Professores de ciências devem estimular diferentes habilidades nos estudantes de modo a auxiliá-los no desenvolvimento da criatividade. Segundo bióloga e educadora, é preciso valorizar a dedicação e o trabalho, mais do que simplesmente transmitir conceitos.
Por: Vera Rita da Costa
São muitas as possíveis explicações para a origem do mito do cientista genial, excêntrico, louco e um tanto quanto desleixado. Há justificativas de caráter histórico, como o fato de a ciência institucionalizada ter sua origem nas catacumbas, na fuga das perseguições da Inquisição, e de os primeiros cientistas terem sua figura original associada aos alquimistas. Outras apontam a função arquetípica do mito, segundo ateoria junguiana, como observamos em comentários postados no nosso Facebooksobre o texto que publicamos anteriormente, ‘O cientista no imaginário popular’.
O fato é que o mito do cientista genial e excêntrico existe e ganhou (e ainda ganha) muita força com a popularização de biografias que destacam aspectos inusitados da vida desses personagens, assim como de suas imagens. Fotos de Albert Einstein com sua cabeleira desgrenhada, a língua de fora ou andando de bicicleta descabelado ajudaram, sem dúvida, a reforçar o mito, contribuindo para a consolidação do imaginário popular sobre o cientista.
Também serviram a essa função as caricaturas de Charles Darwin divulgadas logo em seguida à publicação de A origem das espécies. Nesse caso, no entanto, com outra intenção, muito mais consciente e agressiva – e com efeitos muito mais negativos para a imagem da ciência e do cientista.
Criatividade e inteligência
Do ponto de vista da educação e do ensino de ciências é interessante refletir sobre essas questões. Não apenas porque o mito do cientista genial e excêntrico influencia diretamente o trabalho desenvolvido com os alunos, mas também porque acaba por influenciar a própria concepção que se leva para a sala de aula do que é inteligência e, sobretudo, do que é criatividade.
Por conta desses estereótipos, não é raro, por exemplo, encontrar professores cujas concepções de inteligência e criatividade estão diretamente associadas às ideias de dom, de excentricidade e até de loucura. E, infelizmente, o que se constata é que essas ideias estão presentes muito mais do que o desejável, sobretudo quando o esperado é que os professores não discriminem seus alunos com base em dons ou outras características consideradas inatas.
O que se espera de um bom professor, principalmente de ciências, é que estimule a inteligência e a criatividade de seus alunos, considerando-as um potencial presente e passível de ser desenvolvido em todos
Afinal, se consideradas dom ou excentricidade, por que investir na inteligência ou criatividade dos alunos? Basta rotular quem é quem (e, em geral, fazemos isso de forma inconsciente, quando não atentos para a questão) e investir em alguns ou até mesmo deixar a aprendizagem se desenvolver assim, de maneira espontânea e desesperançosa, ao sabor dos dons ou das características pessoais de cada um. Para quem é da área de educação esses posicionamentos são bem conhecidos. Pode-se não assumi-los publicamente, como posicionamentos conscientes, mas eles ainda estão muito presentes entre nós.
Ao contrário disso, no entanto, o que se espera de um bom professor, principalmente de ciências, é que estimule a inteligência e a criatividade de seus alunos, considerando-as um potencial presente e passível de ser desenvolvido em todos. É preciso planejar e intervir nessa direção, não se omitir.
Em seu livro A dinâmica da criação, lançado este ano no Brasil, o psiquiatra inglês Anthony Storr aponta para um item interessante: a inteligência e, principalmente, a criatividade associadas às figuras do artista e do cientista. Discute também a questão do gênio e da loucura ligada a esses personagens.
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