Alunos do 4º ano vão passar a ter a capacidade de leitura e compreensão de textos avaliadas por um estudo internacional, o PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study). O exame é realizado por amostragem em larga escala em escolas públicas e privadas.
A primeira aplicação do exame no Brasil será realizada em 2020 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), que assinou termo de adesão ao estudo.
De acordo com o secretário de Alfabetização da Pasta, Carlos Nadalim, o PIRLS é o principal exame do mundo focado especificamente em leitura, uma das prioridades do governo federal. “A adesão do Brasil ao PIRLS fortalece o desenvolvimento de políticas baseadas em evidências para melhorar a educação”, afirmou.
Nadalim também ressaltou que os resultados permitirão uma comparação com outros 50 países que aplicam o exame, como Inglaterra, França, Estados Unidos, Suécia e Portugal, entre outros: “Os estudos comparativos de sistemas educacionais em todo o mundo permitem uma melhor compreensão das políticas e práticas que promovem o progresso educacional e desempenham um papel crítico para ajudar as nações a construir seu próprio conhecimento e capacidade de pesquisa”.
PIRLS – O PIRLS é realizado a cada cinco anos pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), cooperativa internacional de instituições nacionais de pesquisa, acadêmicos e analistas que trabalham para avaliar, entender e melhorar a educação em todo o mundo. O Brasil faz parte da IEA, mas não estava entre os países que aplicam o PIRLS.
A inclusão do Brasil entre os países que aplicam a avaliação segue as diretrizes da Política Nacional de Alfabetização (PNA), lançada em 11 de abril. A PNA inseriu o Brasil no rol de países que fundamentaram suas políticas educacionais de alfabetização nas mais atuais evidências científicas.
Assessoria de Comunicação Social, com informações do Inep
De acordo com o Secretário o Edital será publicado no dia 10 de julho. Na oportunidade o Secretário informou que serão disponibilizadas mais de 2.000 (duas mil) vagas.
Conforme já noticiado aquia EmpresaSelecon será a responsável pelo certame.
O Blog continua acompanhando os "Passos" do Secretário.
Análises do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, do Todos Pela Educação e Editora Moderna, mostram desigualdade na redistribuição de recursos entre Estados e Municípios
Enquanto um município localizado no Rio Grande do Sul destinava cerca de R$ 19,5 mil por aluno em 2015, havia outro município no Maranhão dispondo de apenas R$ 2,9 mil. Essa diferença, de quase sete vezes, é apontada na oitava edição do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, parceria do Todos Pela Educação com a Editora Moderna. A disparidade se repete entre os estados. Enquanto São Paulo recebe a maior média anual de recursos vinculados à Educação por aluno, R$ 6,5 mil; no extremo oposto está o Maranhão, que dispõe de apenas R$ 3,5 mil por aluno ao ano.
A publicação, que desde 2014 é organizada segundo os temas das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), traz mais de 200 gráficos e tabelas com indicadores educacionais e ainda análises inéditas sobre as políticas públicas prioritárias para a melhoria da qualidade da Educação Básica brasileira em médio prazo. Pautadas pela agenda de propostas formuladas no âmbito do Educação Já!, iniciativa suprapartidária liderada pelo Todos Pela Educação que contou com a contribuição de mais 80 especialistas, as temáticas abordam: Primeira Infância, Ensino Médio, alfabetização, Base Nacional Comum Curricular, carreira e valorização docente, governança e financiamento da Educação.
“Apesar dos dados mais recentes ainda estarem longe do patamar educacional que o Brasil precisa para garantir um desenvolvimento social e econômico duradouro, o Anuário mostra que houve avanços importantes nas últimas décadas. Mas é preciso manter o senso de urgência, pois a fotografia dos resultados educacionais ainda é crítica e dados como este, sobre a desigualdade nas condições de financiamento das redes, mostram que discussões atualmente em curso, como a do Fundeb, são centrais”, explica Olavo Nogueira Filho, diretor de políticas educacionais do Todos Pela Educação.
Em 2019, o PNE chega a metade do seu tempo de vigência. “Era esperado que, neste momento, já houvesse um avanço significativo no alcance das metas mais estratégicas para a melhoria da Educação brasileira”, afirma o texto de abertura do Anuário. Segundo os editores da publicação, além de reforçar a importância do PNE como referência para as políticas públicas educacionais, é fundamental implementar uma agenda de medidas baseadas em evidências, experiências bem sucedidas e com visão de médio e longo prazo.
Segundo Luciano Monteiro, diretor de relações institucionais da Moderna, “além de permitir a toda a sociedade uma visão global e analítica do cenário educacional brasileiro, o Anuário tem o propósito de oferecer a gestores, legisladores e pesquisadores, um conjunto organizado de diagnósticos e análises que podem apoiar a formulação de políticas educacionais”, afirma.
Professor
Um dos maiores desafios para avançar na qualidade da Educação é a falta de um conjunto de políticas docentes que atuem na formação, carreira e condições de trabalho dos professores. Em 2018, o rendimento médio dos docentes da Educação Básica com curso superior (R$ 3.823,00) correspondeu a 69,8% do que ganhavam, em média, outros trabalhadores com mesmo nível de escolaridade (R$ 5.477,05). Em 2012, essa proporção era de 60,8%.
Em relação à formação dos professores, desde 2012, não há aumento significativo no número de docentes com formação adequada para as disciplinas que lecionam. Isto significa que há aulas de matemática - por exemplo - sendo ministradas por docentes que não têm formação na área. As taxas permanecem preocupantes: em 2018, 48,7% dos docentes dos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) tinham formação adequada, um crescimento de 5,1 p.p. em comparação a 2012. Já no Ensino Médio, essa taxa era de 56,3% - um aumento de 5,4 p.p. nos últimos seis anos.
O Anuário também aponta que o percentual de jovens de 15 a 17 anos que frequentam a escola segue aumentando, tendo alcançado a taxa de 91,5% em 2018. No entanto, 32,3% deles não estão matriculados no Ensino Médio - em 2012, eram 39%. Além disso, em 2018, o Brasil tinha 787 mil jovens de 15 a 17 anos fora da escola que ainda não concluíram o Ensino Médio - 8% do total de pessoas nessa faixa etária.
Outro desafio do Ensino Médio é a desigualdade racial. Em 2018, 75,3% dos jovens brancos de 15 a 17 anos estavam matriculados na etapa. Já entre os jovens pretos da mesma faixa etária, esse percentual era de 63,6% - uma diferença de 11,7 p.p.
O combate à desigualdade de oportunidades no Ensino Médio passa por uma ampla reforma da etapa, que inclui um currículo mais alinhado aos interesses dos jovens e uma política de escola em tempo integral, capaz de ampliar repertório, aumentar o interesse dos jovens pela escola e diminuir a evasão. Em 2018, 10,3% das matrículas da rede pública no Ensino Médio estavam na modalidade integral - percentual maior do que o verificado em 2016 e 2017: 6,7% e 8,4%, respectivamente. O estado que mais se destacou em 2018 nesse indicador foi Pernambuco (49,2%); seguido por outros dois estados do Nordeste (região com maior percentual de matrículas nessa modalidade): Paraíba (24,8%) e Piauí (24,1%).
Utilizando o PNE como referência, o Educação Já! foi criado por um grupo suprapartidário de especialistas e organizações com forte atuação na área. A partir de sugestões de diversos atores estratégicos e evidências nacionais e internacionais, foi feito um estudo que aponta o diagnóstico atual e quais são políticas importantes que precisam ser continuadas, aperfeiçoadas e efetivadas, e outras ainda elaboradas, capazes de reduzir essa desigualdade e melhorar a qualidade da Educação para todos.
Júlia Dias CarneiroDa BBC News Brasil no Rio de Janeiro
Garantir que os adolescentes brasileiros permaneçam na escola nos anos finais do ensino médio é o principal desafio para que o Brasil consiga universalizar o acesso à educação básica. Isso porque, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a evasão escolar continua a afetar, sobretudo, jovens na faixa etária dos 15 a 17.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgados na quarta-feira (19) mostram que no ano passado, 11,8% dos jovens nesta faixa etária estavam fora da escola, o equivalente a 1,1 milhão de pessoas, apesar de o Plano Nacional de Educação (PNE), de 2014, ter estabelecido a meta de universalizar o atendimento à população de 15 a 17 anos até 2016. A pesquisa mostra também que a taxa de frequência escolar para alunos no grupo etário aumentou um ponto percentual em relação aos dois anos anteriores, passando para 88,2% em 2018, ou um total de 8,6 milhões de jovens de 15 a 17 anos.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, o Estado tem obrigação de oferecer ensino fundamental e médio para todos os brasileiros. Embora algumas iniciativas tenham sido lançadas nas últimas décadas para atingir este objetivo, especialistas consultados pela BBC News dizem que os avanços ainda foram bem desiguais, variando bastante de Estado para Estado. A meta de universalização ainda não foi alcançada por nenhuma região brasileira.
Na estimativa de estudo do Instituto Ayrton Senna, a evasão escolar traz prejuízos não apenas para os jovens como também para a sociedade, e faz com que o Brasil desperdice R$ 35 bilhões ao ano - valor calculado a partir da renda do trabalho ao longo da vida a partir da conclusão do ensino médio.
Os dados que indicam evasão escolar, na visão dos especialistas, merecem especial atenção porque se referem a uma população que ainda está em idade de formação, prestes a entrar no mercado de trabalho.
"O vilão sempre foi o ensino médio", diz analista da Pnad Educação, Marina Águas.
Na faixa de 6 a 14 anos, o levantamento indicou que 99,3% das crianças estavam nas escolas em 2018 - o que, segundo a analista do IBGE equivale praticamente à universalização, situação que se apresenta desde 2016 (nos últimos dois anos, a taxa foi de 99,2%).
Os dados da Pnad Educação indicam tendência moderada de melhora no setor de 2016 para cá. A taxa de analfabetismo caiu de 7,2% em 2016 para 6,8% em 2018. O número médio de anos de estudo na população subiu de 8,9 para 9,3 nos últimos dois anos.
Mas os dados expressam grande disparidade regional. Nos dados sobre analfabetismo, por exemplo, o índice no Nordeste é de 13,8%, contra 3,63% no Sul.
A Pnad Educação não traz uma estatística específica sobre evasão escolar. Mas quantifica o número de alunos fora da escola em idade de ensino obrigatório, e além disso traz dados sobre estudantes em situação de atraso escolar, ou seja, que repetiram anos no passado, o que ajuda a dimensionar o problema.
De acordo com a Pnad Educação, 69,3% dos jovens de 15 a 17 anos (0,8 ponto percentual a mais que em 2017) estavam na situação correta de ensino no ano passado. Ou seja, estavam cursando a série adequada para sua idade, ou já haviam concluído o ensino médio.
Segundo Marina Águas, isso que significa que os demais 30,7% ou estavam atrasados - ainda cursando séries do ensino fundamental - ou já haviam evadido a escola. Apesar de o problema da evasão se concentrar nos anos finais do ensino básico, ele reflete problemas que vão se acumulando ao longo de toda a formação escolar.
"Se as crianças já estão atrasadas no ensino fundamental, quando chegam no ensino médio as chances de permanecerem defasadas e decidirem sair é muito maior", aponta a analista do IBGE.
Evasão escolar
Um estudo lançado em 2017 pelo Instituto Ayrton Senna estima que 2,8 milhões de pessoas de 15 a 17 anos abandonam a escola a cada ano, descrevendo o problema como uma "tragédia silenciosa" que tem forte impacto para a trajetória individual desses jovens e para o país como um todo.
No ritmo atual de inclusão de jovens no ensino médio, o estudo, conduzido pelo economista-chefe do instituto, Ricardo Paes de Barros, estima que o Brasil precisará de 200 anos para atingir a meta de universalizar o atendimento escolar a esse grupo.
De acordo com Laura Machado, especialista da Cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper, o percentual de jovens de 15 a 17 anos fora do ensino médio tem se mantido no mesmo patamar ao longo da última década, sem tendência expressiva de melhora.
"Infelizmente, a previsão é continuar do jeito que está, já que infelizmente a situação está estagnada há 10 anos", diz à BBC News Brasil.
A evasão escolar está longe de ter uma causa única.
De acordo com Gabriel Corrêa, gerente de políticas educacionais do Todos Pela Educação, a decisão de um jovem de deixar a sala de aula pode ser motivada pela falta de engajamento com a escola, por falta de acesso a transporte, pela gravidez na adolescência, pela necessidade de entrar no mercado de trabalho ou pela defasagem no ensino acumulada dos anos anteriores, entre muitos outros fatores.
"Como a repetência é frequente no Brasil, muitos jovens chegam aos 17 ou 18 anos sem conhecimentos muito básicos que deveriam ter adquirido. E isso em escolas que não se conectam com o mundo ao seu redor, com a sua realidade. Nesses casos, a escola perde totalmente o sentido para o estudante jovem. Cada aluno que evade é sinal de um fracasso do sistema educacional em que deveria estar", considera.
Maior engajamento
De acordo com Gabriel Corrêa, do Todos pela Educação, alguns Estados brasileiros têm se destacado no combate à evasão escolar. Como exemplos, ele cita o Espírito Santo e Pernambuco, que ao longo dos últimos cinco anos consecutivos registrou a menor taxa de abandono escolar do Brasil na rede estadual de ensino médio (1,5% em 2018, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira/ Inep, vinculado ao MEC). A melhora é relacionada a um programa de educação em tempo integral desenvolvido pelo MEC.
Corrêa considera que as mudanças curriculares do Novo Ensino Médio, aprovadas no ano passado, podem aumentar o engajamento dos alunos com a escola nessa fase da vida, potencialmente sanando um problema crítico para a evasão: o desinteresse dos alunos pela escola.
Com o novo modelo, o ensino médio deixará de ter um currículo único e passará a ter pelo menos 40% da carga horária dedicada a um currículo "customizado" de acordo com os interesses do aluno - que poderá se aprofundar, por exemplo, em disciplinas de humanas ou de exatas, e incluir cadeiras de ensino técnico profissionalizante, já preparando os estudantes para o mercado de trabalho.
As mudanças ainda estão sendo discutidas pelas secretarias estaduais de ensino e devem começar a ser implementadas na rede de ensino médio a partir do ano que vem.
"Se for bem implementado, estaremos indo em direção a sistemas educacionais mais avançados, e a expectativa é de aumentar o aprendizado e reduzir a evasão", afirma Corrêa.
Da roça de volta para a escola
Diante da ampla gama de motivos para a evasão e da obrigatoriedade constitucional de que os alunos estejam na escola, programas de "busca ativa" fazem parte do esforço de Estados e municípios para identificar casos de evasão, indo atrás dos alunos que saíram e adotando as medidas necessárias para trazê-los de volta para a escola.
Um exemplo dessa abordagem é o Busca Ativa Escolar, uma plataforma lançada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em junho de 2017 e adotada por quase 3 mil municípios brasileiros como parte de suas estratégias para tentar mapear e resgatar crianças e adolescentes fora da escola.
Luan Carvalho da Silva Pires, de 17 anos, caminhava para se tornar um exemplo clássico de evasão escolar. Ele mora em um assentamento rural de 39 famílias em Piraí, município de 60 mil habitantes no interior do Rio, na região do Vale do Paraíba.
Levava quase duas horas para chegar na escola, enfrentando van, ônibus e um longo trecho da Rodovia Presidente Dutra em cada trecho. Já havia repetido de ano três vezes. Depois de concluir o 7º ano, em dezembro passado, decidiu que não queria mais voltar.
"Eu queria trabalhar. Em qualquer lugar. Para comprar as minhas coisas e ajudar em casa", lembra o rapaz de 17 anos. Ele mora com a mãe, que trabalha na roça, o padrasto, que é ajudante de pedreiro, e os cinco irmãos.
Um agente municipal de saúde soube de seu caso. Registrou um alerta com o nome de Luan na plataforma digital do Busca Ativa Escolar. Depois de receber o alerta, a professora municipal Silvania Gonçalves Rocha, coordenadora do programa em Piraí, pegou a Kombi da Secretaria de Educação e bateu em sua porta.
"Eu fui lá e contei a minha história", diz Silvania. "Vim de uma família muito humilde, a minha mãe sempre me incentivou a estudar, e sempre conto que o único jeito de a gente mudar a vida é pelo estudo. O caminho que abre portas é pelos livros."
Ela própria se tornou órfã do pai aos 8 anos e cresceu em uma família de sete irmãos, criados pela mãe, empregada doméstica. "Eu digo que vim de uma classe em que eu poderia ter desistido, e não desisti", afirma.
Luan resistiu, e só foi convencido depois que Silvania prometeu encontrar uma vaga em uma escola mais próxima. Foi matriculado na Escola Municipal Lúcio de Mendonça, e agora leva 40 minutos para a escola em uma van da prefeitura que o busca em casa.
Está matriculado no 8º ano do ensino fundamental - três séries a menos do previsto para a sua idade. Mas se diz animado com a escola nova e correndo atrás dos dois meses de aula que perdeu no início do ano.
"Está bom, né? Estou trabalhando para recuperar. Agora quero estudar", diz ele. "Queria ser veterinário. Tenho meus bichos aqui na roça" - diz, e é possível ouvir galinhas cacarejando à sua volta enquanto conversa por telefone com a reportagem. "Está na hora de elas comerem de novo", comenta rindo.
Mas feliz mesmo com o retorno do menino para a escola ficou sua mãe, Cirlene da Silva Pires. "Apesar da gente morar na roça, meu sonho é ver meus filhos formados. Para eles não passarem o que a gente passa. A vida na roça é muito dura", diz a mãe.
Contra a violência
De acordo com o chefe de Educação do Unicef no Brasil, Ítalo Dutra, para funcionar, o programa de busca ativa depende do engajamento público em vários níveis. Deve envolver secretarias de Educação, Saúde e Assistência Social, associações de moradores e conselhos tutelares do Ministério Público - tanto para mapear os alunos fora da escola quanto para sanar os obstáculos que se apresentam.
Ele ressalta que combater a evasão escolar é também uma forma de proteger crianças e adolescentes contra a exposição a violência e contra violações de direitos.
"Em geral as violências mais extremas, letais, armadas, são parte de uma história de privações de direitos que começam muito antes", diz Dutra. "O direito à educação abre portas para a garantia de direitos."
Yan de Oliveira Rosa Aureliano, de 18 anos, tinha desistido de estudar por causa da violência em Paraty, mas acabou voltando para a escola com ajuda do programa.
Ele mora em Trindade, uma vila de pescadores na costa do Rio, mas só obtivera vaga no centro de Paraty, no turno da noite, a 25 km de distância. Seus pais foram contra, temendo a violência que aumenta na região.
Ele passou mais de um semestre sem aulas, até que uma agente comunitária soube de seu caso e registrou-o no sistema. Acabou sendo alocado em uma turma do Educação para Jovens e Alunos, recém-aberta em Trindade.
Yan voltou para a escola em setembro. Está cursando o 9º ano na Escola Municipal Saulo Alves da Silva. Seus colegas de turma têm entre 16 e 60 anos.
"Agora as aulas são a 50 metros da minha casa", comemora ele. "Acho que foi muito bom para mim. Preciso mesmo terminar os meus estudos."
Yan diz que desde criança deseja estudar biologia marinha, e não sente falta dos dias fora da escola. "Eu não tinha nada para fazer. Ficava entediado o dia inteiro."
Foi convertido em lei o Projeto de Lei 48/07, que garante a irmãos que frequentam a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica vagas na mesma escola pública próxima a sua residência. A Lei 13.845/19foi sancionada, sem vetos, pelo presidente Jair Bolsonaro, na terça-feira (18).
A lei, oriunda do projeto do ex-deputado Neilton Mulim, alterou o inciso V do art. 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garantia apenas o acesso à escola pública e gratuita próxima da residência do aluno.
Por Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
O número médio de anos de estudo no Brasil aumentou entre 2016 e 2018. O indicador passou de 8,9 anos para 9,3 anos em 2018. Desde 2016, essa média vem crescendo, anualmente, 0,2 ano.
Entre as mulheres ficou em 9,5 anos, enquanto entre os homens é de 9 anos. A diferença entre pessoas brancas, pretas e pardas é evidente neste caso. As brancas registraram 10,3 anos, mas o número cai para 8,4 anos nas pretas e pardas, uma diferença de quase dois anos que se mantém desde 2016.
Os dados estão incluídos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Educação 2018 (Pnad Educação), divulgada hoje (19),no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Todas as regiões do país tiveram melhoras, sendo que o Centro-Oeste e o Norte registraram o maior ganho. A primeira passou de 9,2 para 9,6 e a segunda de 8,3 para 8,7 anos.
O Nordeste saiu de 7,6 para 7,9 entre 2016 e 2018; o Sudeste subiu de 9,7 para 10,0; e o Sul foi de 9,2 para 9,5 anos.
“Entre as regiões isso mostra que as oportunidades de estudo são distintas. Isso a gente olha também entre as pessoas de cor preta ou parda e as de cor branca”, disse a analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE (Coren), Marina Aguas.
Primeiros anos
A faixa de zero a 3 anos tem apenas 34,2% de escolarização que são as creches, mas aumenta muito quando a criança tem idade mais elevada. Entre 4 e 5 anos atinge 92,4% e de 6 a 14 anos chega a 99,3%.
Na visão de Marina, o grande destaque é que as crianças de 6 a 14 anos estão na escola, e isso vem se mantendo desde 2016, quando foi divulgada a primeira Pnad Contínua Ampliada de Educação.
No entanto, há um ponto negativo: depois dessa faixa começa a ocorrer um descasamento de permanência escolar.
“Essas crianças que estão na idade educacional estão estudando e é [um fato] superpositivo. Agora, já começa um descasamento entre a idade e a etapa adequada com 15 anos de idade. Entre 11 e 14 anos, essas crianças deveriam estar na segunda parte do ensino fundamental, do sexto ao nono ano. O que a gente observa é que já vem um grupo atrasado. Se ele está atrasado, ainda está fazendo os anos iniciais do fundamental e, provavelmente, chega atrasado no ensino médio, isso mostra essa questão de inadequação de idade e etapa”, completou.
Alerta
A analista alertou que o problema do atraso pode influenciar a permanência do aluno na escola. “É importante notar que o atraso nos anos finais no ensino fundamental pode aumentar a probabilidade dessa criança vir a sair ou ficar desmotivada com a escola na etapa seguinte. Então, tem que se dar uma importância maior ao ensino fundamental para que a criança não fique atrasada e não desanime”, explicou.
Em 2018, de acordo com a pesquisa, 13,3% das crianças entre 11 e 14 anos já estavam atrasadas em relação à etapa de ensino, que deveriam estar cursando ou não estavam na escola.
Entre os que estavam frequentando pelo menos os anos finais do ensino fundamental, 84,7% eram meninos e 88,7% meninas. Nas de cor branca, 90,4% estavam na idade e série adequada e as pretas e pardas a taxa era 84,5%.
Nas perguntas feitas aos jovens de 15 a 29 anos sobre as razões de não frequentar a escola, ou um curso de educação profissional ou de pré-vestibular, 47,7% dos homens disseram que era por causa do trabalho, e a segunda maior parcela reunia 25,3%, porque não havia interesse.
Mulheres
As respostas das mulheres têm diferenças. Enquanto 27,9% disseram que o empecilho era o trabalho, 23,3% indicaram afazeres domésticos e cuidados de pessoas, motivo que entre os homens é quase insignificante (0,8%). “Isso é o principal motivo. A pessoa alegou como principal razão por não estar estudando”.
A pesquisadora destacou que não se deve aplicar a expressão nem, nem, que costuma ser usada para classificar a pessoa que não estuda e nem trabalha, para avaliar a questão de condição de estudo e a situação na ocupação que faz parte da pesquisa.
Pesquisa identificou tempo em que alunos passam estudando em salas de aula (Arquivo/Agência Brasil)
“O fato de a pessoa não estar ocupada no mercado e não estar estudando, não significa que ela é inútil.Grande parte das mulheres alegou que não estão estudando por causa de afazeres domésticos ou estão cuidando de pessoas. Isso dentro das questões de gênero é muito importante. É visto como uma outra forma de trabalho que não é voltado para o mercado, então, não se deve usar o nem, nem, porque esquecem que a pessoa pode estar fazendo outras coisas”, defendeu.
Pesquisa
De acordo com o IBGE, desde 2012 a Pnad Contínua levanta trimestralmente, por meio de questionário básico, informações sobre as características de educação para as pessoas de 5 anos ou mais de idade.
A partir de 2016, o estudo começou a incluir o módulo anual de educação, que, durante o segundo trimestre de cada ano civil, amplia a investigação dessa temática para todas as pessoas incluídas na amostra.
Paula Adamo Idoeta -@paulaidoetaDa BBC News Brasil em São Paulo
As escolas brasileiras perdem mais tempo com tarefas não relacionadas ao aprendizado e são um ambiente mais propício ao bullying e à intimidação do que a média internacional, segundo dados obtidos a partir da avaliação dos próprios professores e diretores escolares. E isso acaba prejudicando os esforços pedagógicos para melhorar a educação.
Em uma aula típica, os professores brasileiros passam, em média, apenas 67% do tempo com o processo de aprendizado - o restante acaba sendo dedicado a tarefas administrativas, como fazer chamada, ou disciplinares, como manter a ordem da classe.
A informação é parte da pesquisa Professores e Líderes Escolares como Eternos Aprendizes (Talis, na sigla em inglês), que acaba de ser divulgada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Na média da OCDE - que entrevistou 250 mil professores e líderes escolares de 48 países ou regiões -, os professores usam 78% do tempo de sala de aula com aprendizagem. Atrás do Brasil, só professores da África do Sul e da Arábia Saudita gastam mais tempo com tarefas não relacionadas ao aprendizado.
Para a OCDE, o efeito cumulativo disso traz grandes perdas para o aluno.
"A perda de alguns minutos por dia, somados, acaba totalizando a perda de vários dias no ano escolar, por isso o tempo gasto no aprendizado é tão importante", diz à BBC News Brasil Karine Tremblay, principal autora do estudo.
"Um exemplo concreto: uma perda de apenas 5% no tempo gasto ensinando corresponde a 12 dias e meio no ano."
A única ressalva que ela faz é que esse tempo administrativo pode estar sendo positivamente gasto se for explicando novas tarefas aos alunos ou acompanhando-os em atividades especiais, como as extraclasse, que tendem a exigir mais tempo de gerenciamento.
Intimidação e bullying
Outro dado que chamou a atenção de Tremblay é que 28% dos diretores escolares brasileiros relataram ter testemunhado situações de intimidação ou bullying entre alunos, o dobro da média da OCDE. Semanalmente, 10% das escolas brasileiras pesquisadas registram episódios de intimidação ou abuso verbal contra educadores, segundo eles próprios, com "potenciais consequências para o bem-estar, níveis de estresse e permanência deles na profissão", diz a pesquisa. A média internacional é de 3%.
"É claramente uma questão preocupante e alta para os padrões da OCDE", afirma Tremblay. "O Brasil não está sozinho - países como a França e regiões como a comunidade flamenga da Bélgica, também parte da pesquisa - têm índices elevados (de bullying e intimidação), mas o Brasil está entre os de índices mais altos do mundo, que têm se mantido estável nos últimos cinco anos."
Tremblay explica que a OCDE não analisou os motivos por trás desses índices, mas explica que "as tendências estatísticas mostram que eles são muito sensíveis às políticas públicas de combate ao bullying".
A pesquisadora explica que, em muitos ambientes escolares, o bullying e a agressividade acabaram sendo "normalizados" e minimizados, com impactos negativos sobre o aprendizado. "Claramente, se os estudantes não se sentem seguros em sua própria escola, não há condições para aprender."
Tremblay opina que é só quando "todos no ambiente escolar, de pais a educadores e estudantes, entenderem que essa questão não é aceitável e precisa ser enfrentada é que o problema será combatido. É preciso informar diretores de que isso é um problema sério, que afeta o bem-estar e portanto o aprendizado dos alunos, e realizar campanhas de conscientização para estimular vítimas e testemunhas a relatar os casos."
Perfil dos educadores brasileiros
A Talis 2018 - maior pesquisa mundial de educadores - entrevistou 2.447 professores da educação básica e 184 diretores de escolas brasileiras.
A média de idade dos professores brasileiros é de 42 anos e a dos diretores escolares, 46 anos (o que significa, nos cálculos da OCDE, que um quarto dessa força de trabalho terá de ser renovada pelo país em pouco mais de uma década, à medida que esses educadores se aposentarem).
É, majoritariamente, uma carreira feminina no Brasil: 69% dos professores e 77% dos diretores são mulheres.
Do total de educadores, quase dois terços afirmaram que o magistério foi sua primeira escolha de carreira profissional.
Entre os pontos positivos destacados pela pesquisa, 80% dos entrevistados brasileiros afirmaram que há apoio entre colegas para a implementação de novas ideias no ambiente escolar. E a proporção (33%) de professores novatos brasileiros que contam com a ajuda de mentores mais experientes - uma prática recomendada pela OCDE - é 11 pontos percentuais mais alta do que a média internacional.
Para a OCDE, a pesquisa sobre o universo docente é importante porque a educação atual deixou de ser relacionada "apenas a ensinar algo a alunos, mas sim a ajudá-los a desenvolver uma bússola confiável e ferramentas para navegar, com confiança, um mundo cada vez mais complexo, volátil e incerto".
"O professor atual precisa ajudar os alunos a pensar por si próprios e a trabalhar em conjunto, desenvolver sua identidade, agência e propósito. Por isso exigimos tanto dos nossos professores. (...) Estudantes dificilmente serão eternos aprendizes se não enxergarem seus professores como eternos aprendizes ativos."