao papel da escola no século 21?
Nóvoa: A aprendizagem é o grande desafio. O filósofo francês Michel Serres chama os novos alunos de geração do pequeno polegar. Ele explica que é uma geração que não se comunica, não pensa e não aprende da mesma maneira que as anteriores. Os novos alunos têm outras maneiras de estar na vida, de aprender, de trabalhar com o cérebro, e nós ainda não nos adaptamos a isso, mas é preciso que essa adaptação se faça. Se não compreendermos isso, podemos criar um fosso geracional que dificultará encontrar as melhores maneiras de conduzir esses jovens à aprendizagem. No passado, aprendíamos uma coisa e depois comunicávamos essa coisa. Havia dois momentos: o de aprender e o de comunicar o que aprendíamos. Hoje, esses dois momentos não existem, porque é no próprio processo de comunicação que se gera aprendizagem e conhecimento. Por isso, a comunicação tem valor diferente do que tinha no passado, valor que, muitas vezes, não compreendemos ainda e não estamos suficientemente atentos a ele. Olhamos muitas vezes para a comunicação como indisciplina, incapacidade ou para o aluno que está disperso a fazer coisas que não as que pedimos para fazer, ao invés de conseguirmos utilizar a nosso favor esse potencial de comunicação que existe nas novas gerações.
Continue lendo:
http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/reportagens/entrevistas/637-o-professor-na-educacao-do-seculo-21
A cidade dos livros
Autor: Teca Machado
Osmar Cabral Jr
Já pensou em uma cidade voltada só para livros, uma espécie de biblioteca a céu aberto? Sonho de qualquer leitor apaixonado. E se eu te dissesse que essa cidade existe? Sim! Ela se chama Hay-on-Wye, mais conhecida como Cidade dos Livros, e fica no País de Gales, Reino Unido, bem pertinho da fronteira com a Inglaterra. Até mesmo os fãs de e-books vão querer um livro em papel para chamar de seu.
Tudo começou em 1976. Richard Booth, um amante da literatura, estava insatisfeito com o governo local. Então, ele proclamou Hay-on-Wye como sua e começou esta impressionante empreitada. Hoje ela virou referência no mundo dos livros.
Além do que é possível ver nas ruas, existem mais de 30 grandes livrarias, muitas famosas por venderem obras antigas e em segunda mão.
Além desse paraíso livrístico, há toda uma cidade por descobrir, com suas ruínas, mansões e o seu aspecto intocado de séculos passados. A cidade é pequena, tem só 1.200 habitantes, mas é incrível.
Fonte: Nômades Digitais
Preciso morar num lugar desses!
Obrigada pela dica de post, Bruna Peron! ;*
*A escritora e jornalista Marcela Machado, conhecida por todos como “Teca”, é leitora ávida e apaixonada por livros. Escreve no blog “Casos, Acasos e Livros” e é autora de “I Love New York”, publicado pela editora Novo Século. Teca dá dicas de livros no Olhar Conceito todas as terças. Email de contato: tecamachado@gmail.com
Tudo começou em 1976. Richard Booth, um amante da literatura, estava insatisfeito com o governo local. Então, ele proclamou Hay-on-Wye como sua e começou esta impressionante empreitada. Hoje ela virou referência no mundo dos livros.
Além do que é possível ver nas ruas, existem mais de 30 grandes livrarias, muitas famosas por venderem obras antigas e em segunda mão.
Além desse paraíso livrístico, há toda uma cidade por descobrir, com suas ruínas, mansões e o seu aspecto intocado de séculos passados. A cidade é pequena, tem só 1.200 habitantes, mas é incrível.
Fonte: Nômades Digitais
Preciso morar num lugar desses!
Obrigada pela dica de post, Bruna Peron! ;*
*A escritora e jornalista Marcela Machado, conhecida por todos como “Teca”, é leitora ávida e apaixonada por livros. Escreve no blog “Casos, Acasos e Livros” e é autora de “I Love New York”, publicado pela editora Novo Século. Teca dá dicas de livros no Olhar Conceito todas as terças. Email de contato: tecamachado@gmail.com
A educação na era digital
Consultora Martha Gabriel |
Escrito por Carolina Maina
Educação distribuída em vários ambientes, incluindo os digitais, com maior foco no aluno. Para Martha Gabriel, consultora e palestrante nas áreas de marketing digital, inovação e educação, autora da obraEduc@r – A (r)evolução digital na educação (Ed. Saraiva), essas são as principais características do ensino na era das novas tecnologias. “Existir espaços físicos tanto quanto espaços virtuais é o [caminho] natural para esse cenário. Deve haver uma transformação das escolas para abraçar essa nova necessidade”, afirma Martha, em entrevista à Gestão Educacional. Ela destaca que as mudanças são profundas e acontecem no cérebro dos alunos e nas habilidades desenvolvidas, o que resulta em transformações sociais.
Apesar de a tecnologia estar presente no cotidiano de boa parte das pessoas, Martha comenta que o percentual de professores que usam a internet em sala de aula ainda é pequeno – em torno de 20%. Por isso, a transformação da escola passa pela capacitação e atualização do professor, que deve aprender a usar as ferramentas e a conectar com sua utilização o desenvolvimento das habilidades necessárias para os novos tempos: pensamento crítico, criatividade e conexão, tanto de dados quanto de pessoas. “O professor nunca foi tão importante. Ele é o agente catalisador dessa ‘paideia’ digital”, ressalta. Ela também chama a atenção do gestor para o fato de que a escola tem que estar atenta a todos os seus públicos – alunos, professores, pais, funcionários –, e sugere o uso da tecnologia para fortalecer a marca da instituição de ensino. Acompanhe, na entrevista a seguir, as orientações da especialista.
Gestão Educacional: O que se deve esperar da educação na era digital?
Martha Gabriel: A educação na era digital é muito mais focada no aluno e muito mais distribuída em vários ambientes. Assim, existir espaços físicos tanto quanto espaços virtuais é o [caminho] natural para esse cenário. Deve haver uma transformação das escolas para abraçar essa nova necessidade. As pessoas vão nascer e vão começar a utilizar [a tecnologia] dessa maneira. E elas não vão gostar de ficar confinadas. Estamos vivendo a segunda maior revolução cognitiva da história, e não temos noção de quanto isso vai impactar no desenvolvimento da sociedade. Veja quanta coisa que [antes] [era] impossível e começa [agora] a ser feita, de acordo com o que a gente observa nos últimos dez anos. A gente deve ver acelerando ainda mais nos próximos anos.
Gestão Educacional: E como a escola e o professor devem se preparar para esse cenário? Você ressalta que não adianta só dar a ferramenta tecnológica ao professor.
Martha: Exatamente. Defendo a educação para o professor. Precisa haver educação, capacitação, utilização de todas as ferramentas. E ele precisa entender não só como usar a ferramenta, mas como ela se conecta com outras. A palavra de ordem hoje é conexão, além de velocidade, mudança e inovação. Se ele [o professor] entender isso, vai ajudar o aluno a entender também, e aí vai encantar o aluno nesse processo. Há alguns vídeos que mostram que nada na história da humanidade foi feito por uma pessoa só. Tudo é remix, reaproveitamento, reutilização de invenção de outros, e a partir daí você vem com uma nova invenção. Nunca foi tão fácil fazer isso, hoje está tudo à disposição para qualquer um. Antes, você tinha que saber usar um editor de vídeo, agora está tudo muito fácil. O professor conseguir articular isso com os alunos é essencial. Mas ele precisa, primeiro, ser capacitado. Estamos vivendo um período de revolução – são os professores que vêm do passado para a atualidade. Os novos [professores] que virão, já vão ser criados nesse novo formato e daqui a 20 anos a gente não estará mais discutindo isso, porque será um processo natural.
Gestão Educacional: Que dicas você dá para o professor começar a utilizar a tecnologia e as redes sociais?
Martha: A primeira dica é: comece a usar. Tem que pôr a mão na massa, tem que capacitar, porque aí se começa a ter ideias. E a segunda é: não adianta só falar para o aluno “vamos ‘tuitar’, postem no Facebook”. O professor tem que orientar o que tem que ser feito, indicar qual é a atividade. Tem que dar aquele sparkle [brilho], tornar aquela coisa divertida. Se aquilo for colocado de maneira interessante, o aluno só prestará atenção no professor e vai usar essas plataformas para isso. Senão, na hora em que o professor falar: “pode todo mundo entrar no Twitter para fazer tal coisa”, eles vão, na realidade, checar os status deles e conversar uns com os outros. Agora, se o professor focar... há “n” exemplos de professores que já estão fazendo isso, nos quais o desempenho dos alunos tem sido sensacional, a satisfação [do aluno] é maior, [bem como] a do próprio professor, que se torna mais admirado, mais respeitado. A dica é: comece a usar. No começo, todo mundo usa mal qualquer coisa. Se eu for usar qualquer coisa que eu não conheço, eu vou [usar mal]. Depois, você adquire proficiência naquilo e aí você começa a fazer aquilo que gosta, por exemplo, conectar e ajudar os outros.
Gestão Educacional: Como tornar a aula mais atrativa para esse aluno da era digital?
Martha: Tem que usar o digital. E não está só lá [na escola]. Eu não consigo mais escrever um livro sem tecnologia. Às vezes, eu ouço o pessoal falar: professor tem que obrigar o aluno a estar [na sala] naquele momento, a fazer um trabalho obrigatório em sala de aula. Se o professor fizer isso, o aluno vai fazer, mas vai fazer por obrigação, com má vontade, com o coração irado. Se o professor engajar-se para o aluno fazer uma coisa divertida, ele vai lembrar-se dele para o resto da vida, [porque o professor] vai inspirá-lo. Há uma série de vídeos que mostra formas para se tentar fazer coisas que as pessoas não fazem com boa vontade. Um deles* mostra como fazer as pessoas optarem por subir em uma escada normal e não em uma escada rolante. Eu posso fechar a escada rolante, e você vai subir pela outra, xingando. Mas, eles [a produção do vídeo] colocaram, da noite para o dia, na escada normal, um piano. Cada degrau é uma tecla de piano [com som]. No dia seguinte, eles avaliaram quantas pessoas subiam pelo “piano” e quantas pela escada rolante. Aumentou consideravelmente a quantidade de pessoas que subiam pelo “piano”, e subiam e desciam felizes da vida. Ou seja, o professor vai ter que fazer esse “piano”, ele vai ter que fazer essas conexões para que o aluno queira, de boa vontade, estudar aquele conteúdo que é importante para a aula, para aquele momento.
Gestão Educacional: Diante de tudo isso, é necessária também uma readequação pedagógica do currículo?
Martha: Eu acho [que sim], porque hoje o currículo é feito como se o aluno fosse um soldado. Idade “x” a “y” aprende as mesmas coisas, e você tem que estar no mesmo nível de desenvolvimento do outro. E tem criança que, às vezes, é mais lenta no começo e depois ela acelera. Além de que, os interesses são distintos. Não precisa ser todo mundo igual, hoje o mundo é múltiplo. É necessária uma readequação – não digo para todas as idades, nem no currículo inteiro – de algumas coisas que são básicas, essenciais, e que dê abertura para interesses pessoais. [Dessa forma], a escola estaria propiciando uma diversidade social muito maior e as pessoas estariam fazendo coisas em que o coração está batendo forte. Para a gestão, hoje, o grande problema das empresas é que todo mundo pode empreender, não há mais fronteiras para as pessoas tornarem-se empreendedoras, é muito fácil, todo mundo está conectado, a tecnologia barateou. Você não retém mais na empresa as pessoas com talento, porque elas querem empreender fora. Como é que você faz para reter talento? Deixa empreender [na empresa]. Se a escola preparar pessoas que são capacitadas para empreender e que usem o coração, vai funcionar. Senão, não. Como é que você faz para os alunos usarem o coração? É só colocar foco nos interesses que eles têm no dia a dia, e eles fazem com todo amor. É uma reestruturação que eu acho que passa por professores. Não digo a educação em si, de como se engaja o outro, acho que o professor sabe fazer isso. Mas como articular tudo isso, fazer funcionar o que é múltiplo, fragmentado, descentralizado? Esse é um desafio que ainda não tem resposta, o mundo inteiro está estudando isso, e tentando, experimentando, para chegar a soluções que deem resultados melhores.
Gestão Educacional: Como a escola deve usar a tecnologia e as redes sociais de forma institucional?
Martha: Como qualquer empresa. É preciso ter branding [relacionado à gestão de marca], saber o que se quer, saber quem é o seu público-alvo ou os públicos-alvo) – é professor, é pai, é aluno, é no geral –, e tem que ter produtos para todos eles. Pensar na instituição como uma empresa. E todas as empresas estão enfrentando hoje o mesmo desafio, porque as pessoas têm voz, e elas podem criticar como elas podem elogiar. E nas escolas também – tanto os funcionários, quanto os alunos e os professores [têm voz]. É a mesma coisa [que uma empresa]. Tem que ter planejamento de marketing, pessoas que entendam de novas plataformas e saibam atuar nisso, [implantar] educação interna para cada colaborador, seja ele professor, seja ele funcionário de uma empresa, pois ele é porta-voz da empresa. A dica é: tem que fazer a lição de casa e se capacitar. A solução para tudo é a educação. Hoje, não se resolve nada sem educação. É o mesmo processo. E habilitando profissionais na área de marketing, que entendam do cenário digital.
*A ação, feita em conjunto pela agência de publicidade DDB e pela Volkswagen, foi implantada em um metrô de Estocolmo, na Suécia. Para assistir ao vídeo, acesse www.youtube.com/watch?v=IzN9mYooxp0
+PARA LER
Educ@r – A (r)evolução digital na educação
Martha Gabriel
Editora Saraiva, 2013
256 páginas
R$ 49,00 (livro impresso)
R$ 44,10 (livro digital)
http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/reportagens/entrevistas/647-a-educacao-na-era-digital
terça-feira, 29 de julho de 2014
Professores são capacitados para trabalhar projeto de cidadania com alunos
Foto: Jorge Pinho (SME) |
ROSANE BRANDÃO
Secom Cuiabá
Secom Cuiabá
O trabalho faz parte do projeto “Um por Todos e Todos por Um”, realizado pela Controladoria-Geral da União (CGU), em parceria com o Instituo Maurício de Sousa e a Prefeitura de Cuiabá.
Ao todo, 24 escolas municipais aderiram ao projeto, beneficiando aproximadamente 1,8 mil alunos do 4º ano.
O trabalho com os alunos será realizado neste segundo semestre. Todos os participantes receberão um kit com material didático com os personagens da turma da Mônica. Cada kit contém caderno de atividades, revistas, cartazes educativos, jogos lúdicos e uma carteirinha do aluno que vai integrá-lo como “Agente da cidadania”.
Segundo o chefe da Controladoria-Regional da União de Mato Grosso, Sérgio Akutagawa, o projeto existe desde 2009 e surgiu com a finalidade de disseminar entre as crianças valores relacionados à participação social, democracia, autoestima, respeito à diversidade, responsabilidade cidadã e interesse pelo bem-estar coletivo. A intenção é que os alunos transmitam o que aprenderam aos pais, amigos e familiares, envolvendo toda a sociedade nesse processo.
“É um projeto de educação que tem por objetivo construir um futuro melhor. Para isso queremos fazer com que a criança entenda qual o seu o papel e a sua responsabilidade com o futuro do país. Ao final do projeto espera-se que as pessoas entendam que além de direitos, todos também têm deveres”, disse Sérgio Akutagawa.
Em 2009, duas escolas municipais de Cuiabá participaram do projeto e este ano a participação foi ampliada para 24 unidades.
Sérgio Akutagawa ressalta que os professores de Cuiabá foram privilegiados, pois enquanto as outras cidades do país receberam o curso de capacitação on-line, na capital de Mato Grosso a formação foi presencial e ainda contou com a participação da equipe do Instituto Maurício de Sousa.
A coordenadora de projetos do Instituto, Evelyn Cardia, lembra que o professor é a peça fundamental nesse processo, por isso é estimulado a trabalhar com os alunos. “Estamos otimistas quanto ao resultado e esperamos alcançar nossos objetivos”.
Para o roteirista das revistas em quadrinho da Turma da Mônica e do Instituto, Robson Barreto, que sempre trabalhou nos bastidores, ter esse contato direto com as crianças é uma experiência nova que está sendo muito especial. “O aluno é o maior agente desse projeto e é muito bom saber que estamos plantando uma sementinha em cada um deles, que logo será ampliada”.
Conforme a coordenadora de Formação da SME, Márcia Albieri, a parceria com a CGU vem fortalecer o trabalho que já é realizado na rede municipal de ensino. “Trabalhar a questão da cidadania com nossos alunos ajuda a formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres”.
Os professores estão empolgados com a participação no projeto. Para eles, a ideia de fazer com que os alunos aprendam de forma lúdica vai contribuir para o sucesso do projeto.
“Estou muito empolgada e feliz em poder participar de um projeto como esse, que tem por objetivo construir ética e cidadania dentro da escola”, disse a diretora da escola Lenine de Campos Póvoas, professora Taciane Garcez.
http://www.cuiaba.mt.gov.br/educacao/professores-sao-capacitados-para-trabalhar-projeto-de-cidadania-com-alunos/9293
Pesquisador lança livro sobre o povo Guarani
Da Redação - Isabela Mercuri
Foto: Reprodução
“O que é, o que é – O pajé e as crianças numa aldeia Guarani?” é o nome do novo livro de Luís Donisete Benzi Grupioni, antropólogo que estuda os povos indígenas e fez pesquisa com os bororos em Mato Grosso. O livro acaba de ser publicado pela editora Moderna e conta a história dos pequenos índios, que conversam com o pajé e se entretêm em um jogo de adivinhação.
Leia mais: Com dois prêmios nacionais, poeta cuiabano lança livro na Academia Mato-Grossense de Letras
Este jogo, chamado Mbaravija, ou adivinhação, é muito apreciado pelos guarani, e consiste em fazer perguntas criativas e estimular os que estão à sua volta a responder. Falando da brincadeira, Luís Donisete apresenta os costumes e a cultura dessa tribo de maneira lúdica e divertida.
O que é, o que é? – O pajé e as crianças numa aldeia Guarani faz parte da coleção Girassol, que possui uma linguagem simples e divertida e é indicada para crianças já iniciadas no processo de leitura. A história estimulará os pequenos na leitura e ainda despertará a curiosidade por nossa cultura indígena.
Sobre o autor
Luís Donisete Benzi Grupioni nasceu e vive em São Paulo. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, onde fez mestrado e doutorado em Antropologia Social. Além de Mato Grosso, realizou pesquisa de campo entre os Zo'é e Tiriyó, no norte do Pará. Atualmente é coordenador do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), organização que atua entre os povos indígenas no Amapá e norte do Pará, e secretário-executivo de uma rede de cooperação entre organizações indígenas e indigenistas que trabalham na Amazônia (RCA).
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Este jogo, chamado Mbaravija, ou adivinhação, é muito apreciado pelos guarani, e consiste em fazer perguntas criativas e estimular os que estão à sua volta a responder. Falando da brincadeira, Luís Donisete apresenta os costumes e a cultura dessa tribo de maneira lúdica e divertida.
O que é, o que é? – O pajé e as crianças numa aldeia Guarani faz parte da coleção Girassol, que possui uma linguagem simples e divertida e é indicada para crianças já iniciadas no processo de leitura. A história estimulará os pequenos na leitura e ainda despertará a curiosidade por nossa cultura indígena.
Sobre o autor
Luís Donisete Benzi Grupioni nasceu e vive em São Paulo. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, onde fez mestrado e doutorado em Antropologia Social. Além de Mato Grosso, realizou pesquisa de campo entre os Zo'é e Tiriyó, no norte do Pará. Atualmente é coordenador do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), organização que atua entre os povos indígenas no Amapá e norte do Pará, e secretário-executivo de uma rede de cooperação entre organizações indígenas e indigenistas que trabalham na Amazônia (RCA).
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