As experiências infantis, guardadas na memória, chegam à equivalência de poesia pelas mãos de alguns poetas. A infância é um lugar onde o poético surge de brincadeira. Nela encontramos fecundo material para o fazer poético, pois ali temos o espanto com as coisas “óbvias” da vida. A linguagem está ainda naturalmente brincando na sua formação. Por isso, há uma fluente transgressão linguística, o que muito serve à poética das despalavras, tão percorrida por Manoel de Barros.
O poeta mato-grossense trilha por passos que avançam para o criançamento na seu ato poemático. O eu lírico de seus poemas – não poucas vezes – é criança que se lança nas sagas das palavras-brinquedos, montando sua poesia como um jogo de lego.
O escritor é autor de vários livros, dentre eles: Exercícios de ser criança, Cantigas para um passarinho à toa e Poeminha em língua de brincar; onde recobra suas infâncias (reais e imaginárias). Um dos seus versos apontam o porquê dessa sua desenvoltura: “Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças”.
A infância é fonte de aprendências para o poeta. Lá, a imaginação fecunda não tem as prisões da vida adulta, tão pragmática.
A criança retratada nos versos de Manoel de Barros é aquela disposta a peraltices, a invenções: “Gostei mais de um menino que carregava água na peneira”. Os inventos do seu eu lírico percorre as inutilezas do imaginário e ganha olhar vesgo de criança; por isso, atinge a dimensão de poesia: “As cigarras derretiam a tarde com seus cantos”.
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