terça-feira, 25 de novembro de 2014

Transtornos de aprendizagem: uma breve reflexão

Os problemas de aprendizagem são hoje uma das grandes preocupações da educação, uma vez que acarretam uma série de prejuízos para os alunos e afetam muitas vezes a participação deles na família e na escola. Muitas dificuldades no percurso de aprendizagem acontecem por eventos transitórios, como mudança de turma, problemas de saúde, troca de professor, falta de motivação, dentre outros motivos. Entretanto, há uma pequena parcela de alunos que apresenta dificuldades persistentes, de base genética, que acompanham o indivíduo ao longo não apenas do percurso escolar, mas durante toda sua vida. São esses os chamados transtornos de aprendizagem.
Os transtornos de aprendizagem são condições de base neurobiológica que afetam aproximadamente 5% da população e comprometem de forma específica e persistente o desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e/ou matemática.  Caracterizam-se por um substancial baixo desempenho na realização de tarefas que exijam habilidades leitoras, escritoras e/ou de matemática. O baixo desempenho é considerado inesperado, uma vez que o aluno possui inteligência na média ou acima dela e teve oportunidade de escolarização na idade adequada.
Os primeiros sinais dos transtornos de aprendizagem se manifestam desde o período pré-escolar, mas só podem ser confirmados quando a criança entra na educação formal e passa pela fase de alfabetização – em que geralmente apresenta uma evolução lenta e sofrida. No caso da dislexia, transtorno de aprendizagem específico da leitura e da escrita e um dos quadros de maior incidência, os principais sinais observados estão associados a erros de reconhecimento das palavras ao ler, troca de letras, leitura silabada, dificuldade acentuada na compreensão de textos, além de severos erros de ortografia, inversão de letras e/ou sílabas.
Habitualmente, pessoas com dislexia apresentam leitura e escrita com rendimento abaixo do esperado para a idade e a escolaridade. Assim, é importante estar atento ao impacto que o transtorno traz para a vida da criança ou do jovem, pois como essas habilidades são priorizadas na avaliação escolar, esses indivíduos geralmente se tornam mais vulneráveis pela recorrente experiência de fracasso. Acontece também de serem mal interpretados por não conseguirem acompanhar as atividades escolares no mesmo ritmo que seus colegas e, por isso, passam por situações de preconceito, bullying e são muitas vezes chamados de “preguiçosos” ou “burros”, o que afeta a autoestima, gera falta de confiança e ansiedade e, em casos extremos, leva à depressão.
Vale ressaltar que a intensidade dos sintomas varia de caso a caso e o prognóstico depende de diversos fatores facilitadores, como a precocidade do diagnóstico, a estimulação e a aceitação dos ambientes familiar e escolar. Os ajustes feitos no ambiente escolar devem ser pensados individualmente e revistos de tempos em tempos. Por isso, o diagnóstico cuidadoso dos transtornos de aprendizagem é considerado o ponto de partida para garantir que a criança e sua família tenham acesso a acompanhamentos mais adequados e eficientes, voltados para as prioridades do momento, e permite ainda a identificação e o entendimento mais precisos da natureza das dificuldades que elas apresentam, assim como das habilidades em potencial para a aprendizagem.
Recomenda-se que o diagnóstico dos transtornos de aprendizagem seja realizado por uma equipe multidisciplinar, composta por fonoaudiólogo, psicopedagogo, psicólogo e neuropediatra. Apesar das dificuldades escolares serem frequentes, para diferenciá-las de uma condição de transtorno, é preciso realizar uma série de avaliações cuidadosas, integradas aos dados da escola, que também devem ser considerados para fechamento do diagnóstico, uma vez que permitem melhor definição do perfil cognitivo do indivíduo, bem como a identificação precisa de seu estilo de aprendizagem, tipo e gravidade das dificuldades que o impactam.
Um diagnóstico benfeito torna mais eficaz o monitoramento escolar e o tratamento realizado por especialistas da saúde. Ao integrar os dados, estabelece-se um acompanhamento adequado, que torna possível minimizar os impactos emocionais dos transtornos e a defasagem escolar. Isso é possível, pois, ao traçar-se um plano de ação para lidar com as necessidades do aluno, pode-se ajudá-lo a contornar suas dificuldades e trazer à tona suas potencialidades.
Por serem complexos, os quadros de transtornos de aprendizagem merecem especial atenção. Contudo, a boa notícia é a de que os professores, como especialistas em aprendizagem, têm grandes condições de desempenharem importante papel no auxílio a esses alunos. Ao identificarem os diferentes perfis de aprendizagem e fazerem uso de estratégias de ensino variadas, que alcancem todos os alunos, dentre os quais os que têm transtornos de aprendizagem, promovem uma aprendizagem mais satisfatória e permitem que todos aprendam.
Autoras: Carolina Toledo Piza é psicóloga, neuropsicóloga, mestre em Ciências e coordenadora técnica do Instituto ABCD. Roselaine Pontes de Almeida é pedagoga, psicopedagoga, doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento e coordenadora técnica do Instituto ABCD. Site: www.institutoabcd.org.br
http://www.profissaomestre.com.br/index.php/artigos/inclusao/1052-transtornos-de-aprendizagem-uma-breve-reflexao

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