Rafael Moro Martins
Colaboração para o UOL, em Curitiba
O processo seletivo que irá, segundo o prefeito eleito Marcelo Belinati (PP), definir o secretário da Educação de Londrina (381 km ao norte de Curitiba) recebeu 129 inscrições. Deles, 70 vivem na cidade, mas há também "gente do Ceará, da Paraíba, do Mato Grosso, de São Paulo", comentou o político. O prazo terminou na terça-feira (15).
Belinati foi eleito no primeiro turno, com 51,57% dos votos válidos, e irá comandar pelos próximos quatro anos a cidade de 553.393 habitantes, segundo maior município do Paraná e o quarto do Sul do país.
"Será um processo semelhante ao da escolha de um CEO de uma empresa", prometeu o novo prefeito. "Haverá análise curricular, psicológica, se pessoa tem conhecimento da rede pública municipal de Londrina", elencou. "Serão selecionados de três a cinco nomes, submetidos a mim, que darei a palavra final."
A opção pelo "concurso" não foi uma promessa de campanha. "Veio depois [do resultado nas urnas]. Eu tinha a ideia de fazer isso para toda a administração. Mas priorizei a Educação", explicou. "Quero mudar essa lógica [da indicação política]."
"Nós inovamos em relação ao João [Dória, tucano que comandará São Paulo a partir de 2017] (risos). Espero que ele se inspire em nós (risos)", brincou Belinati. O político garante que não há custos "nem para a prefeitura, nem para os inscritos".
Questionado pelo UOL sobre o motivo de fazer o processo apenas para a escolha do secretário da Educação, e por que não o estendeu para, por exemplo, a Fazenda ou a Saúde, ele disse que o "processo de escolha é lento e demorado, mas não está descartado".
Apesar de a seleção estar em curso, Belinati disse não descartar nomeações políticas no lugar do candidato aprovado para o cargo.
"Mesmo no processo seletivo [do secretário da Educação], a experiência em gestão pública será levada em conta. E não há [no acordo com a empresa que realiza a seleção, a Vetor Brasil] a obrigatoriedade expressa de que o nomeado deverá ser escolhido entre os finalistas", acrescentou.
"Tanto faz", diz sindicato
Presidente do Sindiserv (Sindicato dos Servidores Municipais de Londrina), Marcelo Urbaneja não demonstrou empolgação com o método anunciado pelo prefeito eleito para escolher o secretário da Educação. "É uma ideia que ele teve, está dentro da prerrogativa dele, então ele faz como achar melhor. Não temos que opinar a respeito disso", afirmou.
"Para nós, é indiferente. Nem positivo, nem negativo. Quando [o novo secretário] for escolhido, teremos que negociar condições de trabalho, número de alunos em sala de aula, toda a pauta que temos, que será trabalhada com qualquer secretário", argumentou.
"Ele [Belinati] está procurando maneiras de inovar, achou que esse ato atenderia a esse propósito. Não vejo como [algo] marqueteiro. A Secretaria da Educação sempre foi a menina dos olhos [da cidade]: 100% dos professores têm nível superior, muitos têm pós-graduação, alguns têm mestrado", afirmou Urbaneja.
Segundo o prefeito eleito, Londrina tem mais de 40 mil estudantes na rede pública municipal, distribuídos em 116 escolas, 34 centros de educação infantil próprios e 53 conveniados. O presidente do sindicato informa que cerca de 3,8 mil professores trabalham para o município, mas "4,5 mil seria o número ideal."
"É uma proposta bastante ousada, e positiva. Vejo com bons olhos a tentativa de buscar talentos que trabalhem com Educação, para dar um impacto na área. Normalmente, se escolhe um professor bem preparado da casa, ou um indicado político, que não tem preparo para o cargo. Mas, com certeza, vai encontrar muita resistência", avaliou o consultor em educação Renato Casagrande, ex-pró-reitor Acadêmico e de Planejamento e Avaliação na Universidade Positivo, em Curitiba.
"Se o prefeito eleito não for capaz de convencer os professores de que a estratégia dele vale a pena, vão lhe puxar o tapete. Se o secretário não mostrar a que veio, o projeto fracassa. E, muito importante, precisa ter estratégia de implantação [do novo modelo de administração], não basta apenas a novidade na escolha [do secretário]", argumentou.
Sobrenome famoso
Marcelo Belinati carrega consigo um sobrenome famoso em Londrina. O tio dele, Antonio Belinati, um ex-radialista, foi prefeito da cidade por três vezes entre as décadas de 1970 e 90. No terceiro mandato, foi alvo de acusações de desvio de dinheiro público, nepotismo, enriquecimento ilícito e fraude de licitações, entre outras irregularidades.
"Devido às acusações, foi afastado três vezes do cargo e, em 23 de junho de 2000, foi cassado pela Câmara Municipal de Londrina por 14 votos a seis. Após a cassação, o Tribunal de Contas do Paraná (TCE/PR) rejeitou a prestação de contas referente à sua gestão na prefeitura nos anos de 1997 e 1998, apontando gastos irregulares de cerca de 113 milhões de reais. Em 2001, foi preso duas vezes. Após ser libertado, voltou a comandar um programa de rádio", registra o verbete sobre ele no CPDOC da Fundação Getúlio Vargas.
Apesar disso, Antonio Belinati seguiu um político popular na cidade. Candidatou-se para um quarto mandato, em 2004, mas perdeu. Em 2008, venceu nas urnas, mas teve o registro cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e não tomou posse. A mulher dele, Emilia Belinati, foi vice-governadora entre 1995 e 2003, sob Jaime Lerner (sem partido, então no DEM). Um filho do casal, Antonio Carlos Belinati, primo de Marcelo, o prefeito eleito, foi deputado estadual.
Procurado pela reportagem, Antonio Belinati decidiu não comentar as acusações.
O processo de seleção será realizado em parceria com a Vetor Brasil, ONG que informa em seu site a missão de "desenvolver talentos e práticas no governo para oferecer serviços públicos de qualidade a quem mais precisa". A companhia tem apoio, dentre outros, da Fundação Lemann, do multimilionário Jorge Paulo Lemann.
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