sexta-feira, 28 de março de 2014

"Há um descompasso entre o que se ensina e o que se testa nas avaliações", diz Lorin Anderson

Do Todos Pela Educação, em Brasília
Avaliações de larga escala podem não estar avaliando o que, de fato, os sistemas estão ensinando aos alunos. A tese é defendida pelo pesquisador Lorin Anderson, da Universidade da Carolina do Sul (EUA), um dos convidados do Seminário Internacional Devolutivas das Avaliações de Larga Escala, que ocorreu no dia 12 de março, em Brasília, na sede do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O evento foi uma realização do Inep, do movimento Todos Pela Educação e da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave) e reuniu, além de Anderson, o professor Jesús Jornet, da Universidad de Valencia, e Bruce Rodrigues, do Education Quality and Accountability Office de Ontário (Canadá).
“Você formula a questão com uma intenção, mas o aluno a responde com outra”, afirma Anderson. Para exemplificar, ele cita uma questão de matemática aplicada a estudantes norte-americanos, que continha o seguinte problema: um ônibus do exército tem capacidade para transportar 36 soldados. Se 1.128 soldados estão sendo transportados para um local de treinamento, quantos ônibus são necessários? Os dados mostram que 18% dos estudantes responderam 31, resultado que deixa 12 soldados para trás; 29% disseram 31 ônibus, restando 12 pessoas, o que equivale a cortar um ônibus em terços; 23% optaram pela resposta correta, que era 32 ônibus, e 30% por outra alternativa. Ou seja: apesar de 70% dos estudantes terem realizado o cálculo corretamente, menos de um quarto respondeu à pergunta corretamente.
Anderson afirma que interpretar um teste educacional significa fazer com que o teste faça sentido em relação ao seu próprio propósito. Porém, o que ele tem visto é que nem sempre o conteúdo pedido nas avaliações educacionais de larga escala está coerente com os objetivos de aprendizagem. Ou seja: há um desnivelamento entre o conteúdo ensinado e o que se queria descobrir com o teste.
“Nesse exemplo da matemática, vemos que os estudantes estão aprendendo regras em vez de aprender a disciplina. A questão está bem formulada, mas tem a intenção de fazer com que o estudante avalie a razoabilidade da solução por ele escolhida frente ao problema”, explica. “Se apenas 23% acertam, isso sugere que o pessoal da instrução [os professores] não está alinhado com o que se deseja.” Segundo Anderson, os resultados mostram que muitos estudantes aparentemente leem o item concentrando-se apenas na aplicação do algoritmo – as respostas mostram isso.

Teoria
Um dos caminhos propostos por Lorin Anderson para ajustar essa discrepância entre avaliação e ensino é adotar, tanto na organização das avaliações como na formulação do currículo uma matriz de classificação (taxonomia) dos objetivos educacionais que faça sentido para os professores. Essa matriz tem por base a chamada Taxonomia de Bloom, proposta na década de 1940 por Benjamin S. Bloom, e revisada nos anos 1990 por um grupo de seis pesquisadores, entre eles o próprio Anderson. O trabalho foi liderado por David Krathwohl, um dos autores do original. O resultado dessas reuniões foi a publicação, em 2001, de “A Taxonomy for Learning, Teaching, and Assessing: A Revised of Bloom’s Taxonomy”.
Uma das dimensões da matriz proposta na taxonomia revisada de Bloom dá conta dos processos cognitivos, dispostos na seguinte ordem:
1. Lembrar
2. Entender
3. Aplicar
4. Analisar
5. Avaliar
6. Criar
A outra dimensão diz respeito à tipologia do conhecimento, que pode ser:
A. Factual
B. Conceitual
C. Procedimental
D. Metacognitivo
Ao cruzar essas duas dimensões, é possível classificar todos os objetivos de aprendizagem, segundo os pesquisadores. “E não há uma preocupação com o acúmulo hierárquico do conhecimento, algo que era presente, e bastante criticado, na taxonomia original de Bloom”, explica Anderson.
Essa organização faz com que a conexão entre os itens das avaliações e os objetivos de aprendizagem se dê por meio de verbos e não por meio dos conteúdos. “Se um objetivo de aprendizagem contempla o verbo ‘classificar’, então a questão do teste tem de pedir aos estudantes que ‘classifiquem’ algo”, exemplifica Anderson.
Autocrítica
Ao responder perguntas da plateia, Anderson surpreendeu ao destacar que, em seu país, os Estados Unidos, os testes infelizmente vêm sendo utilizados apenas para classificar e ranquear escolas. “É a única coisa que sabemos fazer”, ironizou. “Nunca seremos o sucesso de Ontario – se acontecer, será em lugares pequenos. Isso porque, no meu país, acredita-se que existem alunos incapazes de aprender. E também atribuímos os melhores professores aos melhores alunos, algo que não faz o menor sentido.”
Para ver a apresentação completa de Lorin Anderson, clique aqui.
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/noticias/29875/ha-um-descompasso-entre-o-que-se-ensina-e-o-que-se-testa-nas-avaliacoes-diz-pesquisador-norte-americano/

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