Jennifer Adams apresentou experiência de Ottawa em palestra em SP.
Segundo ela, investimento no bem estar do aluno aumentou notas do Pisa.
Jennifer Adams, gestora escolar do Canadá (Foto: Ana Carolina Moreno/G1) |
A educadora Jennifer Adams, hoje diretora do maior distrito escolar de Ottawa, capital do Canadá, disse nesta terça-feira (9), em palestra em São Paulo, que, neste ano letivo, o objetivo dos professores sob seu comando é, além de ensinar o conteúdo do currículo, garantir que "todo aluno que passa pela porta do colégio sinta que pertence a sua escola". Jennifer é gestora de uma rede de escolas com cerca de 70 mil alunos e veio ao Brasil para contar sua experiência local na implantação de programas que desenvolvam as competências socioemocionais nos estudantes. Ela participou de um curso promovido pelo Instituto Ayrton Senna com gestores escolares e jornalistas brasileiros.
As competências socioemocionais são habilidades como saber trabalhar em equipe, conseguir manter a disciplina, controlar emoções, estar aberto à diversidade e ser criativo e inovador. Elas complementam outras competências necessárias aos estudantes, consideradas "cognitivas" pelos especialistas, como refletir, raciocionar, pensar abstratamente e resolver problemas. Mas, segundo estudos que ganharam força recentemente, o desenvolvimento das competências socioemocionais nas crianças fazem com que elas também tenham resultados melhores nas tarefas que exigem as competências cognitivas.
De acordo com Jennifer, desde 2009 a Província de Ontario, onde seu distrito está inserido, decidiu colocar entre suas missões promover o "bem estar" de todos os seus alunos. "Nós expandimos o papel da educação pública para promover o bem estar nos estudantes", explicou ela. "A qualidade da escola pública deve ser tal que todos os pais queiram seus filhos estudando lá."
Isso significa que os projetos pedagógicos dos distritos e das escolas não mais exigem que os alunos estejam bem apenas nos conteúdos de matemática, línguas ou biologia, ou seja,a parte cognitiva, mas também olhem para o bem estar físico e o bem estar psicoemocional de todos eles.
Jennifer conta que os resultados, desde então, se traduziram até no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para medir o aprendizado dos jovens de 15 anos em matemática, leitura e ciências. Atualmente, no quesito "excelência e equidade" –que representa a margem de pontuação entre os melhores e os piores alunos–, o Canadá é o terceiro melhor país no ranking, atrás da Coreia do Sul e da Finlândia.
"Nós tinhamos alcançado um 'platô' no Pisa [com resultados estagnados], e percebemos que só iríamos continuar melhorando se mudássemos algo", disse ela, ressaltando que "os alunos não vão para uma aula do ensino médio se o professor for apenas ler o que está escrito na lousa".
As aulas, então, passaram a ser preenchidas mais com tarefas, o professor passou a se ver menos como o entregador de conhecimento e mais como o mediador da interação, e os conhecimentos discutidos tinham menos ênfase apenas no conteúdo factual. "Por exemplo, para explicar o papel do Canadá na Segunda Guerra Mundial, o professor vai abordar menos fatos ou datas, coisas que qualquer um pode acessar facilmente, e vai falar mais sobre como os líderes canadenses mostraram resiliência no período", explicou.
Política intencional e explícita
A implantação de uma política que se preocupa com as competências socioemocionais dos alunos exige programas e tarefas desenhadas com esse objetivo, mas que também sejam bem explicadas, para que os estudantes entendam que é isso que se espera deles, explica a gestora canadense. A implantação das novas diretrizes, segundo ela, não foram definidas de cima para baixo, mas coletivamente.
A implantação de uma política que se preocupa com as competências socioemocionais dos alunos exige programas e tarefas desenhadas com esse objetivo, mas que também sejam bem explicadas, para que os estudantes entendam que é isso que se espera deles, explica a gestora canadense. A implantação das novas diretrizes, segundo ela, não foram definidas de cima para baixo, mas coletivamente.
Em conversa com os professores, a gestora diz que o distrito listou dez valores a serem ensinados aos alunos: integridade, empatia, senso de justiça, responsabilidade, valorização, respeito, aceitação, perservança, otimismo e cooperação. Depois, o distrito reuniu os alunos que já atuavam como líderes em suas turmas para entenderem onde em suas escolas eles enxergam esses valores. "Nós demos a eles câmeras de vídeos e pedimos que eles filmassem isso", disse ela.
Por fim, um plano foi elaborado para definir a base da nova política. São cinco pilares: resiliência, consciência global, colaboração, inovação/criatividade e automotivação orientada a objetivos. Ele então foi apresentado a conselhos compostos por educadores, funcionários das escolas e líderes comunitários e, de acordo com Jennifer, "uma mudança no rumo das competências socioemocionais faz sentido para as pessoas".
Ela explica, por exemplo, que os empresários e líderes das comunidades não esperam mais que a escola forme alunos que saibam ler ou fazer contas. "Isso não é suficiente, é preciso que eles saibam conseguir um emprego, manter esse emprego e se tornarem ótimos nele."
Para garantir que todos entendessem a importância dessa mudança, Jennifer diz que o boletim escolar passou a trazer os conceitos de avaliação subjetivos dessas competências na frente das notas das disciplinas tradicionais. A avaliação, segundo ela, também é inovadora. "Decidimos que os alunos fariam uma auto-avaliação", disse, afirmando que elas acontecerão com os estudantes de 12, 15 e 17 anos, para permitir uma análise sobre o avanço dos alunos durante os anos e quais foram as ações da escola que garantiram esse desenvolvimento.
Foco especial nos alunos mais vulneráveis
Apesar de a maioria das crianças canadenses frequentarem a escola pública ou financiada pelo governo do país, Jennifer explica que a realidade em Ottawa é muito diversa, principalmente motiva pelo grande número de imigrantes que chegam ao Canadá. Segundo ela, cerca de 23% dos alunos da sua rede falam outro idioma que não os dois oficiais do país (inglês e francês), e 11% dos estudantes têm algum tipo de necessidade especial.
Apesar de a maioria das crianças canadenses frequentarem a escola pública ou financiada pelo governo do país, Jennifer explica que a realidade em Ottawa é muito diversa, principalmente motiva pelo grande número de imigrantes que chegam ao Canadá. Segundo ela, cerca de 23% dos alunos da sua rede falam outro idioma que não os dois oficiais do país (inglês e francês), e 11% dos estudantes têm algum tipo de necessidade especial.
Por isso, as novas políticas também têm um foco especial em quatro grupos de maior vulnerabilidade: o dos alunos imigrantes, que ainda estão aprendendo o idioma local, os alunos com necessidades especiais, os alunos indígenas, e os alunos de famílias pobres.
Segundo Jennifer, as escolas que estão tendo mais dificuldade em garantir que esses grupos mantenham o mesmo nível de aprendizado recebem apoio de mentores que passam até três anos ajudando no treinamento de todos os professores dessas escolas, não apenas os que têm resultados piores. "Identificamos as escolas e os desafios que elas têm em atingir os níveis, e verificamos as estratégias de instruções de que essas crianças precisam para também serem bem sucedidas."
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