Publicado originalmente no EdSurge e traduzido mediante permissão.
Em seu novo livro, o jornalista Paul Tough escreve
que os educadores que melhor desenvolvem habilidades
não-cognitivas – ou de caráter –, como determinação, em
estudantes dificilmente mencionam esses termos em sala de aula. Trata-se de uma
observação que chamou a atenção e conquistou admiradores como o colunista do jornal The New York
Times David Brooks.
Mas o que faltou
ser dito é como o sistema de educação atual trabalha de forma sistemática
contra o ensino de tais habilidades, e como poderíamos proporcionar
naturalmente o desenvolvimento de determinação nos estudantes – de maneira que
não se fale abertamente sobre isso – ao adotar um sistema de aprendizado
baseado em competências.
Leia mais:
– Guia
temático: Competências Socioemocionais do Porvir
– Horn no Transformar: ‘Ensino híbrido é o único jeito de transformar a educação’
– Horn no Transformar: ‘Ensino híbrido é o único jeito de transformar a educação’
No modelo atual, o
tempo é a constante e o aprendizado de cada estudante é a variável. Estudantes
avançam de conceito em conceito após dedicarem um número fixo de dias, semanas
ou meses em um tópico. Os educadores ensinam, às vezes aplicam provas, e levam
os estudantes para a próxima unidade, seja lá qual for o desempenho, esforço ou
entendimento da classe sobre o assunto. O retorno e os resultados são feitos
muito tarde, só depois que os alunos já tenham progredido.
O sistema também
envia ao estudante sinais confusos, dizendo que ele precisa avançar mesmo se
ainda estiver dedicado a algum assunto. Essa abordagem compromete o valor da determinação
assim como o desenvolvimento dehabilidades
não-cognitivas, como a autonomia e a curiosidade, por ignorar o
potencial de recompensar estudantes que passam mais tempo em um determinado assunto.
Isso também causa desmotivação, pois muitos estudantes ficam entediados quando
não trabalham em conceitos que parecem mais fáceis, ou os deixam para trás
quando não entendem o conhecimento base e ainda assim a aula continua. Como
consequência, são criadas lacunas em seu aprendizado.
Compare isso com um
modelo de aprendizado baseado em competências, em que o tempo se torna a
variável e aprendizagem é a constante. Os alunos só avançariam a partir do
momento em que demonstrassem claramente que dominam os conhecimentos e
habilidades. Se não, tudo bem. Eles continuam em uma tarefa, aprendem com os
erros, trabalham até demonstrar domínio e, então, seguem em frente.
Sem falar sobre
determinação e perseverança, o aprendizado baseado em competências incorpora a
construção dessas habilidades no seu projeto e na prática.
Mudar para um
ensino baseado em competências pode ter um outro benefício para melhorar nosso
entendimento sobre determinação e outras habilidades
não-cognitivas. Uma questão principal no setor atualmente é como
avaliar habilidades como determinação para ajudar estudantes a ampliá-las.
Alguns querem usar esses parâmetros para mostrar toda a qualidade de uma
escola. Mas isso é um risco.Angela Duckworth, professora de
psicologia da Universidade da Pensilvânia, que já escreveu muito
sobre determinação, alerta que “não estamos nem um pouco preparados – e talvez
nunca ficaremos – para usar demonstrações de personalidade como uma métrica
para avaliar a eficiência de professores e escolas”.
Entretanto, eu me
pergunto se em um sistema de aprendizado baseado em competências fomentado por
tecnologia nós poderíamos medir habilidades como determinação – sem uma
pesquisa ou prova específica – ao entender e gravar como estudantes gastam seu
tempo? Será que os dados de ferramentas digitais podem dar ideias do que
estudantes fazem quando falham? Eles estão depressivos? Continuam animados? Sua
reação varia dependendo do assunto? Eles se recuperam, voltam ao trabalho e
demonstram resiliência de verdade? Eles precisam de tempo e espaço – e
conseguem criar isso intencionalmente – antes de retomar? Ou apenas sentem
dificuldade de se reengajar? Como desenvolvem paixões – e como trabalhar em
áreas que não gostam afeta sua determinação?
E como as respostas
a essas questões mudam com o passar do tempo dependendo das circunstâncias –
muitas externas à escola – da vida dos estudantes? É possível ver evidências de
estudantes ampliando sua determinação – assim como sua autonomia e
autocontrole, curiosidade, otimismo e mais – não perguntando ou aplicando
prova, mas observando o que realmente fazem e onde gastam seu tempo? Assim como
o melhor jeito de incorporar determinação não é ensinando explicitamente, eu
suspeito que avaliá-lo também não o é.
Seria bom que
pesquisadores envolvidos em trabalhos de ponta sobre habilidades
não-cognitivas investiguem como um sistema de aprendizado
baseado em competências pode melhorar o que eles estão aprendendo sobre o que
precisamos fazer para transformar nossas escolas a ajudar estudantes a
construírem conhecimento, habilidades e disposição para atender todo o seu
potencial humano. Por exemplo, o que poderia uma Angela Duckworth aprender ao
estudar o comportamento de alunos em uma plataforma como a Khan Academy ou em
uma rede fechada de escolas como a AltSchool, que acompanha
atividades personalizadas e as reações a momentos de dificuldade?
Não teremos um mundo em que
desenvolveremos habilidades não-cognitivas de forma
sistemática e em escala a partir do momento em que continuamos travados em
nosso sistema educacional calendarizado. Estimular estudantes a perseverar e a
desenvolver suas paixões pessoais demanda um modelo diferente que encoraja e
recompensa quem assume riscos.
Michael Horn
Michael Horn fala e escreve sobre o futuro da educação e trabalha com um portfólio de organizações educacionais para melhorar a vida de cada um dos estudantes. Ele é cofundador do Clayton Christensen Institute for Disruptive Innovation e consultor da Entangled Solutions, que oferece serviços de inovação para instituições de ensino superior. Também é diretor do Education + Technology Fund.
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