quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A sala é um palco


Frederico Guimarães

Com uma bengala na mão e um guarda-chuva na outra, o professor de língua portuguesa Júlio César Sbarrais caminha com dificuldade pelos corredores da Escola Estadual Padre Afonso Paschotte, em Mauá, na Grande São Paulo. Enquanto os alunos aguardam o início da aula, ele abre a porta da classe caracterizado da cabeça aos pés: sapatos extravagantes, calças coloridas, maquiagem no rosto e um nariz de palhaço. Fantasia caprichada para arrancar sorrisos dos estudantes da 8ª série do ensino fundamental. 

+ Assista a trechos da aula do professor Júlio César Sbarrais
Formado em Letras e Artes Cênicas, Júlio César é o que se pode chamar de "artista-docente", expressão utilizada para denominar educadores que trabalham com a linguagem artística em suas propostas pedagógicas. Desde 2007, o professor recorre ao palhaço "Tinin" para tornar as suas atividades com os alunos mais lúdicas. "Há uma questão pedagógica e didática na linguagem teatral. Apesar de o palhaço ser mudo, ele passa as regras de convivência em sala de aula. Eu uso lousa e giz, mas utilizo o palhaço como uma forma de conquistar o aluno, que tem de dar conta de muita coisa. Esses projetos são válidos no sentido de amenizar a sobrecarga do conteúdo ensinado", afirma o docente. 
Guia prático
Assim como Júlio César, diversos professores têm aderido ao teatro para ensinar conteúdos de disciplinas como português, história, física e matemática. Segundo a psicóloga e professora de teatro Ana Betina Rugna, 90% dos seus alunos são professores que querem aprender a utilizar a linguagem teatral nas salas de aula. Autora do livro Teatro em sala de aula (Editora Alaúde), Betina elaborou um guia prático para os professores que desejam explorar esses recursos com seus alunos.Em sua experiência com os docentes, Betina observou que os professores sentiam insegurança por não conseguirem transmitir suas ideias de forma clara e criativa.
Para ela, a linguagem teatral pode transformar os professores. "Quando eu trabalho com o professor ele se redescobre, tanto quanto a criança. Assim como as crianças, eles começam de um jeito, mas terminam o curso diferentes, fazendo uma redescoberta do outro e de si mesmos", avalia.
Professor de artes cênicas da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo, Pedro Haddad concorda com Betina. "A escola é um lugar essencial para que as crianças tenham o primeiro contato com o teatro, mesmo que não seja unicamente pela disciplina de artes cênicas. A linguagem pode ser utilizada de maneira muito feliz como complemento e incremento das dinâmicas dentro da sala de aula", acredita.
O número de professores formados na área ainda é pequeno, mesmo que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabeleça o ensino da arte como obrigatório. Na maioria das vezes, a utilização do teatro na escola se restringe à disciplina de artes cênicas, quando há, e que nem sempre consegue dialogar com outras matérias. Além disso, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) estabelece metas de qualidade para o desenvolvimento do ensino das crianças na creche e na pré-escola, mas não menciona a utilização do teatro como mecanismo de aprendizagem.

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http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/199/a-sala-e-um-palcoprofessores-procuram-na-linguagem-teatral-uma-301125-1.asp

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