Dominguinhos lembra vagamente dos apuros que passou nas suas pescarias com estranhos seres que os pescadores mais antigos garantem que ainda hoje vivem no fundo do Rio Cuiabá
NELSON SEVERINO
– Só o Neguinho D’água eu vi três vezes. Ele aparecia no final da tarde, quando já estava escurecendo, geralmente boiando na frente da canoa ou então andando sobre a água. Nunca ele falou comigo. Acho estranho ele ser chamado de Neguinho D’água, porque era um preto grandão, bem parrudo!...
O depoimento é de um dos mais antigos pescadores da Colônia Z 8, de Santo Antonio de Leverger – Domingos Pascoal de Barros, o Dominguinhos – que passou a maior parte de seus atuais 88 anos pescando no Rio Cuiabá no longo trecho entre a praia Vereda e Barão de Melgaço para criar seus dez filhos – quatro homens e seis mulheres.
Com a visão seriamente comprometida e com dificuldades para falar, Dominguinhos lembra vagamente dos apuros que passou nas suas pescarias com estranhos seres que os pescadores mais antigos garantem que ainda hoje vivem no fundo do Rio Cuiabá.
Mas não são mais tantos, porque com o assoreamento do rio, os poços profundos onde esses seres viviam foram desaparecendo e com eles as lendárias figuras que povoam o imaginário popular, principalmente de pescadores e ribeirinhos...
Um dos maiores apertos que Dominguinhos passou no Rio Cuiabá foi numa tardezinha quando ele e mais dois companheiros subiam o rio de Barão de Melgaço para Leverger, impulsionando o barco a remo, porque o motorzinho da embarcação tinha fundido, com o esforço para impulsionar a embarcação rio acima com três mil quilos de peixes.
De repente numa curva do rio, num lugar muito temido pelos pescadores por causa da sua fundura, surgiu um garrote com uma cabeça descomunal e começou a ameaçar os pescadores. O animal afundava n’água, provocava borbulhas que parece que vinham do fundo do poço e ressurgia com sua enorme cabeça, ameaçando avançar para o barco...
– Aquela coisa que nunca mais eu vi não era um boi normal não! – garante o velho Dominguinhos, que repetia muitas histórias das suas pescarias no Rio Cuiabá para seus parentes, enquanto falava normalmente.
De outra feita, também ao cair da noite, Dominguinhos teve que usar de toda força no remo para se livrar das aparições de um porco bem grande, “com uma cara muito feia”, que surgiu repentinamente na frente do seu barco e insistia em acompanhá-lo, com jeito de quem ia atacá-lo.
– Essas coisas eu vi com meus olhos, não me contaram nada não. Mas nunca me fizeram mal. Eu nunca tive medo. Essas coisas esquisitas não mexiam comigo e eu não mexia com elas – afirma Dominguinhos.
http://www.hipernoticias.com.br/TNX/conteudo.php?sid=180&cid=34317
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