quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Howard Gardner: "Minhas teorias eram aplicadas de forma errada"

Por: Tory Oliveira 

O cientista das múltiplas inteligências afirma que suas teorias foram usadas para classificar inteligência com base em raça e etnia

No início dos anos 1980, uma teoria desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner alterou a forma como encaramos a inteligência, com repercussões importantes para a Psicologia e a Educação. Descrita em 1983 no livro Formas da Mente, a teoria das múltiplas inteligências desafiava a ideia segundo a qual só aqueles que dominavam o raciocínio lógico-matemático (medido por testes de QI) eram, de fato, “inteligentes”.
Gardner identificou oito diferentes tipos de inteligência, como a musical, a interpessoal e a linguística. A lista cresceu ao longo dos anos, com a adição, por exemplo, da inteligência pedagógica, isto é, a habilidade de ensinar. Hoje, aos 75 anos, o pesquisador da Universidade Harvard voltou sua atenção para outro campo de estudos: a ética, sobretudo entre os adolescentes.
NOVA ESCOLA: Como vê os impactos da sua teoria na educação após 35 anos?
HOWARD GARDNER: Essas ideias agora são conhecidas no mundo todo. No entanto, não é fácil determinar os efeitos porque não é possível realizar experimentos controlados, como comparar uma escola tradicional com outra que aplica a teoria das inteligências múltiplas, uma vez que há muitos fatores envolvidos que não podem ser medidos. Dito isso, tenho convicção de que a maioria dos educadores já está familiarizada com essas ideias e compreende a criança de forma diferente.
NE: Como um professor pode aplicar a ideia das múltiplas inteligências em seu dia a dia?
HG: De duas maneiras. A primeira é a individualização: aprender tanto quanto for possível sobre cada estudante, ensiná-lo de forma que ele possa aprender e avaliar cada um de maneira apropriada. Obviamente, é mais fácil fazer isso com 15 do que com 50 estudantes. Mas a individualização tornou-se muito mais fácil do que antes da existência de computadores. A outra é a pluralização: decida o que é realmente importante e ensine de maneiras diversas para ativar diferentes tipos de inteligência e atingir mais alunos.
NE: Como identificar as inteligências de seus alunos?
HG: Há muitos testes de múltiplas inteligências disponíveis online. Mas prefiro observar as crianças em diferentes contextos: no parquinho, no museu, em casa, em sala de aula. E assim determinar seus interesses, potenciais e suas fraquezas.
NE: O senhor disse ter perdido o interesse no tema das múltiplas inteligências e, nos últimos anos, dedicase a estudar a ética. O que ocasionou a mudança?
HG: A principal motivação foi observar como as minhas teorias eram aplicadas de forma errada, por exemplo, classificando as inteligências dos alunos com base na raça ou etnia deles. Assim, foquei-me em analisar como as ideias são usadas de maneira correta ou incorreta – e isso inevitavelmente envolve questões éticas e morais. O foco nos adolescentes nasceu de um estudo que mostrava que a juventude norte-americana aspirava a ser mais ética e educada, mas só depois de atingir o sucesso e a fama. Obviamente, já será tarde demais. É melhor colocá-los no caminho certo desde cedo.
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