sexta-feira, 25 de julho de 2014

A genialidade das crianças

Estudos em neurociências mostram que nascemos com mais capacidades do que se pensava. E são essas habilidades inatas que nos permitem adquirir conhecimentos e nos tornam exímios aprendizes na infância.
Por: Vera Rita da Costa
Numerosos estudos apontam que bebês já possuem um entendimento primitivo das leis
básicas da física, sobretudo aquelas relacionadas ao movimento. (foto: Simona Balint/ Free Images)
Um dos grandes benefícios que as neurociências estão trazendo para a educação, principalmente para a educação na infância, é uma revisão da ideia de que o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem ocorrem em uma progressão ou em escala ascendente, em que estágios sucessivos e interdependentes são galgados passo a passo, como blocos de habilidades que se adquirem, se sobrepõem e se completam uns aos outros sucessivamente. 
De maneira um tanto quanto diferente disso, o que se tem sugerido, com base nos resultados de pesquisas dessa nova superárea do conhecimento, é a ideia de que nascemos com mais capacidades inatas do que se imaginava. 
Muitas habilidades, segundo os defensores dessa nova linha de interpretação do desenvolvimento cognitivo, já estariam disponíveis para nós ao nascermos. Entre elas, aquelas que justamente nos habilitam a adquirir conhecimentos e nos tornam exímios aprendizes na infância.
Dia após dia, acumulam-se evidências de pesquisa de que as crianças são mais capazes do que supomos
Já abordamos esse tema aqui em outra oportunidade, mas o que nos traz de volta a ele é outro aspecto importante da questão: até que ponto, apegados a modelos ultrapassados do desenvolvimento e desconhecendo o potencial real de nossas crianças, não estaríamos subestimando a capacidade de nossos alunos?  
É claro que ainda não há respostas estabelecidas para essa pergunta. Aliás, ela, junto com a interrogação sobre quais são as habilidades cognitivas com que nascemos e como fazer melhor uso delas, compõe a fronteira das pesquisas atuais dessa área. No entanto, com base em resultados de variados estudos, já é possível ‘arriscar’ uma resposta – e os ‘palpites’, nesse caso, indicam a direção do ‘sim’. 
Dia após dia, acumulam-se evidências de pesquisa de que as crianças são mais capazes do que supomos. E de que nossos currículos escolares, bem como nossas metodologias de ensino, precisam ser revistos, acompanhando os novos conhecimentos e a nova compreensão que se vem adquirindo sobre o desenvolvimento cognitivo.

Piaget revisitado

Se você é professor, sobretudo da educação infantil e das primeiras séries do ensino fundamental, conhece bem a realidade de que estamos falando. 
Em ciências naturais, o currículo, ou o que ensinamos a nossas crianças, costuma ser definido com base nos temas que o professor domina, julga importante ou considera ser do interesse dos alunos. E é claro que nessa escolha também pesam as ideias que o professor tem sobre aprendizagem e ciência de modo geral. 
Conceitos científicos tidos como complexos ou difíceis, por exemplo, costumam ficar de fora da educação infantil e das séries iniciais do fundamental, pois considera-se que as crianças não são capazes de aprendê-los. Melhor deixar os conceitos e questões considerados difíceis para as séries finais do ensino fundamental ou, ainda, para o ensino médio, quando os alunos ‘entrarão no estágio operacional formal’ e saberão lidar melhor com conceitos abstratos. 
Isso é o que reza a desatualizada e mal interpretada ‘cartilha piagetiana’ a que estamos apegados, apesar das recomendações contidas nas diretrizes curriculares nacionais que sugerem que não limitemos as escolhas temáticas a serem abordadas com as crianças.
Praticamente todo o conteúdo de física, química e geociências fica ausente do currículo de ciências no início da aprendizagem – relegado apenas ao ensino médio, quando se acredita que as crianças estarão mais ‘maduras’ para aprendê-lo
O resultado é que praticamente todo o conteúdo de física, química e geociências fica ausente do currículo de ciências no início da aprendizagem – relegado apenas ao ensino médio, quando se acredita que as crianças estarão mais ‘maduras’ para aprendê-lo. Com isso, o ensino de ciências naturais, de forma geral, fica restrito à aquisição de umas poucas e repetitivas noções de biologia e saúde – as mais elementares possíveis – para “não sobrecarregar as crianças”. 
Um exemplo? Aborda-se muito o corpo humano, hábitos de higiene e preservação ambiental. Mas, o que dizer do universo e de suas leis físicas? Você acha que são comuns currículos das séries iniciais que se dedicam a esses temas?
Certamente as crianças se interessariam por saber por que as coisas se movem, o que é a luz ou como o calor se transfere de um objeto para outro. Mas, sobretudo na visão dos professores e segundo o paradigma ainda reinante em nosso meio, esses temas envolveriam questões e conceitos muito complexos para serem abordados com elas. Melhor deixar pra lá!

Luz no fim do túnel

Na contramão dessa nossa tendência, no entanto, estudos têm demonstrado que mesmo bebês podem lidar (e lidam, independentemente de nossa intenção em relação a isso) com conceitos abstratos e complexos. Tudo depende da forma como estes lhes são apresentados.
Entre esses estudos, encontram-se os que vêm sendo desenvolvidos pelas equipes das psicólogas do desenvolvimento Elizabeth Spelke, da Universidade Harvard (EUA), eAlison Gopnik, da Universidade da Califórnia, em Bekerley (EUA) – e que podem agora, graças à internet, ser mais bem conhecidos por nós. 
Para continuar lendo e assistir uma conferência de Alison Gopnik, acesse: 

http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/2014/07/a-genialidade-das-criancas

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