terça-feira, 19 de agosto de 2014

Boas práticas: Tradição inovadora

Escola aposta no uso da internet para atrair o interesse dos alunos e a participação dos pais


Cristina Casagrande

Em Gurupi (TO), município de cerca de 80 mil habitantes a 223 quilômetros de Palmas, a Escola Estadual Presidente Costa e Silva é modelo de administração aliada a boas práticas pedagógicas. Com 346 estudantes, em sua maioria de baixa renda, a escola aumentou 38% seu Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em dois anos, atingindo em 2009 a meta prevista para 2013: 5,1. 

Mas a unidade nem sempre foi modelo. Em 2006, o índice de evasão dos alunos era de 22% e as faltas, frequentes. Diante desse quadro, a equipe gestora, funcionários, professores, alunos e pais se mobilizaram para melhorar o ensino. A partir de um processo de comunicação e planejamento constante, a unidade incentivou a participação dos pais, utilizou a tecnologia para atrair o interesse dos alunos, acompanhou de perto a frequência e valorizou a formação docente e a dedicação exclusiva dos professores à escola.

Para a professora de língua portuguesa Joana D'Arc Maluf, o equilíbrio entre a tradição e inovação foram essenciais para o avanço da escola. "Nós temos bem definidos os papéis de gestores e educadores. Os alunos sabem que podem contar com o professor como um guia, como ocorre em qualquer instituição organizada. Por outro lado, buscamos ser criativos nas atividades, nos materiais e na infraestrutura da escola", explica.

No quadro de professores da unidade, 90% possuem alguma especialização e os que ainda não têm estão em início de carreira. O número de profissionais também mudou. Há cinco anos, havia 35 professores na escola que, hoje, conta com apenas 12 docentes. Isso porque todos os professores agora têm dedicação exclusiva à instituição. A dificuldade de realizar reuniões e conselhos com professores que lecionavam em várias escolas foi tema de debates e reflexão na unidade. Foi definido um horário semanal, no período noturno, para o planejamento, acompanhamento e avaliação das ações e, gradativamente, os professores foram ajustando seus horários para participar desses encontros e concentrando seu trabalho naquela unidade. 

"O número de aulas dos professores é o mesmo das outras escolas, mas garantimos a carga horária máxima a todos eles, por serem exclusivos da escola", explica Adriana. "Não oferecemos nenhum incentivo específico para que os professores concentrassem suas aulas nesta escola, mas sempre buscamos proporcionar a assessoria pedagógica necessária ao professor, diálogo e boas condições de trabalho como forma de reconhecimento." A diretora acredita ainda que quando os professores se dedicam apenas a uma escola, podem conhecer melhor os alunos e trabalhar de forma mais individualizada com eles. Além disso, a escola, que já atendeu à educação infantil e à alfabetização de adultos, decidiu focar-se nas aulas de 6o a 9o ano, para poder se dedicar mais a esses alunos. "Esse certamente foi um dos fatores de sucesso de gestão", diz Adriana.

Para controlar as faltas e a evasão escolar a unidade utiliza a tecnologia. As chamadas são feitas com um notebook, que é monitorado pela administração da unidade. Quando algum aluno falta, imediatamente a escola entra em contato com os pais pelo telefone. Se a falta ocorrer três vezes consecutivas, as famílias recebem visitas de algum funcionário da escola para saber o motivo e, quando possível, ajudar a família a resolver o problema.

Escola tecnológica
Para combater as faltas e a alta taxa de evasão, a coordenação da Costa e Silva foi buscar as razões da baixa frequência dos alunos e encontrou na curiosidade pela internet parte do desinteresse pelas aulas tradicionais. Foi então que a unidade decidiu lutar por uma oportunidade de ser uma das escolas piloto do projeto Um Computador por Aluno (UCA), do governo federal. E conseguiu. A escola ganhou 350 laptops, uma para cada aluno.

Segundo o coordenador do UCA, Claudonei das Neves, que assumiu o projeto desde seu início, em 2009, sua implantação foi realizada em conjunto com toda a  equipe. Juntos, tomaram a decisão de manter os computadores na própria escola, devido ao modelo de salas ambiente implantado. Os laptops ficam guardados nos armários das salas e cada aluno tem um login e senha para usar os computadores.

Na central do UCA, há 60 computadores disponíveis para os alunos usarem em horários fora das aulas, dependendo de seu desempenho escolar. "Há uma série de atividades que permitem que os alunos usem a internet, como tirar boas notas, ter um bom desempenho nas gincanas culturais, atividades sociais, entre outras", afirma a diretora Adriana. "Alguns chegaram a ganhar o direito de usar até oito horas de internet, de forma fragmentada ao logo do mês. Essa medida foi crucial para a erradicação da evasão em nossa escola e as faltas também diminuíram bastante", conta Claudonei. 

Para envolver toda a comunidade, muitas vezes os alunos levam os laptops para casa e ensinam seus pais, promovendo a inclusão digital também da família. Os computadores podem ser levados conforme agendamento e planejamento específico das aulas, e apenas se os pais autorizarem. Há ainda um projeto da escola em parceria com a Universidade Federal do Tocantins, que deve ter início em abril, para propiciar sinal de internet em todos os bairros de Gurupi, pois poucos alunos têm acesso à rede em casa. "Isso vai facilitar muito alguns trabalhos propostos", afirma o coordenador.

Participação
Segundo a professora Joana D'Arc, as áreas da instituição dialogam bastante entre si, o que colabora para o crescimento da escola. "Aqui não temos uma equipe gestora que se preocupa apenas com a parte administrativa e financeira, a diretoria está a par do pedagógico e do aprendizado também. Estamos interligados", ressalta.

Toda quarta-feira à noite os coordenadores e professores ficam à disposição nas escolas para atender os pais, orientá-los e conhecê-los. Para incentivar a participação, ao frequentar a escola, as famílias concorrem a prêmios de material escolar.

Após quatro conselhos de classe anuais, são realizadas orientações pedagógicas, em que os pais podem observar, por meio de gráficos, os resultados alcançados no decorrer do ano letivo. 

A escola ainda realiza anualmente uma gincana cultural, que conta com competições sociais, artísticas e esportivas. Algumas provas ocorrem de forma pontual em horários previamente agendados e outras duram todo o ano letivo como a disputa das turmas que têm maior frequência às aulas e melhor rendimento escolar. 

Gestão
A inovação reflete o contato com diferentes experiências em programas de gestão escolar pelas quais a unidade passou. De 2007 a 2011, a Costa e Silva participou do Projeto Liderança nas Escolas (Connecting Classrooms), uma parceria entre o Conselho Britânico e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), que busca fortalecer a gestão escolar. Nesse projeto, a diretora era instigada a refletir sobre sua postura na unidade.  

"Uma das ações mais interessantes do projeto foi estar presente como diretora na sala de aula. Eu observava as aulas e fazia relatórios analisando o ensino, mas com cuidado para que isso não caracterizasse uma fiscalização, sem retorno para o docente, pois não era esse o objetivo", ressalta Adriana. "Observo a aula e, logo em seguida, converso com o professor. É importante mostrar as fragilidades, mas também apontar caminhos, elogiar e realçar seus pontos positivos. O chão da sala de aula é de fato um termômetro para a gestão da escola."

Administrar melhor o tempo foi outra ação importante estimulada na troca com o Conselho Britânico. Recentemente, a escola passou a formar salas ambiente, em que são os alunos que trocam de sala a cada disciplina e lá encontram materiais e decoração específica para aquela matéria. "Descobrimos que as aulas duplas de uma mesma matéria rendem muito mais do que uma hora-aula apenas. Mas o aproveitamento depende, também, do planejamento do professor", diz. 

Considerada exemplo de administração, a Escola Estadual Presidente Costa e Silva ganhou o primeiro lugar do Prêmio Gestão Escolar 2011. Além de um intercâmbio da diretora para os Estados Unidos, a escola recebeu R$ 30 mil para investir na unidade. Durante a viagem, Adriana percebeu que as escolas norte-americanas usam cada vez mais a tecnologia em favor de sua comunicação interna. Com base nisso, ela voltou com a ideia de colocar na Costa e Silva uma televisão no pátio para mostrar os trabalhos dos alunos. Com o dinheiro, a equipe gestora vai implantar câmeras de segurança ao redor da escola e adquirir mais projetores e bebedouros para as salas de aula, devido ao forte calor em Gurupi.
http://revistaescolapublica.uol.com.br/textos/26/tradicao-inovadora-257974-1.asp

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