Andre Ramal
G1
O resultado do Enem 2014 mostra que o ensino médio brasileiro segue estagnado. No resultado divulgado, caíram as médias da redação e da prova de matemática. Não é um resultado isolado, porque o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) vem mostrando a mesma coisa: neste segmento da educação básica, nunca conseguimos alcançar a média 4,0 sobre 10,0.
Além da queda na nota da redação, meio milhão de candidatos ficou com zero nessa prova. Um dos fatores que explicam isso é o provável número de analfabetos funcionais. São alunos que foram aprovados em anos anteriores e estão no final do ensino médio, mas não sabem ler um enunciado, explicar uma ideia, fazer um texto com encadeamento e lógica.
Os três últimos ministros de Educação, quando assumiram, anunciaram que a prioridade seria "reformar o ensino médio". Neste ano, Cid Gomes disse o mesmo. Mas há décadas as notas não mudam e o processo de aprendizagem também não. Vão-se os ministros, ficam os problemas.
Todos os indicadores convergem nesse sentido. O Pisa (prova internacional de competências) fornece um diagnóstico similar há anos, num ranking em que os alunos brasileiros ocupam o desonroso 58º lugar entre 65 países. A última Prova Brasil indicou que a cada dez alunos, nove terminam o ensino médio sem aprendizagem adequada em matemática.
O resultado disso é que, mesmo longe da nota ideal, milhares de alunos entrarão no ensino superior através do Enem e das políticas de inclusão – boas e oportunas, em si - mas infelizmente correm o risco de abandonar os estudos, sobretudo em carreiras que dependem de matemática ou exigem cálculos mais complexos.
Este último Enem é um sinal de alerta: não podemos mais adiar a reforma no sistema educacional. Caso contrário, a competitividade do país estará seriamente ameaçada. Não é de hoje que as empresas reclamam por não encontrar gente qualificada. O Brasil pode até voltar a crescer em função de medidas econômicas, mas tornar este crescimento de fato sustentável só será possível com educação pública de qualidade.
http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/1.html
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