segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A ciência busca a educação

Roberto Lent: a neurociência pode influenciar até a grade curricular

Marina Kuzuyabu e Fernanda Teixeira


Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, Roberto Lent explica como a neurociência brasileira está se aproximando da educação e os avanços que podem surgir dessa parceria




A neurociência tem uma série de contribuições a fazer na área educacional, mas raramente as descobertas científicas conseguem transcender os domínios dos laboratórios e chegar às salas de aula. Médico de formação, com uma carreira de mais de 15 anos dedicada à pesquisa científica, o neurocientista Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defende o estreitamento do diálogo entre a comunidade científica e os educadores. Segundo ele, muitos estudos que poderiam ser aproveitados pelos professores não o são ou por falta de conhecimento, ou de integração entre as áreas. Por isso, Lent lidera um movimento para começar a construir essas pontes, como explica na entrevista que segue. Entre outros assuntos, o especialista também fala sobre o TDAH e os erros de diagnósticos que têm levado crianças a serem desnecessariamente medicadas. “Para muitas, uma intervenção pedagógica resolveria”, declara.

No campo da pesquisa, a neurociên­cia tem uma série de contribuições a fazer na área da educação. Quais os desafios de fazer essa transposição do laboratório para a sala de aula?

O maior obstáculo é a falta de integração e o desconhecimento. Por exemplo: o professor e pesquisador Ivan Izquierdo, da PUC-RS, tem trabalhos da maior importância na área da memória. Mas não há uma integração entre o trabalho dele e a prática da educação. E o motivo é simplesmente porque o processo não foi conduzido para isso – e não porque não há intenção. A maioria dos contatos dele está na medicina, onde existe a busca por medicamentos que possam aprimorar a memória, o que teoricamente é possível. Isso levanta uma série de questões e algumas tangenciam a educação. Será que a gente pode usar medicamentos pró-memória para facilitar a aprendizagem das crianças, que é baseada na memória? Há toda uma questão ética a ser pensada também. Será que é correto usar um fármaco para uma criança aprender? Questionamentos desse tipo mostram que o trabalho do Ivan Izquierdo, que é do primeiro time internacional na área de memória, não conversa com a área de educação. Daí a ideia de uma rede de integração. Se o laboratório do Ivan Izquierdo fizer parte da rede e dessa rede fizerem parte também os gestores, pessoas multiplicadoras na área de educação, a gente pode, a partir daí, começar a construir a ponte, trabalho que vai demandar anos. O educador que está na sala de aula sabe de coisas que a gente ignora completamente. Deve haver conversa, não pode haver uma relação de superioridade. É isso que estamos querendo construir: uma rede inicialmente constituída por neurocientistas do Brasil que se proponham a conversar com gestores, professores, educadores de modo geral, para que daí possam vir sugestões, indicações, novas práticas.

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/210/a-ciencia-busca-a-educacao-327472-1.asp

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