terça-feira, 30 de setembro de 2014

Política educacional com foco nas emoções


Canadá vira exemplo – O estímulo ao desenvolvimento de virtudes e emoções úteis à aprendizagem é praticado nas escolas públicas do Canadá há oito anos, conta Jennifer Adams, secretária de Educação do distrito de Ottawa-Carleton. Segundo ela, após se manter como uma das três nações mais bem colocadas no programa internacional de avaliação Pisa, o país teve dificuldades em avançar mais. A saída foi investir em metodologias que fossem além das capacidades cognitivas. “Percebemos que não falávamos o suficiente sobre valores. Essa foi a forma de voltar a crescer”
Conselho Nacional de Educação definirá diretrizes para o desenvolvimento de competências como perseverança e responsabilidade
O fato de que crianças emocionalmente equilibradas têm melhor desempenho é uma realidade intuída há tempos por profissionais da educação. Mas, pela primeira vez, a partir de 2015, o Brasil deve ganhar diretrizes oficiais sobre o assunto para a na rede pública. As competências socioemocionais, nome dado ao socioemocionais (conjunto de habilidades ou virtudes capazes de auxiliar na aprendizagem, como perseverança, coragem e responsabilidade, responsabilidade) estão em análise no Ministério da Educação (MEC) e passarão a ser promovidas via política pública.
Segundo Francisco Cordão, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), o tema é discutido internamente desde outubro de 2013, e estão previstas para o fim deste do ano, ou início de 2015, o acolhimento definitivo das competências socioemocionais, também chamadas de não-cognitivas, socioemocionais dentro das normas que regem a educação básica no país. O conselheiro esclarece, contudo, que não se tratará de uma nova disciplina. “Não muda nada da grade curricular. Essas são competências que têm de ser desenvolvidas de modo integrado a todas as áreas. Não faria sentido criar uma disciplina específica sobre o tema”, disse Cordão o, durante o seminário sobre o assunto promovido pelo Instituto Ayrton Senna, em São Paulo, no início de setembro.
Afastando as suspeitas de que se trata de mais um modismo na área, Para a presidente do instituto, Viviane Senna, disse que, de certa forma, a importância das competências socioemocionais sempre foram conhecidas por educadores, e muitos educadores. Muitos buscam desenvolvê-las em seus alunos, mas jamais houve uma política pública que guiasse esse desenvolvimento de modo intencional e em grande escala. “Intuitivamente, Intuitivamente sabemos que ser persistente, ter foco e disciplina são importantes, mas esse é um tipo de saber oculto, do qual não se fala muito. Queremos desenvolvê-lo de modo intencional.
Um dos pioneiros a trabalhar com o tema no Brasil, o instituto uniu-se à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mico na criação de um sistema de avaliação que permite mensurar o desenvolvimento dos alunos nesse tipo de competência. Batizado de SENNA (Social and Emotional or Non-cognitive Nationwide Assessment Assessment), algo como “Avaliação Nacional Não-cognitiva ou Socioemocional”, o modelo avaliativo deve ser oferecido gratuitamente a gestores de políticas públicas a fim de subsidiar o planejamento das redes de ensino no que diz respeito às competências socioemocionais.
Professores
A psicóloga e consultora educacional Anita Abed foi uma das pesquisadoras ouvidas pelo CNE para a construção de diretrizes nacionais leia mais sobre o tema. Para ela, o avanço na área das competências socioemocionais envolverá, principalmente, a formação diferenciada de professores, que devem se tornar profissionais mais complexos, capazes de lidar com habilidades não-cognitivas e conteúdos comuns de modo integrado, por meio de projetos. “Por muito tempo pensou-se que a emoção apenas atrapalhava o estudo. É hora de passar a vê-la como algo que promove aprendizagem, porque engaja e mobiliza”, diz.
Tema chegou às escolas do Canadá há oito anos
O estímulo ao desenvolvimento de virtudes e emoções úteis à aprendizagem é praticado nas escolas públicas do Canadá há oito anos, conta Jennifer Adams, secretária de Educação do distrito de Ottawa-Carleton, palestrante no seminário promovido pelo Instituto Ayrton Senna.
Segundo Jennifer, depois de Carleton. Segundo ela, após se manter em várias edições seguidas como uma das três nações mais bem colocadas na avaliação de aprendizagem internacional no Pisa, o Canadá passou a ter país teve dificuldades em avançar ainda mais. A saída foi investir em metodologias que fossem além das capacidades cognitivas.
“Percebemos que não falávamos o suficiente sobre valores, e, depois valores. Depois de termos atingido um determinado nível, essa foi a forma de voltarmos voltar a crescer.” A educadora canadense destaca que a principal mudança promovida pelas competências socioemocionais na educação do país foi a redução na desigualdade de desempenhos. “Equidade é o item do qual eu mais me orgulho em meu distrito, pois a diferença do melhor para o pior desempenho caiu muito”, descreve Jennifer.
Ela conta que alunos que não iam bem passaram a melhorar progressivamente conforme eram trabalhados em sala de aula temas como otimismo, integridade e persistência.
Capes financiará projetos voltados às habilidades não-cognitivas
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) lançou em julho desse ano um edital específico para o financiamento de pesquisadores no campo das competências socioemocionais. O órgão deve disponibilizar R$ 566 mil anuais por projeto direcionado ao tema.
As inscrições para concorrer às bolsas foram encerradas em 5 de setembro, e estão participando docentes de programas de pós-graduação em educação, psicologia, psicopedagogia e áreas afins, cujos programas tenham obtido nota igual ou superior a 3 na última avaliação da Capes. O resultado deve ser divulgado em outubro. O programa de bolsas deve contemplar três coordenadores de pesquisa, dois doutorandos, seis mestrandos, 18 graduandos e 18 professores de educação básica.
Alunos virtuosos aprendem até um terço mais
Segundo o Instituto Ayrton Senna, a versão piloto do SENNA, testado em 25 mil alunos da rede estadual do Rio de Janeiro, constatou que os estudantes mais responsáveis e focados aprendem em um ano letivo cerca de um terço a mais de matemática do que os colegas que apresentam essa competência menos desenvolvida. A mesma diferença de aprendizagem é detectada na aprendizagem de português quando se consideram os alunos com maior e menor nível de protagonismo ou autonomia.
No que diz respeito à condição socioeconômica, no entanto, o levantamento mostrou que, em média, pais mais ricos e com mais escolaridade não têm, necessariamente, filhos mais responsáveis ou autônomos do que pais de menor poder aquisitivo e que passaram menos tempo na escola.
A primeira versão do Senna foi baseada em questionários direcionados a alunos e professores, e validado durante a aplicação de projetos pedagógicos em sala de aula. O instituto informa, no entanto, que uma versão aprimorada da ferramenta está em desenvolvimento.
* o jornalista participou do seminário a convite do Instituto Ayrton Senna.
Autor: Gazeta do Povo

http://undime.org.br/politica-educacional-com-foco-nas-emocoes/

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