Escrito por Fábio Torres
“Aprender a ler e a escrever significa muito mais do que compreender o sistema de escrita alfabético. Significa produzir textos mesmo antes de saber escrever e, para isso, é preciso entender que a linguagem que se escreve se organiza a partir da intenção de comunicar algo a alguém”. A frase é de Elisangela Carolina Luciano, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Adirce Caveanha, em Mogi Guaçu (SP). Elisangela cita o verdadeiro significado da alfabetização como justificativa do projeto Alfabetização e Comunicação Visual, de sua autoria, que rendeu a ela o Prêmio Educadora do Ano de 2013, concedido pela Fundação Victor Civita.
Natural de Aguaí (SP), município de pouco mais de 32 mil habitantes, Elisangela trabalha com educação há 17 anos, dos quais foi professora de alfabetização durante 14 anos e coordenadora pedagógica nos outros três. Pelo fato de viver e trabalhar em cidades interioranas, Elisangela sempre se dedicou a trabalhar de forma sólida a alfabetização das crianças, o que a levou a criar o projeto Alfabetização e Comunicação Visual. “Um trabalho pautado por essa concepção só é possível se o processo de alfabetização acontecer em um contexto em que a leitura e a escrita tenham sentido e façam parte da vida do aluno”, ressalta. E acrescenta: “O projeto representa o esforço de desenvolver um trabalho em sala de aula que dialogasse com as práticas sociais reais, ao mesmo tempo em que assumisse a condição de comunidade de práticas produtoras de escritas que circulassem fora do universo escolar”, explica Elisangela.
Com uma turma de 23 alunos do 1º ano do ensino fundamental, na qual apenas três crianças eram alfabetizadas, a docente se dispôs a aliar as atividades em sala de aula com o cotidiano das crianças em Mogi Guaçu. “Busquei parcerias com os estabelecimentos comerciais instalados nas proximidades da escola e começamos a desenvolver em sala de aula atividades de leitura e escrita que pudessem ser inseridas em tais locais”, comenta. As atividades consistiram em resenhas de filmes infantis para a videolocadora, textos informativos para serem entregues aos clientes de uma barraquinha de cachorro-quente e placas do hortifrutigranjeiro, esclarece a professora, que enaltece o papel mais ativo das crianças no processo de alfabetização. “Ao unir o propósito didático com o social, foi possível desenvolver um trabalho em que os alunos foram protagonistas: visitaram o hortifrúti, anotaram os alimentos, pesquisaram sobre o valor nutricional, decidiram coletivamente o que seria escrito em cada placa, escreveram utilizando letras móveis, lápis, computador, revisaram as escritas de forma coletiva, digitaram as informações, revisaram novamente, levaram as placas para colocar nas barracas do hortifrúti”, relata.
Ao desenvolverem esse papel mais ativo na sociedade, as crianças melhoraram seu desempenho naturalmente e de maneira bastante rápida: em apenas seis meses (tempo de duração do projeto), elas estavam alfabetizadas. “Ao final do projeto, as crianças aprenderam a ler e a escrever alfabeticamente; a fazer uso do dicionário e da segmentação de palavras nas frases; a produzir textos orais com destino escrito, considerando as características do gênero (autorização); e a ter maior desenvoltura nas situações de leitura, buscando pistas no próprio texto, apoiando-se em seus conhecimentos sobre o conteúdo do texto e sobre o sistema de escrita”, conta a professora. “Além disso, as crianças se tornaram mais eficientes ao selecionarem informações relevantes de um texto lido”, completa.
Prêmio
Assim que o projeto ficou conhecido pelos outros professores da escola, Elisangela passou a receber sugestões para que se inscrevesse no Prêmio Educador Nota 10, promovido pela Fundação Victor Civita. O que a docente não imaginava é que seu projeto seria o grande vencedor da premiação, que reuniu cerca de três mil inscritos do País. “A premiação significou a oportunidade de ter a minha própria prática sendo submetida à análise de um grupo de especialistas da área e a confirmação de que o cuidado que eu sempre tive com o meu processo de formação tem me transformado em uma profissional atenta à sua realidade, dotada de uma dimensão reflexiva diante as questões educacionais e capaz de estar constantemente ressignificando a prática pedagógica”, diz a professora paulista, que promete continuar trabalhando para melhorar os índices de alfabetização na cidade. Ela ainda revela que irá mudar suas práticas para trazer novas metodologias de ensino para seus alunos. “Não é minha intenção manter o projeto da maneira como ele foi desenvolvido. Ele atendeu à necessidade de aprendizagem daquele grupo de alunos, pode ser aplicado com êxito em outras turmas, mas eu prefiro continuar buscando desenvolver novas práticas para que eu não me sinta um mero executor de estratégias educacionais moldadas e preestabelecidas”, afirma a professora.
http://www.profissaomestre.com.br/index.php/reportagens/superprofessor/999-alfabetizacao-ativa
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