Os poetas sofrem. E derrubam no papel toda a amargura de existir, toda a dor que sentem e a beleza ferida que vêem nas coisas. Poetas, de certa forma, são megalomaníacos com as palavras: têm o mundo inteiro na ponta da caneta. Mas um deles tinha o mundo inteiro embaixo dos pés.
Manoel de Barros, o poeta dos vazios, das garças, dos tuiuiús, o poeta que também é Bernardo, completa nesta quinta, 19 de dezembro de 2013, 97 anos.
Um pouco mais velho, foi estudar em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. A partir de então, o poeta não voltou mais a morar em sua cidade de nascimento. Em documentário gravado nos anos 90, o poeta brinca falando que não volta para Cuiabá por conta do calor.
Depois desta infância que hoje virou lenda, não se sabe com certeza tudo o que Manoel de Barros fez ou deixou de fazer. Nos seus poemas, temos um que descreve com sinceridade quase fingida a personalidade do poeta: “90% do que digo é invenção. Só 10% é mentira”.
O fato é que Manoel, entre andanças e calmarias, procurava algo: Algo que sempre teve, sua voz de poeta. Em discurso de aceitação de um prêmio em nome de Manoel, seu irmão, Abílio de Barros, disse que o poeta não fez nada na vida. Sua profissão é ser poeta em tempo integral. “Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo”, escreveu Manoel em um de seus poemas.
Atualmente, Manoel ainda mora em Campo Grande com a mulher, Stella. Recebe visitas diárias do irmão Abílio, mas não dá mais entrevistas ou fala com pessoas que não sejam da família. E recluso em sua casa com seu legado lírico, um dos maiores do país, Manoel completa 97 anos.
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
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