A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina desacelerou em 2014, caindo para menos de 1,5%. É a primeira vez em uma década que a região cresce menos do que a média dos países da Organização pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de acordo com o Centro de Desenvolvimento da OCDE, a Comissão para a América Latina e Caribe (UN-ECLAC) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina. Dadas as projeções das últimas semanas, qualquer recuperação em 2015 será desafiadora.
No estudo "Perspectiva Econômica da América Latina 2015" (documento em inglês), produzido em conjunto pelas três organizações, os grupos chamam a atenção para ações para tratar esse atraso, focando no papel da educação e das habilidades e notando que, apesar de certo progresso recentemente, mais ações precisam ser feitas para aumentar os padrões educacionais e lidar com as persistentes e substanciais desigualdades socioeconômicas.
"Se nós queremos evitar uma década de baixo crescimento da América Latina, nós precisamos melhorar os padrões educacionais, aprimorar as habilidades da força de trabalho e incentivar a inovação. Os tomadores de decisões precisam empreender esforços ambiciosos para desencadear um crescimento maior e mais igualitário", disse o Secretário Geral da OCDE Angel Gurría durante o lançamento do estudo no Congresso Ibero-Americano em Veracruz (MEX), no dia 9 de dezembro.
Mudanças estruturais - tais como a diversificação da economia tendo em vista setores baseados no conhecimento - são necessárias para superir a crescente demanda por trabalhadores habilidosos. Como foi destacado por Alicia Bárcena, Secretária Executiva da ECLAC, "sem a transformação da estrutura de produção, existirá um elo perdido na corrente que liga educação, produtividade e inovação".
Tal elo tem implicações importantes na distribuição de renda. Diversificação significa a criação de empregos de qualidade e com melhores salários, o que, por sua vez, cria menos informalidade e subempregos - e consequentemente, menos desigualdade. Políticas para aprendizado e diversificação deveriam estar no topo da agenda nos próximos anos na América Latina e Caribe.
"Na ausência de um ambiente externo excepcionalmente favorável, a região precisa aprofundar a integração regional e lidar com os desafios estruturais do desenvolvimento para dar suporte ao seu potencial de crescimento, principalmente nas áreas de inovação, nos padrões de produção, na educação e nas capacidades técnicas que tudo isso necessita", afirmou Enrique Garcia, presidente e executivo-chefe (CEO) do Banco de Desenvolvimento.
O estudo destaca que, na média, a diferença de performance entre um aluno numa escola secundária da América Latina em relação a um aluno da OCDE ainda é bastante alta: o equivalente a 2,4 anos adicionais de ensino. Além disso, as desigualdades socioeconômicas influenciam tanto o acesso como os resultados da educação na região. Apenas 56% dos alunos no quadrante mais pobre da população frequentam escola secundária, contra 87% dos estudantes no quadrante mais rico.
Limitações na qualidade da educação também são refletivas no apagão de profissionais habilidosos e desigualdades no mercado de trabalho, o que impacta gravemente a competitividade das companhias latino-americanas. Os negócios da região enfrentam desafios ainda maiores ao procurar empregados com as habilidades necessárias do que em qualquer outra região do mundo. A pesquisa mostra que a probabilidade de uma empresa latino-americana encontrar obstáculos na busca por uma equipe com as capacidades adequadas é três vezes maior do que a de uma empresa similar no sul da Ásia e 13 vezes maior do que uma empresa na Ásia Pacífica. A questão é particularmente grave em alguns setores chave, como a indústria automotiva e de maquinaria.
Para enfrentar esse agudo apagão, políticas focais são necessárias na educação pré-primária, secundária, técnica e profissional. Os gestores precisam prover um investimento maior e mais inteligente na educação pré-primária, onde acontece o desenvolvimento de habilidades motoras finas, tais como socialização e perseverança no aprendizado, as quais são de imporância crítica para o mercado de trabalho. Políticas também são necessárias para garantir que recursos sejam redistribuídos para reduzir desigualdades socioeconômicas. As práticas em sala de aula precisam ser adaptadas para garantir melhor performance, incluindo tutoria, gerenciar expectativas dos professores e motivação dos alunos, Aumentar a qualidade dos professores também depende de monitoração, avaliação e melhores incentivos.
Finalmente, o governo e a iniciativa privada precisam trabalhar juntos para conectar melhor o treinamento técnico e vocacional com a demanda por habilidades numa economia mundial em mudança.
Fonte: OCDE. Imagem: Reprodução estudo Perspectiva Econômica da América Latina
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