sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Reprovação não soluciona baixa aprendizagem e aumenta gastos públicos, diz Álvaro Chrispino

Mato Grosso aparece em terceiro lugar entre os Estados que mais têm abandono no ensino fundamental. A situação de MT e o panorama nacional da questão foram apresentados pelo professor doutor em Educação, Álvaro Chrispino que falou sobre os desafios da gestão pública frente aos conflitos escolares durante o III Fórum Municípios & Soluções "Diagnósticos e Desafios do ensino público em Mato Grosso", realizado pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso. "Os modelos de gestão e de ensino são adequados às demandas tão heterogêneas que as escolas precisam atender?", questionou o palestrante do I Painel cujo tema foi o "Planejamento do Ensino Fundamental".
Para Álvaro Chrispino, a gestão e o modelo educacional devem ser repensados. Ponderou que a busca pela ampliação da cobertura da Educação pode ser encontrada nos discursos e ações de Getúlio Vargas, mas alcançou seu ápice na década de 1970, Por volta de 1998, o país alcança aproximadamente 98% das crianças no Ensino Fundamental. Mas, "garantia de acesso e não de qualidade, nem de saída para mudanças na estrutura social. Como o aumento de vagas, aumento do número de professores e quantidade de escolas ocorreu de maneira rápida, trouxe problemas de orçamento e de formação de pessoal adequado e por muitos anos reprovamos o aluno porque ele não aprendeu e acreditamos que no ano seguinte ele irá aprender".


"Garantia de acesso e não de qualidade, nem de saída para mudanças na estrutura social. Como o aumento de vagas, aumento do número de professores e quantidade de escolas ocorreu de maneira rápida, trouxe problemas de orçamento e de formação de pessoal adequado e por muitos anos reprovamos o aluno porque ele não aprendeu e acreditamos que no ano seguinte ele irá aprender" ÁLVARO CHRISPINO, PROFESSOR DA UFRJ E DOUTOR EM EDUCAÇÃO

A reprovação, de acordo com o palestrante, não trouxe vantagens ao ensino e ainda estabeleceu uma série de equívocos que vão desde problemas no aprendizado ao aumento de gastos por parte da gestão pública. "São gestores, professores, ou seja, os adultos, que definem todos os conteúdos, os objetivos, a metodologia de ensino a ser empregada, as avaliações, a organização e o livro didático, mas são os alunos, ou seja as crianças, é que são reprovados", afirma. Uma possibilidade para alterar essa realidade, segundo Chrispino, é repensar o modelo educacional e para tanto o palestrante discorreu sobre as vantagens e resistências quanto ao sistema de ciclos que "se bem aplicado, eles pode evitar o abandono e melhorar a aprendizagem".
Professor Álvaro Chrispino que falou sobre os desafios da gestão pública
frente aos conflitos escolares durante o III Fórum Municípios & Soluções
É fundamental, segundo Álvaro Chrispino, fazer questionamentos como: Quem ganha com a reprovação? Quem precisa ser reprovado? Se reprovar não favorece a aprendizagem, por que reprovamos? Qual o custo financeiro e social da reprovação? De acordo com dados nacionais sobre o custo do ensino por aluno, constatou-se que as reprovações elevam em 36% os gastos com Educação a situação ainda se agrava quando analisados os indicadores nacionais de aprendizagem que apresentar baixos números na avaliação de proficiência (verifica o nível de conhecimento e como o aluno o utiliza).
A maior dificuldade da gestão é compreender e identificar as razões para os problemas de maneira científica, considerando variáveis gerais e também as específicas de cada região, propor soluções e avaliar. "É por isso que o problema persiste, pois ele não é sequer delineado e menos ainda solucionado, no passado, por exemplo, gastamos muitos recursos tentando ver porque ocorre a evasão, por exemplo, quando deveríamos nos concentrar na reprovação, aí está o desafio na elaboração de políticas públicas, pois para definir indicadores precisamos focar nas pessoas e trabalhar com a comunidade", defendeu.
As vantagens do sistema de ciclos é que ele não está preocupado em reprovar e se bem aplicado garante o aprendizado, diminui o abandono e o custo. "Mas se o ensino oferecido não é adequado, o problema será refletido na vida do aluno e discutir se reprovamos ou aprovamos é um falso dilema, a questão central é lembrar que o sistema de ensino não foi criado para dar emprego a professores, ele foi montado pela sociedade para oferecer ensino e a medida do sucesso de um sistema de ensino é o aluno", finalizou.


http://www.tce.mt.gov.br/conteudo/show/sid/73/cid/40888/t/Reprova%E7%E3o+n%E3o+soluciona+baixa+aprendizagem+e+aumenta+gastos+p%FAblicos++diz+%C1lvaro+Chrispino

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