"O futuro da América Latina realmente depende do que acontece em suas escolas."
Eric Hanushek, professor da Universidade de Stanford (EUA) e um dos mais respeitados acadêmicos especializados em Educação, é um dos autores do novo relatório internacional que mostra, mais uma vez, o enorme abismo entre os estudantes latino-americanos e os do leste asiático.
O ranking divulgado na quarta-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o mais amplo publicado até agora, compara o desempenho de estudantes em Matemática e Ciências em 76 países, com base nos testes internacionais, como o PISA.
Com o excelente desempenho de seus estudantes, Cingapura lidera o ranking, seguida por Hong Kong, Coreia do Sul, Japão e Taiwan.
O Brasil está na 60ª posição, atrás de outros latino-americanos como Chile, México e Costa Rica e um pouco melhor do que Argentina e Colômbia.
Mas o relatório vai mais além do ranking e vincula a educação em cada país ao futuro de sua economia.
Qual seria o crescimento econômico de países da região se seus estudantes alcançassem um nível básico de desempenho em Matemática e Ciências?
A seguir, cinco lições que o relatório ensina para os países latino-americanos:
1) A educação ruim faz mal à economia
O relatório diz que as falhas educacionais de um país cobram seu preço não apenas em oportunidades perdidas a milhões de adolescentes, mas também impacta a economia do país inteiro.
A conclusão é de que, se o Brasil proporcionar educação básica universal eficiente para todos os adolescentes de 15 anos, pode ajudar seu PIB a crescer mais de sete vezes nas próximas décadas.
E se todos os adolescentes do México cursassem o Ensino Médio e obtivessem um nível básico em Matemática e Ciências - ou seja, capacidade em raciocinar e resolver problemas com os conceitos aprendidos -, o PIB do país poderia ser 551% maior em 80 anos. O PIB da Argentina também cresceria 693% nessas condições.
"Claro que há considerável incerteza (nas projeções do PIB)", diz Hanushek à BBC Mundo. "Mas mesmo se reduzíssemos as projeções pela metade, veríamos que as mudanças em educação representam melhorias dramáticas no bem-estar de toda a população."
2) 'Educação de qualidade e petróleo não se misturam'
O exame PISA mostra uma relação negativa entre o dinheiro que os países ganham a partir de seus recursos naturais e as habilidades de seus estudantes.
"Em países com poucos recursos naturais, como Finlândia, Japão ou Cingapura, a educação é muito valorizada em parte porque toda a população entendeu que o país tem de ganhar a vida com o seu conhecimento - e este depende da educação", diz o estudo.
Qual o recado, então, para a Venezuela, rica em petróleo, e o Brasil, onde os royalties da exploração do pré-sal serão destinados à educação?
"No curto prazo, os países conseguem grande parte de sua renda com seus recursos naturais. Mas cada vez mais, à medida que o mundo se move em direção a economias baseadas em conhecimento, a renda e o desenvolvimento dependerão do que as pessoas sabem - o que chamamos de capital de conhecimento das nações", afirma Hanushek.
3) O que importa é a qualidade
Educação universal e obrigatória é apenas um primeiro passo: o crucial são as habilidades transmitidas aos alunos.
"Os estudantes da América Latina têm aprendido muito menos em cada ano escolar do que seus pares no leste da Ásia", afirma Hanushek. "Os latino-americanos passam muitos anos na escola, mas não aprendem nem de longe o que (aprendem) os estudantes de outros países."
Para o especialista, atualmente metade da população mundial é "analfabeta funcional" - já que até mesmo o conceito de alfabetização mudou.
Não basta saber ler e escrever, mas sim "ter capacidade de compreender e refletir criticamente sobre a informação, além de raciocinar com conceitos matemáticos e extrair conclusões baseadas em evidências."
Por onde começar? O fundamental é chegar primeiro ao nível básico de Matemática e Ciências como uma base para uma aprendizagem mais profunda e uma melhor habilidade de interagir com outros em nível de ideias e conceitos, segundo Hanushek.
4) A alta renda de um país não o protege da educação ruim
Cerca de 25% dos alunos de 15 anos dos EUA não completam com êxito o nível básico do PISA em Matemática e Ciências.
E a maior potência mundial está abaixo do Vietnã no ranking da OCDE.
A conclusão é de que o mais importante é a forma como os recursos são gastos.
Um dos fatores mais importantes é melhorar o nível e a habilidade dos professores, aponta Hanushek.
"As escolas devem reconhecer e premiar os professores mais eficientes e garantir que os menos eficientes recebam ajuda para melhorar. Ou desempenhem outras tarefas, nas quais não tenham uma influência negativa sobre crianças e adolescentes", opina o especialista.
O relatório cita o exemplo de sucesso do Brasil em melhorar, ainda que não em níveis suficientes, seu desempenho em Matemática, em parte por conta de iniciativas para melhorar o salário e a formação dos professores.
5: Valores são fundamentais
"Podemos aprender com os países que lideram o ranking", diz o relatório. "Eles parecem ter convencidos seus cidadãos a fazer escolhas que valorizam a educação acima das outras coisas."
Pais e avós chineses, por exemplo, costumam investir suas poupanças na educação de filhos e netos.
Outra ideia difundida em países de boa performance é que todas as crianças consigam alcançar um bom nível educacional.
Para Hanushek, "China e Cingapura ensinam que todas as crianças podem aprender, e não só as que vieram de lares privilegiados. E os pais devem se envolver na vida escolar de seus filhos."
Sobre a América Latina, Hanushek adverte que, sem melhorias na educação, a região estará cada vez mais distante do bem-estar econômico desfrutado por outros países.
"Mas se melhorarem seriamente suas escolas, podem ter benefícios econômicos sem precedentes. Não há alternativas. Se a América Latina quer competir e se desenvolver, tem de melhorar as habilidades de sua população."
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